44 - Alicia

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- Você... Ah, meu Deus. Caralho, Ali, olha só como você está! Se eu não fosse totalmente gay pelo seu genro... – Frank comentou, assim que adentrou aquele enorme quarto daquele hotel, localizado no meio do nada, cercado de verde, cheiro de flores silvestres... Enfim, cheiro de realeza, como minha irmã diria, o que não era errôneo de se afirmar... Pois eu me sentia uma princesa de verdade com aquele vestido, naquele quarto bem decorado, dentro daquele quase palácio de época e... Prestes a me casar com o meu príncipe.

Minha vida sempre foi extremamente conturbada e nada muito normal. Meu pai morreu quando eu era muito nova, minha mãe não era a pessoa mais feliz do mundo (mas ainda sim era a minha mãe), eu era extremamente indecisa a respeito do que fazer da vida (já havia perdido as contas de quantos empregos tiveram a minha ilustre presença) e nunca pareci encontrar alguém que entendesse todas as minhas peculiaridades. Mas de todas as dúvidas que eu tinha, dos dramas que um dia vivi e de toda a minha esquisitice, a minha única certeza sempre havia sido Mikey.

Desde que o vi na festa da faculdade, com seus óculos estranhos, rindo de alguma piada de Frank e completamente tímido e incerto quando me aproximei, eu soube que Mikey iria tirar toda a tempestade da minha vida e me trazer sorrisos. Eu não estava errada e aquele vestido enorme, de bom corte, o curvar de meus lábios em um simples sorrir, o brilhar dos meus olhos e a forma com que eu tremulava ridiculamente me provavam que, durante todos aqueles anos, a minha vida havia mudado para melhor. E eu devia isso à Mikey, exclusivamente a ele e sua forma única de me amar.

E todo aquele amor estranho, as brigas bobas, os meus gritos, os gritos dele, as piadinhas fora de hora, tudo aquilo havia gerado algo ainda mais bonito do que os brilhos de nossos olhos ao olharmos um para o outro. Havia trazido ao mundo aquela pequena criaturinha, com o sorriso igual ao pai e o jeito espevitado igual ao meu... A nossa filha. E eu diria, tempos atrás, que eu era louca em casar e ter uma criança tão cedo... Mas eu não conhecia Mikey, eu não sabia como era viver de verdade e, muito menos, amar.

E Daisy era a prova de que aquela adolescente esquisita que um dia eu fui poderia ser uma mãe carinhosa, uma esposa um tanto quanto histérica, mas tão boa quanto Mikey era para comigo. Por que o sorriso inocente de Daisy, ao que me fazia acordar todas as manhãs para toma-la em meus braços, era a prova diária de que havia amor naquele mundo... E de que eu poderia amar alguém tanto quanto aquele homem, que provavelmente já estava mofando, me esperando no altar. Mas, que Mikey esperasse... Afinal, eu havia ficado plantada, durante toda a minha vida, esperando por ele.

Enfim. Daisy. A minha pequena flor, meu anjinho escandaloso e que depositava bitocas molhadas em meu rosto, quando a amassava com Mikey e parecia notar o quão éramos felizes. E poderíamos não ser o exemplo mais bonito de família típica de comercial de margarina, mas que havia muito amor e muito mais do que normalidade... E poder gritar com os dois, aperta-los quando eu bem quisesse, rir de Daisy ou acordar cheia de dor de cabeça pela pequena ter chorado a madrugada inteira... Aquilo não havia dinheiro que pagasse, nunca haveria. Pois eu poderia dizer, com todas as palavras, que eu tinha aquela família, aquelas duas estrelinhas só para mim.

E meus olhos brilhavam exatamente como aqueles dois, assim que Frank adentrou o quarto, liberando aquele comentário tão típico de seu ar atrevido. E ele não estava errado ao me elogiar, assim que me avistou com aquele vestido... Este que era constituído por uma enorme saia feita de tule branco e camadas finas de organza dando todo aquele volume que, segundo Sam, fazia com que eu parecesse um enorme bolo, logo agregada ao tomara-que-caia drapeado em um tom branco pérola, com aquele breve cinto de brilhantes pedras aplicado na cintura do vestido, ainda que de forma discreta, para complementar tudo aquilo, o véu era longo, descendo como uma cascata dourada até o chão, grande o bastante para ser carregado durante minha entrada no altar, juntamente de meus cabelos soltos, recaindo sobre os ombros... Aquela normalidade era um tanto quanto aparente, se não fosse por minhas tatuagens, o piercing no nariz e a maquiagem mais forte (o batom vermelho e os olhos pretos bem marcados contrastando com todo aquele ar de "princesa da Disney").

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora