41 - Frank

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- Você não vai fazer isso. – Mikey surgiu, sabe-se lá de onde, enquanto eu encarava firmemente meu reflexo diante do espelho do camarim, após a segunda noite de shows da Leathermouth em New Jersey. Eu me fitava com os olhos vermelhos, o corpo trêmulo e a certeza de que eu não aguentaria por muito tempo. Eu precisava aliviar aquilo tudo. Dar um jeito.

Qualquer. Coisa. Ou eu iria pirar.

Quando Bert surgiu em meu apartamento para buscar toda a droga que escondi, não vi problema algum. Afinal, eu estava bem, aparentemente estável, tranquilo e sem sentir a necessidade de inalar aquele bando de pó branco. O deixei pegar tudo e jogar na privada do banheiro, dando descarga em seguida e deixando que tudo aquilo fosse para o esgoto, assim como eu pretendia jogar fora o meu vício. Por dias, eu me ocupei propositalmente, com o intuito de esquecer que eu havia tido algum tipo de problema a respeito de drogas por tanto tempo. O que não durou muito, é óbvio. Eu ainda era tão fraco, que me envergonhava. Onde é que havia parado aquele Frank que havia sido tão forte por tanto tempo?

Bert me ligava diariamente e me monitorava com a ajuda de Mikey, o que era quase um inferno. Se não fosse por aquilo ser mais tolerável do que deixar Gerard saber do meu terrível vício. Não era como se eu estivesse muito bem, claro, eu ainda não tinha estabilidade e tinha plena consciência de que havia sido tolo ao achar que aguentaria aquela barra sozinho. E sem que ele ao menos desconfiasse. Gerard prestava atenção demais em mim e aquele era o real motivo pelo qual eu havia me refugiado no camarim, logo após ao show.

Ele estava percebendo. O meu nervosismo estava claramente explícito. Eu poderia disfarçar toda aquela quantidade de suor em meu corpo com a desculpa do show recente, enquanto aquilo era fruto do meu desespero, mas era incapaz de fingir que eu não tremia, que estava difícil de me concentrar em qualquer outra coisa, quando eu só conseguia pensar em enfiar a minha cara em um saco de pó branco e possivelmente morrer de overdose.

Assim, criei aquela estúpida desculpa sobre procurar meu isqueiro favorito em meu camarim, enquanto obriguei Bob a arrastar Gerard para junto dos outros, até o bar mais próximo (ao lado da casa de shows, na realidade). E pelo simples fato de Gerard estranhar minha falta de grude para com ele, a desculpa claramente não havia sido uma das melhores, o que fodia para o meu lado. Era por isso que Mikey estava ali, gritando comigo e me balançando pelos ombros, enquanto eu me perguntava, encarando meu reflexo naquele maldito espelho exageradamente iluminado pelas luzes ao seu redor, até quando eu aguentaria viver com aquela sensação de um necessitar de algo que tanto me fazia mal. Que me degradava e me deixava ali, pálido, incoerente e sozinho.

Sozinho por opção, claro. Eu poderia recorrer ao meu Way, mas... Mas eu não precisava repetir sobre o quão vergonhoso seria e toda a decepção que eu lhe causaria. Eu tinha que ser forte, exatamente como ele um dia foi. Ponto final.

- Gerard está de procurando. – Mikey resmungou, me fazendo encará-lo pelo reflexo do espelho, vendo que meu amigo averiguava cada canto daquela pequena sala em busca de algo que me incriminasse. "Não tem nada aí, porra... Não tá vendo como eu estou?", resmunguei, enquanto minha abstinência era clara, me deixando com aquela aparência doente e digna de preocupação. Gerard havia percebido e eu buscava aquele tempo para tentar me acalmar, ao mesmo tempo em que meu cérebro me pregava peças e tentava, de alguma forma, me fazer ceder ao mal. – Não sei a diferença entre abstinência e uso daquela merda... Você parece um cadáver emo de qualquer forma... Parece até aquele cara daquela banda que...

- Mikey, cale a boca. Quanto mais você fala... – Comecei a reclamar, fechando meus olhos, fugindo do olhar tão julgador de Mikey e de meu aspecto cadavérico, enquanto, como sempre, ele me interrompia.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora