O jovem Iero posicionou-se no fim daquela linha formada por mais de duas dúzias de rapazes, todos por volta dos seus vinte e alguns mal vividos anos, os ombros alinhados, o corpo firmado no chão como uma estátua. Aquele seria uma boa posição, pensou, caso lhe fizessem uma estátua com suas devidas condecorações, se sobrevivesse àquilo. Aliás, se sobrevivesse à Donald.
Respirou fundo, ajeitando os cabelos, empurrando os fios acastanhados para trás, sentindo falta do cap, que havia perdido no deck do navio. De toda forma, não era necessário, as ordens expressas do comandante e do tenente coronel giravam em torno de se agrupar imediatamente na sala de armas, para que um grupo selecionado fosse enviado para um conflito insurgente no sul do Vietnã em um dos aviões estacionados no pátio da embarcação.
Seu olhar gostaria de passar pelo rosto impassível de cada um dos companheiros de missão, a fim de tentar desvendar qual iria vacilar primeiro, qual pediria para voltar para casa ou abriria o berreiro, como Wentz havia feito na semana anterior. Quis, mas seu olhar deveria mostrar interesse para a parede onde o armamento era exposto, as metralhadoras e automáticas fixas à suportes na parede, logo abaixo de compartimentos metálicos, semelhantes à armários de escritório, onde caixas de granadas eram guardadas. Não tinha muito o que fazer, a não ser esperar pela entrada do tenente coronel e do comandante, então decidiu contar as peças que estava em seu campo de visão, sentindo-se tolo, mas menos tenso do que o rapaz ao seu lado.
Williams parecia tremer como uma vara verde e Frank havia tentado, por vezes seguidas, fazer com que parasse (pigarreou, o fitou de soslaio, o xingou mentalmente...), mas não obteve muito sucesso. Assim, continuou com a contagem, tentando deixar a mente limpa, mas, como sempre, algo em si era guiado para o principal fator de pânico nos últimos dias. Não, não era a guerra... Era um homem, Donald Way e toda a sua insolência implacável. Nada do que havia tentado resultava efeito em afastá-lo, em deixar claro que sequer queria manter a amizade de antes com o rapaz, Frank precisava de novas armas.
Talvez uma daquelas poderia causar o efeito desejado... Era uma pena que não houvesse nenhum silenciador por perto.
- Soldado Iero. – a menção de seu sobrenome quase o fez saltar do lugar, mas, comportando-se como o pseudo-bom soldado que era, Frank apenas desviou os olhos castanhos para o outro extremo do salão, só então se dando conta de que os dois homens haviam entrado. Sequer se lembrava de ter feito "sentido" ou o que quer que chamavam aquilo (vale lembrar que Frank não levava nada daquilo tão à sério com algo mais assustador que metralhadoras em seu encalço), mas pela expressão plácida do tenente coronel Jones, parecia tudo certo. A não ser pelo simples fato de ter sido convocado.
Frank quis dar alguns passos, pegar a prancheta da mão do homem e quebra-la na cabeça do velho cadavérico que se achava dono de cada um daqueles homens (o que em prática, ele era... realmente em prática, veja só), mas seu olhar instintivamente parecia ter um imã que o conectava àquele ser humano desprezível que, desde que havia colocado os pés naquele porta-aviões, havia feito com que ele adorasse partir para o Vietnã de vez, por lá ficasse, até que tivesse apoio da embaixada para voltar. O plano era terrível, mas não mais do que receber aquele par de olhos esverdeados o perseguindo o tempo inteiro.
Não era diferente naquele momento, quando podia sentir que o Primeiro-Tenente Way estava fervilhando por dentro com aquele anúncio. Também não era fácil de adivinhar que iria se opor àquilo. Frank remotamente se perguntava como Donald se safava de tantos desvios que fazia para mantê-lo ali, sob seus olhos, mas, ao julgar pelo olhar cúmplice que Jones e Way trocaram, compreendeu imediatamente que havia outra barganha ali. Não que acreditasse que Way fosse capaz de manter relações com o velhote (ele era bem específico em seus gostos e Frank sabia muito bem que englobava rapazes esguios, de cabelos castanhos que pareciam nunca estarem penteados, olhos castanhos insolentes e um sorriso sarcástico que o tirava do sério... Ou seja, Donald só tinha um tipo e era aquele Frank Iero), mas sabia muito bem que uma boa quantia em dinheiro o salvava periodicamente.
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Surrender The Night || Frerard version
Fanfiction[Continuação de Burn Bright] " O amor nunca acaba. Não quando é real e nós dois sabemos o quanto foi. Nós vivemos, nós crescemos, nós morremos e ele continua ali, firme e forte. Vivo, incandescente e vibrando, mandando aquele incessante "É ele, é e...