39 - Dois anos e oito meses atrás

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- Frank, eu já disse que estou bem! – Timothy exclamou, irritado, ao que o primo, menor e inquieto, o agarrava pelo pulso do braço que estava bom, enquanto o machucado era pressionado contra seu corpo, latejando naquela dor absurda. Já era tarde demais, eles estava na ala de emergência do único hospital em NY que Frank sabia o caminho para falar ao taxista, e ele havia sido totalmente insistente para que Timothy pudesse se impor. – Quer fazer o favor de me soltar? Eu sei andar sozinho!

- Você não vai ao médico se eu te largar. Acha que eu não te conheço? Agora vá... Eu preencho a sua ficha enquanto isso. – Frank o soltou, mas sem antes empurrá-lo um tanto mais, displicente, para que ele seguisse por aquele corredor esbranquiçado do hospital público, sendo acompanhado pela enfermeira, resmungando sobre a fratura quase exposta que havia tido no braço direito.

Frank puxou a ficha que a atendente do balcão de emergência o entregava, apoiando-se ali, preenchendo-a de forma automática, um tanto preocupado com o primo. Os dois haviam conseguido aquele emprego em uma locadora perto de casa e as coisas pareciam estar tomando um rumo decente, até Timothy despencar da prateleira superior, a de filmes de ação, e praticamente partir o braço ao meio ao colidir com tal no último degrau da escada de ferro. Frank havia visto a cena de longe e ainda se arrepiava com o barulho do osso partindo. E olha que ele já havia visto coisa pior em filmes de terror.

O emprego não era o melhor do mundo e ás vezes precisavam lidar com problemas como aquele e ainda fechar/trancar a locadora, já que eram mais escravos do que empregados, no fim das contas. Ganhavam uma merreca, mas Frank conseguia ao menos pagar a faculdade e ter alguns poucos gastos especiais mais fúteis... Como o pedal novo da guitarra que usava, que pretendia comprar na semana seguinte. Isso se o primo não o fizesse pagar as despesas do hospital naquela noite. Frank odiava ser prestativo demais, mas não conseguia resistir. Afinal, era família dele.

O extinto familiar estava pedindo para falhar, desde que Timothy sempre havia sido egoísta demais e Frank era quem ajudava em tudo... Havia arrumado o emprego para os dois, o apresentado a namorada, tudo... Frank se sentia bem com aquilo, até perceber que ele era o único que se importava com o lance de família, de ajudar o outro, ao que Timothy só queria saber que horas Frank voltava da faculdade ou de alguma saída com os amigos, para poder foder a namorada em todos os cantos do apartamento e fazer Frank se perguntar se sua cama tinha alguma resquício de substâncias nojentas, assim que chegava em casa tonto de sono ou bêbado até o último fio de cabelo.

Frank fixou-se na ficha diante de si, marcando tudo com agilidade, se perguntando se o primo saberia fazê-lo daquela forma, caso estivesse ferido. Acabou se perguntando, na realidade, se ele ao menos iria ajudá-lo a chegar ao hospital e sua consciência lhe deu uma pronta resposta negativa que o fez resmungar a contragosto, ao que escutava aquela trilha sonora magnífica da emergência, perdendo-se entre choros de bebês e adultos, gritos infantis e adultos e cheiro de formol.

Terminou de preencher a ficha e, cheio de preguiça, sentou-se em um dos bancos azuis da sala de espera, sabendo que aquilo iria demorar mais do que imaginava. Sentia-se impaciente, mais do que o normal, como se algo em especial fosse acontecer a qualquer segundo. As mãos estavam geladas, os pés impaciente batucando o chão e aquilo tudo era um tanto familiar para ele... Não sabia como, mas era. Não queria admitir, mas já havia sentido aquilo algumas boas vezes ao longo dos anos, sem explicação alguma. Ele só sentia o corpo dormente e algo que o fazia querer fugir e, ao mesmo tempo, se plantar ali e esperar. Porque algo estava vindo e ele não fazia ideia do quê. Mas era para ele. Só para ele, algo em especial.

- Hey... O que houve? – Frank perguntou, assim que sacou o celular do bolso frontal da calça, percebendo que o aparelho tocava há certo tempo e que estava disperso demais para reparar que Mikey o ligava desesperadamente. E pelo seu tom de voz mais assustado, a ligação não era tão boba assim. – Mikey... Você está bem?

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora