52 - Frank

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Eu achei que fosse desmaiar.

Simplesmente senti meu corpo todo quase dormente e, se Sam não tivesse se segurando na borda da mesa, com certeza a pequena garota tinha caído, assim que eu me dei conta de tudo o que estava acontecendo. De Gerard e os outros no palco, de como todo mundo ali pareceu abrir aquele espaço entre a nossa mesa e o palco, para que eu pudesse ter visão privilegiada dele. O sorriso sempre bonito, ainda que eu visse todo seu nervosismo, e aquele par de olhos verde-oliva cravado em mim, ignorando o restante do salão veementemente.

- Eu pensei em uma lista de coisas bonitas pra dizer agora, pra fazer com que você chore copiosamente, Frankie... Isso me faria sádico? – A pergunta era retórica e eu pensei seriamente em mandá-lo se foder ou respondê-la com alguma piadinha, quando me vi apenas maneando a cabeça em negação, uma das mãos sobre meus lábios e o coração realmente diminuindo os batimentos, quando ele fitou Ray pelo canto dos olhos, segurando o microfone com ainda mais determinação, e continuou. De novo olhando para mim, claro. – Então, ao invés de fazer um discurso chato e entediante, eu arranjei outra forma de te fazer chorar bastante. Acho que essa música resume a nossa vida juntos.

Não houve muito tempo que eu processasse o que havia falado direito, só sentindo os batimentos retornarem com tudo, quando assim Ray se ajeitou no banquinho que sentava e começou a dedilhar as notas, que, aos poucos se tornavam conhecidas a mim. Eu havia escutado aquela música naquela semana e passei a não acreditar na tamanha cara de pau dele por escolher aquela canção em específico, a que havia me mostrado, enquanto estávamos deitados em sua cama, sem fazer absolutamente nada, a não ser trocar aqueles beijos e carinhos sempre tão bem vindos.

A música era calma e eu pouco lembrava da letra até então, só tinha plena noção de que ele tinha gostos tão diferentes dos meus, que contrastavam até mesmo naquele momento e naquela canção. Enquanto as músicas que eu escrevia para ele, sobre ele, sobre nós, eram sempre tão elétricas e intensas, as que ele se referia a mim, eram calmas, plácidas, algo que remetia nossos momentos de paz. Dois lados de uma mesma moeda e de algo que fez com que eu, antes de chorar, como ele havia dito, sorrisse, nostálgico, feliz, envergonhado, emocionado... Tudo ao mesmo tempo e lento, tudo seguindo o ritmo calmo do violão. Até a voz de Gerard adentrar meus ouvidos e eu achar que, daquela vez, eu realmente iria desmaiar.

Eu sempre iria amar o timbre dele, não havia ninguém que tivesse uma melodia semelhante ao cantar, algo único, que transcendia qualquer frase superficial que pudesse cantar. Mas, ali, ele não cantava sobre superficialidade, ele cantava sobre amor... E sobre exatamente cada dia que estávamos vivendo juntos naquela fase nova e estranha de nosso relacionamento, onde tudo estava caminhando para entrar nos eixos. Sem mais segredos, só aquela motivação de fazer tudo completamente certo.

E a cada estrofe de Photograph, eu sentia exatamente isso. As palavras criando vida sob meus olhos e os dele, conectados aos meus, sempre que podia. Quando ficava muito tempo com estes fechados, tão concentrado na emoção de suas palavras, ele se lembrava de abri-los e me entregar todo o conforto possível e reconhecimento... E ver que acima de qualquer coisa, ele me amava. Acima dos defeitos, das merdas feitas por mim, do que estávamos passando, acima de qualquer decepção, o que sentíamos estava cada vez mais sólido e vívido.

Um filme dos últimos dias perdurou a minha mente, das dificuldades, das superações, de como ele deixou toda uma mágoa certa de lado, para dar lugar ao seu coração... A segurar minha mão e me ajudar. E por mais que eu me sentisse incomodado e não quisesse ser motivo de tanto incômodo, eu agradecia todos os dias por ter alguém como ele ao meu lado... Alguém que acordava bem agarrado comigo todas as manhãs, enquanto eu tinha alguma crise nervosa, precisando ser amparado. Alguém que me olhava nos olhos e pedia calma, conseguia me aquietar e me trazer um pouco da paz que a abstinência me tirava. Alguém que realmente cuidava de mim nos mínimos detalhes.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora