- Richard quis vir comigo, mas achei melhor vir sozinho... Então peguei um táxi sem avisar à ninguém. Aliás, sua mãe sabe... Mas consegui convencê-la de que é melhor ficar em casa, ela ainda está emocionalmente abalada. – Encarei meu pai com aquela dor habitual me definhando um pouco por dentro, enquanto eu basicamente me encolhia contra a cadeira do salão principal, onde nós dois estávamos reunidos naquela conversa há poucos minutos. Novamente, eu havia sido liberado para receber visitas, porém, dessa vez, por ter mais de um mês de estadia naquela instituição.
Os dias pareciam mais animados, devo confessar... As crises estavam lá, não dissipando-se por completo, mas sendo facilmente controladas pelos remédios que tomava todas as noites. Era bom poder acordar e iniciar um novo dia com um pouco mais de motivação, contar os dias que faltavam para que eu pudesse ligar para Gerard ou meus pais, por ter permissão de fazê-lo toda sexta-feira, e me aprofundar um pouco nas tarefas que me eram estipuladas pelos orientadores.
Talvez eu estivesse me tornando um paciente modelo, ajudando aos mais novos e os estimulando a escreverem, lerem e se expressarem artisticamente sempre que via alguma situação de risco. Já havia criado uma breve amizade com duas adolescentes estranhas, que pareciam conhecer minha banda de nome, e casualmente me faziam pegar um dos violões na "sala de música" para que pudéssemos fazer versões idiotas de músicas famosas, transformando-as em paródias ridículas sobre rehab.
Não era como se eu estivesse vivendo em um mundo lindo e colorido, mas desde que Gerard havia me visitado, eu decidi transformar a minha estadia ali em algo melhor do que só me focar nas crises desesperadoras e sem hora para chegar. Ás vezes a melancolia vinha, eu precisava me trancar em meu quarto, antes que os pensamentos mais pesados e autodestrutivos aparecessem, mas ainda sim... Eu via progresso.
E era por isso que eu havia aceitado a visita de meu pai, quando me ligou, no início da semana, perguntando se eu já me sentia melhor e capaz de receber sua visita. Eu estava envergonhado, claro, me sentindo a decepção da família, mas parte daquilo mudou, quando então o vi e recebi aquele abraço firme e caloroso, ao contrário da bronca que esperava. Mas também não me surpreendi, quando sentamos naquela mesa, tomando dois grandes copos de café servidos por uma das serventes, ao que meu pai quis saber exatamente dos mínimos detalhes de como eu havia parado ali.
Não o privei de nada, nem mesmo de mencionar minha prisão, o que foi um tanto quanto aterrorizante para ele. Acreditei que meu pai fosse se mandar dali, mas ele apenas respirou fundo, buscando claramente, dentro de si, toda a força que minha mãe tinha e o havia ensinado a ter. Por mais que ela fosse a chorona, a que gritava o tempo inteiro, era meu pai quem desabava da pior forma. E eu podia ver, ainda que não deixasse claro, que ele estava deteriorado por dentro.
Mais uma vez, eu me senti um merda e sequer conseguia disfarçar isso, ao evitar olhar para o Frank mais velho, ao que dedilhava o copo de plástico com o café, exalando algo próximo à decepção... E ainda por cima comigo mesmo, que sempre me preocupava em ser bom para os outros e que havia falhado ridiculamente nisso.
- Frank, meu filho... Eu sei exatamente no que está pensando e eu não quero que acredite nisso. Você está aqui, está melhorando e eu posso ver todo o seu esforço... Você sempre foi esse menino que corria, e ainda corre, atrás de tudo... E que quer sempre o melhor para os outros... Mas você precisa focar os seus objetivos mais em você. Não faz mal ser um pouco egoísta... E eu sei que deve ter doído pra você deixar Gerard e seus amigos em outro estado, mas é do que você precisa. – Ele se inclinou sobre a mesa, apoiando os cotovelos sobre tal e eu o fitei pela primeira vez naquela tarde, com maior atenção. Percebi seus olhos amendoados ainda mais preocupados, mas Frank-pai possuía aquela expressão tão semelhante à minha, quando queria confortar alguém... O sorriso ameno, as sobrancelhas ligeiramente arqueadas, em uma expectativa ansiosa. – Eu não vou te dar um sermão de horas ou abrir minha boca para te deixar pra baixo. Não foi assim que eu e sua mãe o criamos... E vai ser com todo o apoio que sempre lhe demos, que eu vou lhe dizer: você consegue superar isso, filho. Melhor do que ninguém. Deve ser difícil, eu me preocupei quando soube de tudo, achei que não fosse suportar, mas, ao mesmo tempo em que sei exatamente o tipo de educação que lhe dei, eu tenho que reconhecer que você mudou desde que saiu da nossa casa. E não de forma ruim... Você está se tornando um homem de verdade, Frank.
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Surrender The Night || Frerard version
Fanfiction[Continuação de Burn Bright] " O amor nunca acaba. Não quando é real e nós dois sabemos o quanto foi. Nós vivemos, nós crescemos, nós morremos e ele continua ali, firme e forte. Vivo, incandescente e vibrando, mandando aquele incessante "É ele, é e...