24 - Frank

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Não parecia certo passar os três últimos dias trancado em meu apartamento, sobrevivendo com o estoque de comida quase nulo que eu havia comprado há duas semanas, mas eu o fiz. Ainda o fazia.

Tudo o que me cabia fazer era encarar a TV ligada há quase dois dias seguidos, acabar com o meu estoque de maço de cigarros e drogas e viver como um vegetal, criando raízes naquele sofá. O apartamento ainda não era tão familiar a mim e me parecia uma cópia barata do loft de Gerard, o que me desmotivava a explorar cômodos os outros que não fossem a sala e o banheiro. Ir para a cozinha fazia parte de uma batalha, esta que eu ainda não estava obstinado em tentar enfrentar, mas ainda tinha preguiça em fazê-lo. Esquecer aquela noite... Aquela noite... Eu ainda era incapaz de caracterizá-la ao certo. Aliás, eu não queria, pois eu tinha medo de descobrir que eu havia errado em mandar Gerard partir naquele momento tão... Único? Especial?

Exatamente isso. Antes de qualquer coisa, eu não podia deixar de pensar o quão excepcionalmente satisfeito eu me encontrava. Okay, satisfeito não, porém aliviado ao extremo. A cada segundo em que eu me via lembrando de cada singularidade daquele momento, eu precisava fazer uma força extrema para me lembrar de respirar e não cair duro naquele sofá, ao mesmo tempo em que outra coisa igualmente dura me fazia lembrar da noite em que eu havia perdido.

Quer dizer, ambos haviam o feito. Os dois haviam sido fracos e as marcas em meu corpo demonstravam isso muito bem. Eu sentia falta daqueles roxos em meu pescoço, tanto quanto sentia falta de permitir que Gerard me invadisse com tudo. E essa era a parte mais irônica de toda a situação: reviver toda a minha passividade havia me feito mais homem do que eu era antes. Pois é.

Havia devolvido algo dentro de mim que eu havia me privado de sentir: a sede de amar e me entregar a outro homem. Não como nas noites em que eu bancava o menino rebelde e fodia caras por foder... Era além, pois se tratava de mim mesmo. E eu me lembrei que amar Gerard e me entregar a ele não significavam apenas a minha submissão, mas sim a certeza de que eu era alguém mais completo e feliz em ser satisfeito daquela forma. E mesmo com a minha cabeça plantando dúvidas em mim a respeito de tal, eu tinha plenitude extrema em afirmar, com cada vez mais clareza, que quanto mais eu procurasse outro alguém, mais ele iria me mostrar que ele era o único... O homem que fazia com que eu me entregasse cem por cento. Como eu me entreguei naquele camarim simples e mergulhei em algo que nunca havia sentido antes. Nem mesmo com ele.

Não havia denominação. Eu passei os três últimos dias procurando respostas, para não encontrar nada que descrevesse o revirar que eu sentia em meu estômago, o arrepio que vagava por mim e como tudo duplicava, triplicava, quando eu me lembrava do quão perfeitamente ele sabia me completar, me tocar, me envolver dos pés a cabeça. Com palavras, com apertos na cintura... Com tudo. Eu descobri algo novo, quando meus olhos se abriram, naquela noite, e eu pude ver um Gerard com o sorriso mais lindo do mundo plantado nos lábios finos, enquanto ia e vinha dentro de mim, exercendo todo o poder que detinha.

E eu estava em estado de pânico. O medo de surtar era tão grande quanto de reviver tudo aquilo que ocorreu antes. Eu não consegui despregar da minha mente cada detalhe específico. Cada toque mais bruto ou sutil, que arrepiava meu corpo por inteiro, me deixava sensível e mais entregue, o que era basicamente impossível, mas real... Algo que só provinha de Gerard e a forma específica com que sabia me desarmar e me fazer curvar diante dos meus desejos. Naquela noite, eu não me curvei literalmente, pois eu ainda tinha um pouco de dignidade, eu havia cedido, mas eu não iria ser completamente fraco e imune aos meus ideais. Eu havia dito que não iria ceder, mas eu era incapaz... Eu não sabia ao certo o que havia dado em mim... Aliás, eu sabia e, voltando aos detalhes, cada um dele constituía a resposta certa para os meus questionamentos.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora