59 - Frank

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- Eu não consegui enxergar antes, mas tudo fez bastante sentido... Não era possível que alguém que gostasse tanto de mim fizesse todo aquele tipo de coisa, acho que demoramos até demais para perceber. Estava tudo sempre bem na nossa cara! – exclamei, em um tagarelar ainda um tanto quanto fanho, devido aquele choro recente. O pesadelo havia me abalado, me deixado sem forças para colocar meus pensamentos, mas eu havia tido tempo o suficiente, até me entediar, até pontuar cada fato recente em minha cabeça, sentindo o sono se afastar e a necessidade de falar me fazer entreabrir os lábios e deixar que a enxurrada de palavras ecoassem por todo o veículo. – Todas as coisas... E eu aqui achando que ele queria ficar comigo basicamente tentando me matar e foder com a minha vida o tempo todo. Ele gostava de você! Do meu Gerard! Isso é completamente absurdo! – a minha voz cada vez se tornava mais alta, fazendo com que Sparkie resmungasse, irritada, espreguiçando-se em meu colo. Prontamente ignorei sua manha, voltando-me para Gerard, logo ao meu lado, em seu silêncio que me fazia falar mais. Afinal, em algum momento, eu iria incomodá-lo ainda mais, ao ponto de fazê-lo abrir a boca para alguma coisa. Nem que fosse para me mandar fechar a minha. – Ele estava gritando o tempo todo, lá na... Cadeia... – fiz a primeira pausa longa daquele meu discurso, sentindo meu corpo se arrepiar com a memória recente, até retornar aos meus pensamentos habituais, franzindo meu nariz e encolhendo-me um pouco contra o banco do carro, encarando a estrada deserta bem diante de mim. Era noite, estava parcialmente escuro, alguns carros poucas vezes nos ultrapassavam em velocidade alta, enquanto Gerard mantinha a calma durante todo o trajeto... E sobre eu perguntar para onde iríamos: veja bem, eu havia tentado e muito. Mas tudo o que consegui havia sido um resmungo, quando Mikey me empurrou para o banco de carona, fechou o cinto sobre o meu corpo e se despediu de mim, em poucas palavras, como se eu fosse um assassino em série ou algo bem assustador assim. Não o julguei, muito menos me irritei com Gerard, que só reforçou que iríamos para longe da cidade grande... E, voltando para o assunto, especificando toda a minha curiosidade para saber nosso destino final, eu passei a expor meu desconforto com toda aquela "surpresa" em um contínuo falar. – Ele gritava que eu iria pagar por ter você... Vezes e vezes seguidas. Foi mais assustador do que estar propriamente preso. – Gerard resmungou nesse ponto, torcendo os lábios em uma careta, os dedos esbranquiçados ainda mais da cor da folha de um papel, quando provavelmente deixava bem específico que odiava qualquer menção a respeito da minha prisão. Mesmo assim, continuei. – Então eu pensei em tudo... Comecei a ligar os fatos, tudo o que ele havia me dito... E como... Como ele pareceu enlouquecer quando voltamos. E... Aparecer no hospital, quando você teve aquela crise séria em New Jersey... Ele estava perdendo a força, desistindo de atuar, desistindo de fingir que era apaixonado por mim, enquanto... Ele... Adam é louco por você. Falar isso em voz alta soa ainda mais assustador, como em um filme de terror... – o pesadelo voltou à minha memória e eu já estava exausto de ir e vir em pensamentos ruins, quando Gerard soltou qualquer ruído, algo semelhante à concordância. E qualquer barulho que fizesse era arrebatador para mim... Afinal, me dava mais energia para fazê-lo desembuchar qualquer coisa. – Eu sempre te disse que você era lindo demais e que todos tinham olhos só pra você... Parece que não me enganei, não é mesmo... Até Adam quis você, Gerard Way é mesmo irre...

- Frank, pelo amor de Deus, cale essa boca. Antes que eu bata com o carro contra a primeira árvore que eu ver na minha frente. – a voz dele era arrastada, denotando uma concentração fora do habitual, ao mesmo tempo em que uma de suas mãos se desconectava do volante e era direcionada até o rádio, onde havia conectado seu Ipod como sempre, que obviamente tratou de acionar. Aquele era um sinal claro de que eu deveria calar a minha boca... Mais evidente, impossível... Mais grosseiro, também impossível... Mas quem disse que eu me calei? Gerard estava pedindo por mais, pelo meu desespero e receio em palavras (calar a boca não era uma das melhores opções para um Frank Iero com estresse pós-traumático em dobro), quando aquela balada pop demais para o meu gosto ecoou por todo o carro.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora