É estranho como em situações instigantes você assume uma postura completamente diferente. Aliás, você não – ou talvez você tenha essa atitude, vai saber –, mas eu sim. Não conseguia bancar o histérico que estava a ponto de ter um colapso nervoso por ter Gerard Way prestes a me contar... Bem, me contar tudo. O que quer que esse "tudo" realmente signifique a ele... A nós dois... Ao que corria o risco de se tornar um nada, a qualquer instante.
Assim que deixei Daisy no quarto, eu sabia que não queria fugir e magoá-lo. Eu poderia ser uma criança teimosa que dificultava as coisas para ele o tempo todo, mas não dava mais. Eu queria Gerard de volta e eu o queria sem culpa. O queria tão genuinamente e intensamente como antes, mas sem peso algum em minhas costas, só sentir. Não que eu não sentisse... Aquele desejo me perseguiria até o fim dos tempos, mas...
Okay, chega de "mas", eu tinha que aprender a lidar com aquilo sem criar uma pilha de desculpas. Ele era o meu amor, eu não podia cegar meus olhos e fingir que não o via ficar tão afetado quanto... A bebida, os olhos cheios de lágrimas... Tanto a se levar em conta e eu ainda criando a imagem de um Gerard inabalado que nunca sequer existiu.
E foi exatamente ele, com seus olhos esverdeados perturbados pela dor e a dúvida, que eu encontrei quando decidi não mais ficar preso no quarto de Mikey pensando sobre a vida depressiva que eu me instigava a viver e cruzar toda a casa até os jardins.
Indo diretamente de encontro a ele, sem mais delongas.
- Por que a surpresa? – Minha língua coçou, assim que coloquei os pés no jardim e o fitei exatamente como antes: encostado àquela árvore, o olhar entristecido (mas subitamente surpreso e instigado em me ver ali), os braços cruzados e evidenciados pela jaqueta de couro, os cabelos vermelhos lindamente despenteados e toda uma áurea de tensão emanando dele para mim. Meu coração fraquejava com a imagem de Gerard abraçando o próprio corpo, mas não pelo frio e sim por algo mais arrebatador do que qualquer temperatura baixa. – Eu disse que não ia fugir.
E era verdade. Não havia mais como adiar aquilo, não aguentaria mais ser alguém que não conseguia sustentar o olhar do homem que eu amava por temer as consequências disso... Eu tinha coragem, mas eu sentia falta do verde-oliva em mim, em como ele me olhava bem ali, cheio de expectativa. Tracei uma linha reta até ele, guiado por aquele olhar, sentindo minhas pernas firmes, o que foi uma surpresa boa e um excelente sinal. Eu estava preparado... Preparado de verdade.
- Eu sinceramente pensei que não viesse por alguns instantes, me desculpe por isso... – Quis brincar e perguntar se aquele já era o seu pedido oficial de desculpas, mas instantaneamente me segurei, por saber que aquele Gerard ali não estava para uma conversa mais amena. Ele estava ali para resolver tudo e eu lhe daria aquilo. – Não tenho certeza se aqui é o lugar mais adequado para isso, alguém pode aparecer e... – Gerard me assistiu desviar um tanto o meu trajeto, assim que notei o balanço bem próximo de onde ele estava, o que me pareceu um ótimo lugar para me sentar. Afinal, eu sabia que ele tinha muito a falar.
- Aqui me parece perfeito. Ninguém vai nos perturbar. – Usei meu tom de voz mais reconfortante, ao que me sentava no balanço de ferro, cuidando para não cair com a minha distração habitual. Quis me balançar com vontade, mas não era a melhor situação para fazê-lo, não quando Gerard pigarreou, limpando a garganta, e descruzou os braços lentamente, e fez meu corpo gelar. Eu estava preparado, mas sabia que a primeira enxurrada de palavras seria desesperadora para ambas as partes. – Mas se você quiser, nós... – Era bom mostrar a ele que, se não estivesse "okay" com aquilo tudo, poderíamos adiar a tal conversa. Mas quando Gerard abriu a boca para falar, eu reparei que não só estava tão igualmente preparado como eu, mas que cada frase que liberava era no que ele se agarrava, algo esperado há meses, mas com a sensação de anos. Era o seu bote salva-vidas.
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Surrender The Night || Frerard version
Fanfiction[Continuação de Burn Bright] " O amor nunca acaba. Não quando é real e nós dois sabemos o quanto foi. Nós vivemos, nós crescemos, nós morremos e ele continua ali, firme e forte. Vivo, incandescente e vibrando, mandando aquele incessante "É ele, é e...