56 - Gerard

412 41 40
                                    



Encarei as malas prontas no porta-malas do carro sem muita presa. Aliás, todos os atos exercidos dentro daquelas últimas cinco longas horas haviam sido executados com a maior calma que eu poderia esboçar em minha expressão forçadamente impassível. Contei as quatro malas duas ou três vezes, apenas para manter a lentidão de minhas ações registrada, ainda que a pequena cachorra em meus braços parecesse contrariada em me ver ali parado, como se soubesse exatamente o porquê de eu estar fazendo tudo aquilo.

Ela sabia que o dono estava metido em encrenca e eu tinha certeza de que aquela minha abordagem não era pouca coisa... Eu queria que Frank ficasse lá por mais um tempo, que aprendesse, que... Só de pensar, minha cabeça voltava a ameaçar explodir, assim como meu estômago, novamente correspondendo ao meu estado nervoso. E não importava quantos remédios eu estivesse consumindo, aquela sensação de queimação e inchaço parecia não passar nem por um decreto.

Sparkie se movia sobre meus braços, as patinhas apoiadas sobre meu peito, me observando com seus olhar crítico e questionador. Se aquele animal possuísse sobrancelhas, eu as veria arqueadas naquela expressão típica que Frank direcionava a mim quando não entendia meus atos. Afaguei seu focinho com a mão livre, antes de levá-la ao bolso traseiro de minha calça e buscar a chave do carro ali, para seguir em direção ao interior do automóvel. Sparkie se sentou a contragosto no banco traseiro, onde a deixei, antes de buscar o transportador cor de rosa sobre o teto do carro, onde a pequena cachorra demorou propositalmente para entrar e ali se ajeitar.

Ajeitei tudo o que era necessário para que ela ficasse em segurança e eu pudesse adentrar o carro , verificar se Sparkie estava bem, largada dentro do seu transportador, antes de dar partida no carro, contornando minha vaga na garagem, para que eu saísse desta e me direcionasse para a rua, traçando aquele trajeto brevemente conhecido. Eu pararia na casa de Mikey, onde ele me aguardava, depois de ter retornado para contar tudo à esposa, para que seguíssemos até a delegacia.

O plano para tirar Frank dali havia começado desde o segundo em que desliguei o telefone na cara dele, sentando-me em uma das camas do ônibus da Leathermouth, cujo havíamos utilizado para percorrer a fronteira atrás dele. Eu deixei o celular de lado e entrei em um estado apático, seguido de um choro raivoso. Empurrei Bert e Mikey, que tentaram me amparar naquele momento, assim que eu disse exatamente o que havia acontecido com Frank, e dei um jeito do motorista do ônibus nos levar o mais rápido que podia para Nova Iorque novamente.

De volta para casa, eu realmente me lancei para dentro do apartamento dele, obrigando Bert a me dar sua chave reserva, para que eu começasse a vasculhar todos os cômodos. McCracken e meu irmão assistiram à cena perplexos, o menor não calando a boca, enquanto eu verificava se Frank ainda mantinha alguma droga escondida. Por sorte, não havia sinal nenhum daquilo, até que eu começasse a pegar cada peça de roupa que Frank mais gostava e entulhar em suas malas. Boa parte ficou lá, claro, mas eu havia perdido um pouco do controle ao encher duas delas, tendo dificuldades de fechá-las. Enquanto Bert me ajudava, eu dei a Mikey a missão que ele melhor saberia executar naquele instante. Até mais do que eu, que estava por um fio de perder o controle.

Não me preocupei em entregar meu celular para o meu irmão, para que ligasse para um dos advogados da minha empresa. Fiz questão de deixar claro que era um caso urgente e Mikey não demorou mais de meia hora para concluir a ligação e me fazer um tanto mais calmo, enquanto me dizia que o velho advogado estava a caminho da delegacia, e que ele havia indicado o pagamento da fiança, já que Frank era réu primário ou algo assim. Tudo o que fiz foi resmungar para que eu ficasse um pouco em paz, tentando me controlar em minha solidão, o que foi prontamente atendido. Bert desceu o prédio pelas escadas, histérico com Mikey, que havia combinado comigo aquele simples plano. Eu iria passar em sua casa, buscá-lo e seguiríamos para a delegacia.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora