6 - Mikey

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Teimosia.

É essa droga que me persegue desde o dia em que eu cresci e reparei que meu irmão era o exemplo concreto disso. Aliás, Gerard ia além. Ele deveria ser a origem da palavra, de tão teimosamente burro que ele era. E eu me pergunto: como aguento isso por quase vinte e três anos? Essa é a questão mais importante do universo, mais importante até do que o dilema que vivo a respeito do quanto minha futura esposa conseguia ficar cada vez maior com aquela criatura que chamamos vulgarmente de bebê/filho dentro de sua barriga.

Mas não vamos falar do meu amorzinho. Não agora.

Temos que falar do mais complicado casal gay da história mundial. Em como aquelas bichinhas complicadas estavam lidando com o seu suposto fim e como essa merda afeta a minha tão bela vida.

E sim, suposto. Eu não era burro, a humanidade também não era, para perceber que eles iriam voltar mais cedo ou mais tarde. Amor de verdade não morre tão fácil assim e eu não entendo muito bem de homossexuais, desde que meu irmão nem ao menos sabia ser viado direito, mas eu acreditava que sim. E eu estava certo boa parte do tempo, então pode-se dizer que, naquele instante, eu era o dono da verdade. Ao menos a respeito daqueles dois. Você simplesmente não pode deixar de amar uma pessoa da noite para o dia, ainda mais da forma óbvia como essas duas criaturas esquisitas se amavam. E ainda se amam.

Isso é digno de um bom capítulo longo e dramático de uma novela mexicana.

Não vou divagar sobre o passado, pois essa merda andava se tornando algo que me irritava absurdamente, mais do que ter que pensar nos gastos horrorosos que eu teria que ter dali pra frente (Pois é, eu já pensava na faculdade do meu filho, em como eu teria que me desdobrar e... Nossa, eu pareço tão mão de vaca quanto o meu pai, Jesus Cristo). Sendo assim, vamos aos fatos atuais, o que diabos eu estava aturando de ambas as partes. Sinceramente... Quando eu morrer, vou exigir que eu seja canonizado após sofrer nas mãos desses dois ou então ter no meu túmulo um "O melhor irmão do mundo" gravado em uma placa de ouro, em letras garrafais. Nem Alicia, quando brigava comigo, conseguia foder meu psicológico como eles. Eu merecia estátuas em praça pública, várias delas, na realidade. Ou que o meu aniversário fosse decretado como feriado nacional, internacional e...

Enfim.

Há alguns anos, eu não fazia a menor ideia de que Gerard iria virar o que é hoje, que iria largar as drogas, a bebida e tudo o que o deteriorava, que iria se reerguer, se tornaria um ícone das HQs e me encheria de orgulho (Em partes, ele ainda era o babaca que havia partido o coração do meu melhor amigo e isso me fazia um irmão mais do que envergonhado por ver Frank quase todos os dias e ter que lidar com o fato de que eu havia apresentado um ao outro). Nunca conversamos sobre o porquê de se degradar tanto naquela época, mas eu já estava mais do que satisfeito em ver que não iria mais se meter naquilo depois de tanto trauma que passou. Que passamos.

Embora mais do que traumatizado, eu nunca o exclui da minha vida, para falar a verdade, nunca o tratei como um zero a esquerda ou o drogado problemático que era, como o cara fraco e descontrolado que havia se tornado durante aqueles anos sombrios de nossas vidas. Ele era meu irmão, o seria para sempre e eu não o larguei. Não como meu pai e alguns familiares, que, quando ele resolveu ser um adolescente revoltado, se envergonharam de seu estado e o deixaram de lado, como se ele fosse uma espécie de abominação ou algo assim. E, hoje em dia, toda essa gente arrasta uma asinha para o lado dele, como sanguessugas de sua fama e seu dinheiro... E isso me deixa um tanto quanto enraivecido e inconformado... Gerard era muito mais do que seu rosto em revistas e na TV, muito mais do que dinheiro em sua conta bancária, e ele não merecia isso. Sorte a minha que eu sempre fui aquele que era esquecido pela família e, sem drama de infância ou coisa assim, eu sempre gostei disso. Sempre gostei de ficar quieto no meu canto e fingir que não tinha um terço da família que eu tinha. Eu também sabia que meu pai não era flor que se cheire, mas sabe como é... Família de verdade, a gente leva até debaixo da terra.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora