27 - Mikey

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- Okay, acho que toquei a campainha no apartamento errado. – Disse, ao arregalar meus olhos assim que a porta do loft do meu irmão se abriu e me deparei com aquela criatura de cabelos avermelhados. A situação era tão complicada que até Daisy, antes imóvel em meus braços, moveu-se em súbito e fitou a criatura diante de nós com uma expressão possivelmente semelhante a minha.

O que era aquilo e o que havia feito com meu irmão?

- Há, há, você é mesmo muito engraçado, Michael. Entre, não quero minha sobrinha pegando friagem. – Ele entreabriu um pouco a porta e eu a atravessei, ainda assustado demais e esperando que Gerard tirasse aquela peruca vermelha ou algo assim. A porta se chegou num click logo atrás de mim e eu ajeitei minha princesinha nos braços, recebendo um olhar menos sério de meu irmão e mais ameno. Gostava de ver como ele mudava drasticamente na presença da sobrinha... Era como uma batalha vencida.

Não uma batalha, mas um alívio, eu diria. As últimas semanas haviam sido tranquilas para mim, diga-se de passagem. Claro, tirando as noites mal dormidas, o habituar com choro de criança quase constante, o mau humor de Alicia, o bom humor extremo de Alicia, saídas de madrugada para comprar algo que havia faltado e era de extrema necessidade para Daisy, o cheiro de cocô de criança, o cheiro de xixi de criança, limpar fraldas e mais uma lista inominável de coisas. Eu poderia reclamar por horas do quanto era complicado ser pai, mas, ao mesmo tempo, eu também poderia escrever uma coleção de mais de vinte volumes sobre o quão magnífico era ter aquela criaturinha em meus braços e receber seu sorriso doce ao acordar a cada manhã.

Daisy era o meu pequeno sonho. Eu não me arrependia de passar a semanas desde que nasceu longe de tudo, afundado em uma piscina de fraldas, papinhas e roupinhas de criança. Não me arrependia mesmo, por mais que eu estivesse meio aéreo a respeito de tudo. Minha pequena me ocupava quase sempre e eu gostava, estava amando passar meus dias enfiado dentro de casa entregue àquele sorriso banguela, suas mãozinhas pequenas e os olhos esverdeados tão atentos, como se quisessem captar tudo ao seu redor.

Criança era algo que eu nunca havia prestado atenção direito na vida. Veja só, eu não as odiava, mas também não as amava e sempre imaginei querer ter uma penca de filhos. Até, claro, conhecer a minha Alicia e entender aquele sentimento que toma qualquer marmanjo apaixonado como eu. Desde a primeira vez em que vi Daisy e a tomei em meus braços, algo diferente em mim havia despertado e me mudado.

Eu via o mundo de outra forma, havia abraçado tudo diante de meus olhos de um jeito diferente... Mais calmo e preciso, querendo proteger tudo ao meu redor, além de minha menina. Queria que tudo ficasse bem, que as coisas se resolvessem de uma vez, mas de forma segura. Não só o problema daqueles dois, mas tudo... A banda, como eu teria que focar perfeitamente na minha vida a respeito de cuidar de Daisy e meus projetos com a Leathermouth e como administrar um sucesso que só crescia, tudo ao mesmo tempoo. E tanta coisa havia acontecido ao longo daquela semana, a entrevista louca de Frank, uma breve visita minha aos estúdios para gravar as partes que faltavam das músicas preparadas para o CD e assinar novos contratos para divulgação de imagem, gravações de entrevistas e programas de rádio, que eu percebi que eu havia crescido e resolvido aquilo tudo de forma tão simples e correta que eu havia me surpreendido. O Mikey de dois anos atrás se atrapalharia todo e seria um completo idiota sem sentido. Agora, eu sabia exatamente o que eu queria e como conseguir.

Não que eu fosse outra pessoa, mas talvez minha paciência tivesse se expandido e eu tivesse me tornado mais calmo, o que realmente era uma vitória para alguém que queria matar o irmão por ser estúpido todo tempo e sair distribuindo tapas na cara do melhor amigo pelo uso excessivo de drogas. Eu havia, além dessas qualidades estranhas que brotaram naquele Mikey antes sempre estressado, me sentido mais maduro e humano. Um alguém que, além de pai, era amigo, artista e marido, tudo ao mesmo tempo. E eu poderia ser um daqueles loucos que enlouquecia com tanta coisa, mas não... Simplesmente não.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora