17 - Gerard

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 Desliguei o telefone, sentindo-me aturdido. Eu havia tido uma noite péssima, regada de um sexo não muito interessante com Justin, um pouco de bebida, enquanto ele dormia, e memórias péssimas daquela visita ao hospital. Quanto a bebida, eu havia ingerido o suficiente para que eu pudesse manter relações sexuais normais com Justin, pois eu precisava de uma distração. Quanto ao sexo, eu já havia respondido a questão, mas fazia parte de uma vingança interna pelo o que eu havia presenciado na sala de espera daquele hospital e que ainda atormentava minha cabeça.

Vamos àquela ligação recém recebida, antes de qualquer coisa, a que me fez largar o celular e colocar meus pensamentos um pouco em ordem. Havia surgido uma ideia louca de... Bem, colocarem alguns easter eggs da continuação das primeiras HQs dos Killjoys no filme. De início, eu estava mais do que empolgado com a ideia, achando interessante colocar alguns elementos escondidos na trama, de histórias futuras, e tudo mais... Até sugerirem a presença do Party Poison.

Exatamente. O personagem de cabelos vermelhos, atitude badass e líder dos Killjoys, que envolvia-se amorosamente com Fun Ghoul e que, ironicamente, era baseado em mim, desde que eu havia cometido o capricho de colocar-me na história acompanhado de Frank para atingi-lo.

E foi bastante clara a ideia que me tomou, ao que eu recebi aquela ligação e sugeriram a presença do personagem no filme (que já estava praticamente finalizado e partindo para os efeitos especiais). E pediram para que eu pensasse a respeito de atuar no filme. Que droga. Sim, atuar... Eu, que não tinha experiência alguma, atuando como o tal Party Poison. O que esses roteiristas tinham na cabeça?! Eu não tinha a menor noção de como agir diante de câmeras em uma entrevista, quanto mais sabendo que eu iria para as telas de cinema?! Eu me sentia nervoso só de cogitar a ideia.

Eu havia acordado e me jogaram aquela bomba repentina em meu colo, me fazendo estagnar, largado em minha cama, o olhar fixo no teto de meu quarto, tentando colocar toda a situação em ordem na minha cabeça. Não me parecia algo plausível, eu poderia arruinar tudo, mesmo que meu personagem aparecesse em uma ou duas cenas e eu... Para falar a verdade, eu era um tanto quanto tímido.

Falar para o público, fazer entrevistas, interagir... Era completamente diferente de ter a minha cara numa tela enorme, interpretando outra pessoa... Embora Party Poison tenha bastante de mim em suas atitudes... Mas... Ainda sim. Eu precisava decidir até o fim da semana e eu tinha tanta coisa acontecendo na minha vida ao mesmo tempo, que cada segundo pensando se eu deveria atuar em um filme, mesmo que importante para a minha carreira, me pareceu inútil.

Eu tinha Frank.

E isso era um problema dos grandes, mais difícil de se lidar do que minha timidez diante das telas. Ele e todo... Tudo aquilo... Aquela dúvida que ele plantava dentro de mim a cada vez que eu o via, a cada vez que eu tentava interagir com ele e recebia um "não" como resposta, logo seguido de um "sim". Eu não sabia mais o que ele queria... E eu era a única pessoa ao nosso redor que sabia exatamente tudo a seu respeito.

Confusão, dor, desejo, confusão novamente... Era tudo o que eu enxergava nele, além de ter quase certeza de que me escondia algo mais profundo do que eu imaginava e que originava aqueles comportamentos disformes e, algumas vezes, agressivos. Tentei... Tentei muito, tentei ao máximo na noite anterior... Ataquei mais ferozmente, quebrei a distância entre nossos corpos e fui audacioso. Foi arriscado, surtiu efeito e... Me fez tomar um chute nas bolas, ao mesmo tempo, quando ele disse com todas as palavras que eu não conseguiria tê-lo de volta. Mesmo que possa ter sido no calor do momento, aquilo mexeu comigo e ainda me deixava abalado, retesado e entristecido. Frank não podia tirar e me dar esperanças quando bem quisesse, por mais que... O abraço...

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora