Meus dedos remexiam o bolso frontal da calça que vestia, impacientemente, sentindo o peito ser massacrado por batimentos não tão bem vindos e uma camada fina de suor percorrendo minha testa, enquanto eu tentava me concentrar no que via na enorme tela diante de mim. Pedi desculpas, algumas vezes, à Gerard, por minha mão sempre suada se desatando a dele para limpá-la em minha calça e voltar a agarrá-lo, cheio de necessidade.
Eu precisava... Eu precisava esquecer que meu corpo queria aquela droga.
Não ali, não naquele instante. Eu não precisava daquilo em meu sistema, não precisava. Me focar em Gerard, em seu filme, era o que eu deveria fazer... E ele era fantástico, eu não tinha do que reclamar, eu conseguia me focar em algumas cenas, mas das vezes em que me dispersava, era por sentir a garganta secar e o absurdo temor de Gerard reparar em mim, em meu surto tomando por meu corpo. Por ele, eu me foquei naquela história tão conhecida por mim.
Era exatamente como a primeira parte da saga de HQs dele. Pouco havia sido alterado, pelo o que consegui identificar durante aquela crise, mas expresso pelo sorriso satisfeito dele, quase aliviado. Afinal, toda a indústria cinematográfica andava tendo problemas com adaptações e aquela estava fantástica demais para que alguém reclamasse. Por algumas vezes, sorri, ri, me emocionei e me entreguei àquilo, ainda que a mão estivesse firme dentro do bolso de minha calça, tocando o saquinho que havia escondido ali.
Eu sei.
Eu sei!
Foi totalmente estúpido da minha parte levar aquilo para o evento dele, para o momento dele. Mas eu estava em abstinência... Aliás, abstinência era muito pouco.
Desde aquela manhã, com ele, eu precisei me encher de café por horas e evitar ao máximo adentrar o quarto no andar superior do meu loft, ao lado do meu, onde eu havia escondido todo o estoque de drogas comprado. Eu não o havia renovado desde que Bert havia notado a grande quantidade adquirida por mim na semana retrasada. E eu estava o consumindo aos poucos, até que acabasse, para não ter mais a necessidade de comprar... Eu estava me domesticando a doses pequenas, até tornarem-se nulas e eu não precisar mais daquilo... Mas não estava obtendo resultado, o que era claro.
Colocar aquilo em meu bolso, mais cedo, havia sido uma decisão terrível e que havia me deixado com um imediato peso na consciência assim que o vi. E da mesma forma que eu me via obcecado em largar aquilo em algum lugar, eu não conseguia soltá-lo... Ou simplesmente tirar os olhos dele. Eu tinha dois vícios, dois grandes vícios... E eu só podia me entregar a um por vez. Mas o primeiro, o ruim, estava vencendo... Ele estava se sobrepondo ao amor de Gerard e eu não conseguia admitir isso. As necessidades neurológicas de consumir aquilo estavam acabando comigo.
- Está tudo bem? – Claro que ele perceberia... Apertando meus dedos, cuidadosamente se curvando para que seu nariz roçasse no topo da minha cabeça, enquanto eu me encolhia naquela poltrona e envolvia seu braço com ambos os meus, deixando o saquinho em meu bolso de lado. – Você está gelado... – E tocou-me a mão com mais delicadeza, dedilhando-me, conforme sussurrava, todo cuidadoso, para que somente eu escutasse.
- É um mal estar bobo, Gerd... Eu vou ficar bem. – Menti. E como eu odiava mentir sobre aquilo, enquanto eu desejava gritar para ele que eu precisava de toda a ajuda do mundo. Que eu queria que ele me tirasse dali e queimasse tudo o que eu escondia no meu apartamento... E gritasse, me sacudisse e mandasse que eu parasse com aquilo. Mas eu não tinha forças, a decepção que ele sentiria era tanta, então eu me esforcei para manter-me firme, ainda mais por ser aquele dia em especial. Não iria estragar tudo para ele.
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Surrender The Night || Frerard version
Fanfiction[Continuação de Burn Bright] " O amor nunca acaba. Não quando é real e nós dois sabemos o quanto foi. Nós vivemos, nós crescemos, nós morremos e ele continua ali, firme e forte. Vivo, incandescente e vibrando, mandando aquele incessante "É ele, é e...