35 - Gerard

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- E você acha que eu não sei?! Você morre de medo de câmeras, por mais que você se saia bem improvisando e falando o que sabe, ou até mesmo o que não sabe... Eu sempre achei isso incrível em você. – Frank curvou-se um pouco em minha direção, os olhos cor de avelã reluzindo sob a meia luz que recaía sobre a mesa onde estávamos sentados, em um canto mais reservado daquele famosa pizzaria. Famosa sim, quis leva-lo a um lugar típico, comum, sem muita cerimônia, um lugar onde pudéssemos ficar ali: sentados, lado a lado, sorrindo, em meio a uma conversa amena, colocando cada fato não repartido em dia, nos deliciando com a massa e, principalmente, sem conseguir tirar os olhos um do outro. – Eu imaginei que você fosse surtar em frente as câmeras, quando me disse. Aposto que deu um trabalho e tanto pro Ray... Mas, me diz, são muitas cenas? Tem alguma coisa com ação? Eu li as HQs, mas... Sabe como eles nunca são fiéis a obra original.

Ele fez aquela careta adorável com o rosto, tão típico dele quando se sentia irritado com algo, ou até mesmo preocupado. E eu não gostava de ficar conversando sobre o simples fato de que havia bancado o ator por aí, mas com Frank, tudo parecia realmente digno de se por em discussão, de ver aquele brilho no olhar dele, a excitação em querer ver cada cena, em como ele não conseguia nem ficar quieto naquele sofá de couro escuro, roçando uma das pernas em mim, sem sequer perceber. Ou percebendo e continuando a fazê-lo, pois aquele carinho sutil provavelmente arrancava arrepios em nós dois.

Aquilo estava sendo demais para mim, mas de uma forma boa... Fantasticamente promissor e quase um sonho. Porque Frank sempre, sempre seria meu sonho real.

Quando acordei naquela manhã, agarrado ao álbum de fotografias que Frank havia me dado, repentinamente me vi pulando na cama e, como em algum filme bobo de comédia romântica, decidi ajeitar cada detalhe minuciosamente para aquela noite. Frank merecia não só tudo de melhor, mas, principalmente, uma noite inesquecível. E essa foi a razão número um pela qual, assim que me vi percorrendo meu quarto para arrumá-lo em minha mania habitual, escolhi aquela pizzaria em especial, tendo a ideia em súbito e nem ao menos me preocupando em fazer reservas. Eu queria que tudo saísse em uma completa normalidade, assim como eu sabia que ele queria... Um começo simples, ainda que imediato, ainda que carregado de tanta coisa.

Frank queria um encontro despretensioso, com beijos roubados e a completa sensação de ser desejado, querido. De saber que eu não mais era aquele cara envergonhado, que fazia uma besteira atrás da outra, que o repudia sem qualquer razão, por simplesmente ter medo. Mas eu não tinha mais medo, eu nunca iria ter, desde que nós éramos aqui, sempre fomos aquilo: aquele casal excêntrico que chamava atenção, ainda que estivéssemos em uma mesa afastada de toda a confusão, mas que nitidamente tinha algo mais do que só paixão. E por isso, exatamente por isso, estávamos naquele canto, quase dispersos por estarmos imersos um no outro. Ali, eu poderia olhar bem naqueles olhos, escutar aquela voz grossa nitidamente, focar-me apenas nele... E por exatamente fazê-lo, perdi as contas de quantas vezes nos beijamos e nos tocamos com carinho, até mesmo na frente e alguma garçonete ou quando alguém passava por ali.

Sem medo.

Exatamente: sem medo algum.

Nem mesmo quando me vi, quase uma hora adiantado, pouco antes de busca-lo, sentado no sofá de minha sala, largado e sofrendo com a demora do maldito ponteiro do relógio da estante de chegar no número "oito". Escolher a roupa certa havia sido fácil, pois eu sabia exatamente como ele queria me ver, não havia sinal nenhum de receio, só de ansiedade naquele Gerard que vestia uma jaqueta preta gasta, a camisa social no mesmo tom e a jeans bem escura, justa como nunca em meu corpo, acompanhada do coturno preto que ele dizia cair tão bem em mim. O vermelho de meus cabelos reluzia de forma que eu poderia vê-lo pelo reflexo da enorme janela da sala, quase me fazendo sorrir por desacreditar e me orgulhar do homem que eu estava me tornando, apesar da bebida ainda ser um breve problema. Eu estava contando os minutos e eu estava prestes a entrar em uma síncope nervosa, um menino adolescente despertando dentro de mim, fumando meu terceiro cigarro, quando "08:01" reluziu na tela do meu celular, me fazendo dar um salto e marchar até a porta de entrada.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora