Eu sei, eu sei. Eu havia prometido a Gerard que aquela música em especial só seria mostrada em uma situação mais íntima. Porém... Aquela era a tal situação, ainda que estivéssemos cercados de centenas de pessoas, sem precipitação de minha parte. Depois daquela noite cheia de altos, mais do que baixos, não havia porquê não me arriscar um pouco mais. Eu já havia desistido de tentar escapar, então era isso. Eu estava tentando.
Cada hora do meu dia estava se tornando algo diferente, algo repleto de sentimentos, ainda que a maioria destes se tratasse mais do que um puro receio de nosso amor não ser o que era antes... E esse era outro dos principais motivos pelo qual eu era teimoso e já não suportava mais viver imerso naquela dúvida. Tudo ainda era fresco, bem recente, mas havia muito pouco do ódio que eu guardava em mim anteriormente... E, analisando melhor, havia semanas que aquele sentimento não me atormentava e não me fazia um homem ruim, viciado, obcecado em vê-lo mal. E que, na realidade, era puro fruto do meu desespero a respeito de tanta solidão.
Eu não estava mais sozinho, nós dois estávamos caminhando lado a lado vagarosamente... Eu estava o ganhando de volta, deixando-o entrar com tanto cuidado, que eu não me alarmei, era naquela velocidade branda que eu me apegava e deixava um pouco meu pessimismo de lado. Desde a música dele (que havia se tornado um viral e o ápice de... Bom, de Frerard, segundo o nosso público e da mídia, que enchia as redes sociais com nossas imagens juntos, até mesmo as da noite anterior... Nós dois, de mãos dadas, sorrisos e beijos roubados... Eu falecia, só de lembrar), Gerard havia feito meu falso moralismo se dissipar e a minha coragem falar mais alto.
Era certo o fato de que eu precisava me curar. Que seria difícil de esconder dele, que eu estava arriscando demais, de que eu teria que dar um jeito, até que eu tivesse forças e estivesse limpo por completo para afirmar tudo aquilo que eu passei. Indiretamente, eu faria de Gerard a minha ajuda, pois eu o julguei por tanto tempo para, ao fim, me tornar o medroso da história. O que importava era que eu estava puro há dois dias e, para alguém que tinha um bom estoque de cocaína escondido dentro de casa, aquilo era grande. Só me bastava ser esperto o suficiente para dar fim àquilo tudo sem que ele percebesse e que me matasse por ser um asno. Por fim, eu andava evitando pensar nisso, afinal, eu tinha preocupações que colocava em frente a tudo, como quando peguei a minha guitarra, naquela noite.
Hope estava em minhas mãos, firme entre meus dedos tatuados, ao que me posicionei ali, diante de toda aquela plateia, em uma grande casas de shows no Brooklyn. Eu mantinha parte de um ar imponente, parte de uma timidez que estava me matando, desde que dedilhei os primeiros acordes da introdução do show e adentrei sob aqueles fortes holofotes que só faltavam me cegar. Meu sonho todo estava ali, tudo estava... Eu não queria mesmo pensar, não queria ficar colocando dificuldade em tudo que estava se encaixando. Já chega.
Tecnicamente, eu não tinha problema algum em fazer aquilo, em tocar... Como quando jogava Burn Bright na cara dele durante todo tempo como um animal acuado e ferido. Mas era ainda mais difícil quando eu não tinha aquele pózinho branco em meu sistema para me ajudar a falar de sentimentos tão descaradamente e sabendo que ele estava ali... Bem ali, não mais se escondendo de mim ou de todo o público. Parado, na lateral direita do palco, não mais camuflado na plateia, onde o identifiquei apenas na segunda música, quando precisei olhar para Mikey e o encontrei escondido, meio que discutindo com o irmão, meio que rindo, do jeito tão típico com que os dois se comunicavam. Algo sobre Gerard ter se atrasado era clamado por meu amigo, enquanto eu ria e apenas anunciava em meu microfone, fingindo meu tom implicante, apenas para manter aquele falso teatrinho de sempre, um breve "Ora, se não temos Gerard Way mais uma vez conosco? Meninas, aprendam a ser uma groupie com ele."que o fez gargalhar e colocar a cabeça um pouco mais para fora, em direção ao palco, aparecendo, como eu sabia que queria aparecer, enquanto o público gritava seu nome e o meu Way ficava completamente sem graça. Ele queria se mostrar presente e eu não fiz questão de o repudiar, quando pisquei, rindo baixo contra o microfone e emendava a próxima música, com o olhar cravado nele, notando que os lábios bonitos dele se moviam em um pedido de desculpas pela demora em chegar até ali.
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Surrender The Night || Frerard version
Fanfiction[Continuação de Burn Bright] " O amor nunca acaba. Não quando é real e nós dois sabemos o quanto foi. Nós vivemos, nós crescemos, nós morremos e ele continua ali, firme e forte. Vivo, incandescente e vibrando, mandando aquele incessante "É ele, é e...