32 - Mikey

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- Daisy, para de babar na minha mão. – Reclamei quase irritado, mas ainda soando como um pai preocupado, ao que estava sentado naquela cadeira com minha filha em meus braços, acariciando sua bochecha e, por algumas vezes, tendo que afastar meus dedos dela, já que a pequena margarida tinha mania de mordiscar minha mão, babando tudo, causando toda aquela nojeira. Entre pilhas de fraudas cheias de xixi e cocô aquilo era o de menos, mas ainda sim me agoniava. Ainda mais ao ver meu melhor amigo diante de mim, com o olhar fixo do lado de fora da janela da cafeteria onde estávamos, cheio de um drama tão explícito aflorando de seus poros. – Frank, você quer parar de ficar com essa cara depressiva? Se você ainda usasse aquele cabelo esquisitíssimo, eu te chamaria de emo.

- Estou pensando na música nova, você podia me dar um tempo e ajudar nisso. – Ele retrucou, todo irritadinho, buscando o lápis que havia apoiado na orelha, para voltar sua atenção ao caderno que tinha diante de si. Sam estava ao seu lado, com aquele vestido vermelho chamativo, olhando o caderno com atenção, como se estivesse pensando em algo muito importante para acrescentar ali. – Nós temos até sexta-feira pra entregar esse single e fechar o CD, Mikey. – E sim, eu detestava quando era Frank quem me dava uma bronca por algo, mas eu sabia que tinha razão em partes. Ele estava disperso, pouco se importando se Sam estava roubando alguns dos seus biscoitos sobre o prato ao seu lado e nada no mundo parecia animá-lo, mas parecia que só Frank se preocupava com a banda nos últimos dias. Mesmo com todos os problemas do mundo desabando sobre seus ombros.

Decidimos fazer aquela pausa ali para tomar um café quase no fim da tarde após aquele breve passeio com Daisy e Sam, desde que Alicia e Alex estavam fazendo compras. Frank queria companhia, precisávamos discutir sobre coisas da banda e ele poderia me ajudar a cuidar de Sam, ao menos enquanto Daisy estava extremamente ocupada babando a minha mão. Sendo assim, lá estávamos nós naquele dia quase chuvoso, escuro, largados em nossas respectivas cadeiras na Starbucks mais próxima do centro, quase ao lado do trabalho do meu irmão. O que era o principal motivo pelo qual Frank estava encarando a janela com tamanho desespero.

Pelo o que eu sabia, ele ainda estava pensando, já sabia de tudo... De todo o passado estranho de Gerard, e eu não o forcei a nada. Eu poderia fazer um drama terrível e obrigá-lo a falar com o meu irmão, mas eu estava ali, sendo o amigo que fingia não saber que dentro daquela cabecinha conturbada morava uma tempestade. E que ela estava se tornando pior pelo semblante que ele carregava, falsamente rígido e sério. Eu sabia que Frank queria se encolher em um canto e chorar até desidratar, mas eu não o motivava por simplesmente não aguentar vê-lo assim.

Não que eu estivesse sendo um péssimo amigo, mas, a partir de então, eu decidi que ele teria que decidir por si só. Eu e Bert havíamos combinado de calar nossas bocas e deixar as coisas acontecerem. Havíamos ajudado bastante, nos metido até a cabeça e agora era com eles. Por mais que eu soubesse que tudo iria ficar bem, eu ainda tinha medo do que se passava na cabeça daquele anão teimoso e era por isso que ás vezes eu quebrava um pouco da promessa que fiz com Bert para tentar fazê-lo falar algo.

E infelizmente ultimamente não estava adiantando. Frank mudava de assunto, resmungava alguma coisa consigo mesmo ou tomava um gole de seu café caramelado, antes de se entupir de biscoitos e rabiscar alguma coisa no caderno. Ou então, deixava Sam lhe fazer perguntas aleatórias e as respondia com mais calma do que quando se dirigia a mim. Ótimo. Frank, que odiava crianças, estava as amando e eu estava sendo o amigo chato que o atormentava.

- Tio Frankie, posso tomar um golinho? – Sam teve a audácia de ser uma menina doce e delicada com Frank, ainda que ele carregasse aquela expressão regada de má vontade. Ironicamente, o olhar sinistro dele se esvaiu, Frank abriu um sorriso tenro e sutilmente moveu a cabeça em afirmação, antes de empurrar o copo com delicadeza na direção de Sam, para que a menina saboreasse o seu café tão doce. – Obrigadinha.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora