55 - Frank

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Meus olhos não conseguiam vagar pelo caminho que o táxi traçava, cortando o trajeto através de ultrapassagens desnecessárias, mas que haviam sido motivadas pelo escândalo que eu havia feito ao entrar ali. O motivo pelo qual eu não conseguia me focar eram as lágrimas densas que eram derramadas em total exagero e compulsão, em algo que eu não conseguia controlar. Como quando eu havia feito todo aquela cena ridícula e deplorável diante de Gerard no bar e no estacionamento... Algo que eu havia eleito como o fim de tudo. Eu não mais iria lhe trazer problemas, aquele era o ponto final.

Não, eu não estava disposto a terminar com tudo, a deixá-lo sozinho e na merda. Eu estava ciente de que quanto mais eu ficasse ao seu lado, coisas horríveis iriam acontecer... Ele passaria por tudo o que não mais merecia passar e eu iria lhe trazer mais dor de cabeça. E dentro dos meus pensamentos motivados pela droga, a melhor forma de salvá-lo e fazer o mesmo por mim, era me limpar... Me livrar de tudo de uma vez.

E eu sei, eu sei que todos os atos daquela noite provavam o contrário, que eu estava me entregando novamente... E não era mentira. Eu havia feito a maior estupidez dos últimos tempos quando saí daquele ônibus, pronto para ir atrás de Gerard e dos outros, checar o meu namorado, sabendo que Bert havia chamado seus amigos atirados para beberem alguma coisa no bar... Tudo levava a crer que ele iria me acalmar com alguns beijos e sussurros, quando eu avistei aquele grupo, em um extremo do estacionamento... Bem, fazendo o que eu sabia muito bem o que eu imaginava que faziam.

Foi ainda mais fácil roubar algumas notas da mochila de Gerard, a que estava junto à minha sobre a cama que dividíamos no ônibus, para comprar uma boa dose daquilo. O tempo que passei desde aquele pequeno furto, até o consumo da droga, escondido dentro daquele ônibus, era um espaço em branco para mim. Eu não conseguia lembrar de absolutamente nada, até a ida ao bar, a cena que eu havia feito e tudo aquilo que havia me trazido àquele táxi, encolhido no banco de trás e chorando ininterruptamente, com uma série de medos que eu não estava nem um pouco interessado em enumerar. Afinal, não era necessário bater na mesma tecla.

Acertar Gerard havia sido o cúmulo para mim. Enquanto eu me lembrava apenas de gritar com ele, empurrá-lo e querer livrá-lo de todo o problema, eu sequer conseguia recordar de como meu punho havia lhe acertado... Muito menos da força usada para machucar seu nariz afiladinho. Eu quis morrer ao ver ensanguentado por minha causa, por meu surto psicótico, mas o real motivo pelo qual eu havia enganado Bert e Bob nada tinha a ver com algum ato suicida da minha parte. Eu só... Só queria ficar longe, sozinho, resolver meus problemas, qualquer coisa... Ir para qualquer lugar onde Gerard não pudesse mais sofrer fisicamente e emocionalmente com o meu problema.

Então, assim que adentrei aquele táxi, no meio da avenida, praticamente me lançando sobre este, eu não me importei em pedir para que retornasse a New York. Eu tinha dinheiro o suficiente, fruto daquele pequeno furto, para voltar para casa... Ou... Bem, fazer um caminho diferente. Vale lembrar que eu sequer estava me controlando, que eu só conseguia resmungar o caminho para o motorista, de forma quase soluçada, com a preocupação apenas de chegarmos rápido aonde eu tanto desejava. E eu não poderia ter escolhido lugar pior para o destino final daquela noite.

Novamente busquei vagar a rua com meus olhos, abraçando meu próprio corpo, de forma impulsiva, quando aquela sensação desenfreada passou a me preocupar novamente... Os calafrios, a dor no peito, a certeza de que eu estava fazendo outra grande besteira e que, dessa vez, não havia ninguém para me impedir. E, em minha futura sobriedade, eu gostaria mesmo de saber de onde eu tirava todas aquelas atitudes tão impulsivas e desastrosas de uma só vez.

Não havia como colocar somente as drogas como desculpa, mas parte do que estava para acontecer, surtia da minha necessidade em explodir, em colocar a culpa em alguém. E eu sabia exatamente quem era o melhor alvo para aquilo e não havia sido a toa que eu havia guiado aquele taxista ao local que estávamos. O carro vagarosamente parou, ironicamente de acordo com a minha respiração, cada vez mais fraca e não passando de um suspiro, quando o homem indicou nosso destino, perguntando-me se estava tudo bem.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora