Surrender The Night || Frerard version

31 - Gerard

- E ele disse não? – Bert me perguntou pela milésima vez só naquela noite, e eu quis esganá-lo ou cometer algum delito muito sério. As imagens de dois dias atrás me perturbavam tanto quanto a luz neon daquele maldito bar contra a minha cara e eu quis gemer de dor. Ao contrário disso, eu bebia a cerveja diante de mim. Só para variar um pouco. – O Frank disse não?! Caralho, você conseguiu me tocar com o seu drama mexicano e o Frank, logo ele... – Certo, talvez a cerveja estivesse mais amarga do que o habitual e eu precisei deixar a garrafa largada sobre o balcão diante de mim, antes que eu enlouquecesse e me denotasse tomando aquilo tudo de uma vez.

- Bert. Eu sei. Mas, segundo ele, preciso ser poupado de algumas coisas. Não entendi muito bem o que ele quis dizer com isso, mas... – Desviei o olhar para o barman que entregava a segunda garrafa de Bert, enquanto eu já estava na minha sexta. Lembrei-me um pouco mais da dor que só aumentava a cada hora que eu passava imerso em dúvida. Imerso em toda uma confusão que parecia sem fim; quanto mais eu cavasse em busca de uma saída, mais eu me afundava. Eu ainda estava abalado, jogado ao que Frank estivesse decidindo ao nosso respeito, sem acreditar exatamente em toda aquela conversa e eu usava o álcool, como sempre, para me afogar um pouco mais e tentar superar a porra da pressão que eu tinha dentro de mim. Sobre isso tudo: bem, não estava surtindo o efeito desejado. – Eu o entendo perfeitamente... Entendo até demais. Entendo tanto, que essa história ainda está bastante esquisita pra mim, pois eu sei exatamente que tem algo a mais. Esse "algo" que ele não quer me contar é o que me deixa... Me deixa... Argh! – Distraidamente, eu deslizava o indicador pela boca da garrafa, atônico e sentindo um peso ainda maior sobre as minhas costas... Algo que me rebaixava e me enfraquecia. A mão de Bert tocou um dos meus ombros, como se soubesse exatamente o peso que ali havia, naqueles tapinhas que tentavam me confortar, e eu sentia que algo a mais estava me assombrando e eu não tinha a capacidade de enxergar. – Ele chorou tanto... Eu detesto ver o meu garoto assim... Talvez se eu tivesse sido mais firme, talvez se eu... Ah, porra. Isso é demais pra mim.

- Sem talvez, transição de Ronald McDonald com baleia... Você deu o melhor de si. Tenho certeza de que foi algo forte, vendo que esse seu pseudo-coração de pedra não existe mais. – Bert deu um soquinho (isso mesmo, um soco), em minhas costas e eu precisei me afastar do balcão, caso eu não quisesse derrubar a garrafa e desperdiçasse aquele líquido precioso. – Frank vai pensar... Vai voltar pra você. E é isso, fim do drama. – Gostava de como Bert sempre conseguia ser positivo com tudo, mesmo em meio a um desastre. Gostava também de saber quando ele escondia alguma coisa, como quando perguntou a frase seguinte, ao que o fitei, com os olhos azuis acuados demais. – Ele... Ele não disse mesmo o que tem, não é?

Pois é, Bert definitivamente sabia e o medo em suas feições denunciava ainda mais... E que era forte o bastante para esconder tudo de mim. E aquilo imediatamente passou a mexer com o meu psicológico, mais do que este já estava abalado desde que eu me arrastei até adentrar aquele bar para encontrar meu amigo, em busca de uma paz que nunca viria, nem mesmo após porres e mais porres de todos os tipos de bebidas.

Quando eu chamei Bert para aquele bar, próximo da gravadora onde ele e a sua banda estavam trabalhando na produção de seu CD, eu acredite que aquele rapaz estranho fosse capaz de abrir a boca e me contar qual era o problema de Frank de uma vez. E era complicado perceber que eu havia me enganado e que Bert iria omitir tudo por ser terrivelmente leal a Frank, assim como era comigo e eu sabia que escondia do pequeno rapaz o meu drama alcóolico. Queria dizer que não era necessário esconder aquilo tudo, mas era tenebroso... Era assustador perceber que eu havia me entregado ao álcool de uma vez, sem volta, desde que Frank havia plantado a dúvida dentro de mim.