- Ele vai ser liberado agora? – Alicia perguntou, timidamente, Daisy esparramada em seus braços, com a expressão mais sonolenta do mundo, enquanto eu ficava ali, naquela sala de espera, sentado na cadeira ao lado das minhas duas meninas, sem qualquer reação. Aliás, apenas com uma, a expressão nervosa voltada para a porta da sala, que levava ao grande corredor onde ficavam os quartos daquele hospital. Esperando, assim como as duas, mas muito próximo de me levantar a buscar Gerard pelos cabelos e perguntar se estava tudo perfeitamente bem. – Mikey?
- O médico estava... Fazendo uma revisão dos exames dele, pra ver o grau da infecção... Sabe como são esses estudos de caso. – Gesticulei com uma das mãos, antes de levar essa para o bolso do casaco que usava, retirando dali meu celular, apenas para verificar o horário. Já passava do meio dia, eu estava faminto, sabia que Gerard também e que toda aquela demora me deixava ainda mais esfomeado em decorrência do nervosismo.
Eu deveria estar acostumado com salas de hospitais, naquele ponto de minha vida, mas eu ainda franziria meu cenho e faria uma careta sob aquelas luzes tão claras e o amontoado de pessoas que transitavam para lá e para cá. O local era todo branco e azul e eu realmente estava saturado daquela cor, tanto quanto do cheiro forte, uma mistura de álcool, éter e produto de limpeza... E café. Talvez o café fosse a melhor coisa dali, talvez eu tivesse tomado uns seis copinhos da máquina ao meu lado, colada à parede... Talvez aquilo não estivesse saciando meu cansaço, que drenava a motivação das minhas veias.
Eram duas semanas de hospitais, estadias na casa de meu irmão, noites nem sempre bem dormidas e ter que assisti-lo comer e correr para o banheiro, para mandar tudo direto para o esgoto, por nitidamente não aguentar nem uma maldita sopa de ervilha. Ray e eu revezávamos entre visitas no hospital e estadia no loft dele, já que Gerard não era do tipo que se cuidava por conta própria... Ele precisava de alguém puxando a orelha dele, insistindo, se não Gerard ficaria ainda pior.
Desde que e Bert o socorremos, no dia em que Frank se mandou para se internar naquela clínica, Gerard não havia passado mais de dois dias sem não ir ao médico. Não que ele tenha passado mal exatamente todos esses dias, a questão era: assim que chegamos à Nova Iorque e o médico dos Way, o mesmo que havia cuidado de minha mãe, havia decidido que Gerard precisava fazer aqueles testes, ele não havia parado em casa. Inicialmente, não eram mais do que exames e troca de medicação... O que quer que estivesse atacando Gerard, estava um tanto quanto desregular... Causando crises e, por algumas vezes, se acalmando, até voltar com tudo, naquele ciclo vicioso nada interessante para meu irmão.
Gerard estava completamente descompassado e, principalmente, desgovernado. Ele precisava de um pouco de guia, o que eu e Ray tentávamos fazer, mas nem sempre resultava em total paz. Não me importava em passar horas e mais horas revendo Star Trek com ele, ou tentando ensiná-lo a cozinhar alguma coisa saudável... Ou assistindo-o paparicar Daisy, quando eu a levava para nossas visitas, por longas horas, o suficiente para me causar ciúmes e querer tirar minha filha dali, ás vezes ela parecia gostar mais do tido do que de mim... Enfim. Não me importava com nenhuma dessas coisas. Nada era demais quando se tratava de Gerard, mas haviam outros fatores, outras coisas que eu enxergava muito bem e tentava engolir de bom grado. Sem muito sucesso, claro.
O pior de tudo não era vê-lo vomitando ou entrar em desespero, achando que poderia ter a mesma coisa que nossa mãe... Aliás, era, pois Gerard virava algo irreconhecível. Não só irritadiço, mas que parecia ter uns nuances não muito agradáveis de depressão... Aquilo não provinha só da doença, que provavelmente se alastrava dentro dele de forma nem um pouco agradável, mas de Frank. Pois eu não era burro para não entender que a vontade de Gerard em passar todos os dias largado na cama, sem fazer nada, era decorrente da falta que sentia daquela criatura pequena.
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Surrender The Night || Frerard version
Fanfiction[Continuação de Burn Bright] " O amor nunca acaba. Não quando é real e nós dois sabemos o quanto foi. Nós vivemos, nós crescemos, nós morremos e ele continua ali, firme e forte. Vivo, incandescente e vibrando, mandando aquele incessante "É ele, é e...