34 - Três anos atrás

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- Você e meu irmão vão morrer de câncer. – Mikey, o amigo quase mórbido e de comentários sempre desnecessários, deixou sua voz propagar-se um tanto quanto alta, assustando o amigo pequeno. Frank tossiu desesperadamente, ainda largado naquele banco do enorme pátio da faculdade, a cabeça deitada sobre a mochila e o cigarro rente aos lábios, enquanto a visão que tinha do céu nublado era ocupada por Mikey, ao que o amigo tampou sua bela vista com o rosto esquelético e os óculos quase despencando da ponta do nariz. – Estou dizendo, acho que você acaba com um maço por dia facilmente.

- Deixe de ser dramático. Meu avô fumou por anos e ele só morreu por complicações de uma pneumonia. E eu vou ter uma morte gloriosa, anote só. – Frank disse, gesticulando um tanto, ainda mantendo-se largado ali, enquanto o amigo resmungava e contornava o banco, sentando-se ao lado de seus pés, o que foi uma provocação clara para o abusado Frank, que aproveitou para colocá-los sobre a mochila no colo do amigo.

- Você anda cada vez mais abusado e estranho, fica andando com aquele cara bizarro... – Mikey retrucou, olhando ao seu redor e sentindo-se irritado com a quantidade de alunos que transitavam para lá e para cá, barulhentos e irritantes, gritando e rindo, como se a vida fosse perfeita. Frank sabia que parte do mau humor do amigo não era só ciúmes por saber que Bert e ele viviam mais grudados do que nunca, mas por Alicia não ter aparecido até então, o que deixava o Way mais novo cada vez mais próximo do título da "mulher da relação". – E não me venha com...

- Você precisa dar uma chance para o Bert, Mikey! Ele é um cara legal... Meio drogado, mas um cara legal. Ele só está tentando se ajeitar na vida e acho que um amigo chato como você seria uma boa ideia, nós deveríamos mesmo sair mais vezes. – Frank tentou novamente, não custava nada, mas sabia que Mikey era fechado e implicava com McCracken sem motivo algum. Talvez fosse aquele ciúme bobo, mas Frank gostava de insistir por simplesmente saber que talvez os dois fossem se dar bem um com o outro... E, claro, por serem seus melhores amigos.

- E você por um acaso foi a algum dos encontros que eu marquei entre você e o meu irmão? Acho que não. E estou bem com meia dúzia de amigos normais. – Mikey fingiu todo aquele ar mais intelectual, ajeitando os óculos que deslizavam pelo seu nariz, enquanto recebiam olhares curiosos de algumas pessoas que ali passavam e avistavam o baixinho folgado e fumante conversar com o magrelo irritado, aleatoriamente discutindo no meio do pátio cheio, destoando de toda a exagerada felicidade ao redor de ambos. Era sempre assim, até mesmo na faculdade eles pareciam não se encaixar com os demais loucos. A loucura dos dois era completamente diferente das maluquices da realidade. – Você não deveria estar naquela aula que você fez questão de pegar sem mim só porque estava cansado de olhar para o meu magnífico rosto?

- Pois é, parece que o professor ainda não veio, ou qualquer merda do gênero, então sou obrigado a ver o seu "magnífico rosto" por mais tempo. E não comece com essa história do seu irmão, ele dá mais bolo em você, do que eu já dei bolo nele. – Frank levantou-se em um salto, o cigarro encaixado entre os lábios e uma das mãos puxando a mochila para junto de si, colocando-a em seu colo, enquanto Mikey resmungava algo, como sempre reclamando do mundo, das moléculas, do ar... De qualquer coisa. Porém, Iero conhecia Way muito bem... O convívio diário já o havia feito perceber que aquela irritação era fora do normal. Então, não custava perguntar. Afinal de contas, no fundo, ele sabia que Mikey queria que lhe perguntassem aquilo para poder desabafar. – O que você tem hoje? Eu sei que não é só porque Alicia está atrasada e ainda não deu as caras por aqui.

E seria mais fácil do que Frank sequer havia pensado.

- Meu irmão cismou que quer casar com uma loira controladora e paranoica, e que provavelmente é o ser humano mais abominável do mundo. – Mikey puxou o celular do bolso frontal da calça, irritado com toda a humanidade e até mesmo os possíveis extraterrestes vizinhos de nosso planeta, em um drama que definitivamente havia aprendido com o amigo pequeno, que o olhava com ambas as sobrancelhas arqueadas, surpreso com o real motivo de tudo aquilo. Ué, não era para Mikey estar feliz? Era um possível sinal de que seu irmão estranho estaria se tornando normal, foi o que Frank subitamente pensou. – E ele quer conversar comigo sobre o assunto, me pedir opinião, já que eu pedi Alicia em noivado mês passado, etc, etc... Escolher alianças e todas aquelas formalidades inúteis pra alguém que ele claramente não merece. Não consigo entender como o Gerard não consegue enxergar isso! Ou, aliás, se faz de cego!

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora