9 - Bert

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Gerard Way era a última pessoa que eu esperava ver naquele fim de semana glorioso, onde a minha banda ainda mais gloriosa havia começado a gravar o seu EP e estávamos quase prontos para sair arrombando pessoas por aí com a nossa música.

Tudo estava lindo, florido e brilhante, inclusive o meu magnífico corte novo de cabelo (Quinn havia me apoiado em cortá-lo, embora eu tivesse quase certeza de que minha vasta falecida cabeleira estava lhe incomodando, já que a minha boneca estava começando a perder os cabelos com a idade, por mais que fosse novo demais para isso), quando recebi uma SMS do gordo traidor, logo pela manhã (o que era um absurdo, afinal, era domingo). O que repentinamente me tirou o sono e me impediu de continuar esparramado em minha confortável cama de duzentos dólares ao lado de Quinn.

Não é como se Gerard fosse a pior pessoa do mundo, mas, no momento, era o lanterninha na minha lista de pessoas favoritas, talvez até passando e ganhando mais do meu eu raivoso do que o Rei Joffrey de Game Of Thrones (Aquele moleque era um filho de uma puta, viu?! Literalmente. Enfim.). Antipatias à parte, não quis ser mal educado, já que minha excelentíssima mãe havia me ensinado a ser caridoso com os mais necessitados, e aceitei o convite para tomarmos um café de forma amena. Que, no fim, havia se estendido para aquele copo maravilhoso de milk-shake e cupcakes deliciosos. Eu tinha que ser pago, de alguma forma, para escutar todo aquele drama e, desde que eu tinha Quinn e não tinha interesse em Gerard, comida era a única opção.

Em partes, eu era uma mocinha curiosa e queria saber o que estava acontecendo e, quem sabe, entender a cabeça desmiolada do Way. As coisas haviam mudado, inclusive a cara redonda dele não estava mais tão redonda assim e ele parecia um viado bem afeiçoado com aquelas roupas novas, e eu precisava um pouco de respostas.

Já disse que eu sou uma menininha fofoqueira presa dentro do corpo de um cara bastante sensual? Pois então.

Frank e eu raramente nos falávamos nos últimos dias e, por mais que eu vestisse minha máscara de Guy Fawkes (só faltava a lindinha da Natalie Portman, mas okay) e pagasse de "I don't care", aquilo me matava. E não era pela fama, não era por Frank estar ganhando dinheiro de verdade e ter o futuro que sempre desejou, não era por isso que ele havia se esquecido de mim. Ele não era um filho da puta esnobe.

Frank sempre foi o melhor amigo do mundo, sempre me apoiou em minhas loucuras, me ajudou a alavancar minha banda... Ele era o irmão que meu irmão nunca foi de verdade para mim. Que eu cuidava, morria de medo de vê-lo machucado... Mas ele estava lá... Em pedaços, sofrendo como um condenado. E eu não podia fazer absolutamente nada a respeito disso. Não é que eu não houvesse tentado me aproximar... Mas Frank era teimoso como uma pedra, era orgulhoso e não ia admitir que estava em um poço coberto de merda. Sujo, nojento, mas era a verdade.

O motivo daquilo tudo estava bem diante de mim, com cara de quem havia ficado sem dormir durante dias e tentando fingir que depois que Frank o deixou, ele não havia se tornado uma bicha depressiva e sozinha. Era por Gerard que Frank havia se isolado em sua concha mística de dor, esquecendo do mundo ao seu redor, inclusive de mim. E eu podia atochar aquele copo largo de milk-shake na bunda de Gerard por isso, mas eu me contive. Eu não ia desperdiçar aquele pobre copo indefeso.

Sendo assim, eu decidi que o poderoso Bert, o mestre do amor e da magia, era o único capaz de tentar juntar aqueles dois. Eu tinha Gerard e sua confiança, o que era assustador... O que me fazia ter quase certeza de que ele estava sob algum feitiço de possessão. E que, claro, o Bert esperto aqui, iria aproveitar e muito. Era hora de ver o quanto Gerard Way era culpado naquela história. Eu duvidava que talvez ele conseguisse me convencer, até Gerard começar a falar.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora