- Você bebe demais, que exagero. – Grunhi, fitando Bert de soslaio, tentando simplesmente passar minha preocupação em branco, enquanto eu constantemente observava a entrada do bar, na esperança de que Frank aparecesse. Eu queria fingir que estava realmente tudo muito bem, que eu não estava também encarando o meu celular toda hora, mas a minha inquietação, ao mexer no copo de suco diante de mim era bastante clara: Frank havia me transmitido sua falta de paciência com o tempo e eu estava a ponto de ligá-lo a qualquer segundo, apenas para perguntar onde estava.
- Não admito que logo você venha me fazer piadinha sobre bebidas alcoólicas com essa merda fodendo teu estômago. – Bert retrucou, bebendo o restante de sua garrafa de cerveja em um só gole e me imitando, naquele curvar delicado, em direção à porta de correr, que era a entrada exótica do bar onde estávamos, complementando meus pensamentos. – Ele está demorando demais, acho que...
- Não acredito que ele vá voltar. – David surgiu do além, juntamente de Quinn e mais dois amigos do Bert, enquanto eu era paciente em ignorar o que havia dito, ainda mais por saber que aquele rapaz ainda insistia tanto em mim. Por mais que estivesse bastante claro que eu estava muito bem comprometido, ainda mais com todas as indiretas e diretas que eu dava para ele, desde que havíamos chegado ali.
Ohio havia sido nosso destino de volta da turnê da Leathermouth, onde havíamos parado, após dois fantásticos shows na Filadélfia e seguido para o local, de onde estávamos retornando, passando novamente pela Pensilvânia, exatamente na fronteira com Nova Iorque. O caminho era confuso, mas havia sido feito em uma semana de shows, amassos no ônibus da banda, visitas a lugares exóticos e Frank mais do que instável. Eu não precisava me aprofundar em todas as mudanças que haviam ocorrido durante aqueles dias ao lado dele.
Só bastava pontuar como ele parecia extremamente paranoico e constantemente julgando-se inferior aos outros. Até mesmo durante a passagem de som da banda, ele parecia mais inconstante do que já era, mudando a setlist mais de seis vezes e me fazendo ter de ampará-lo, quando começou a gritar que tudo iria dar errado. Frank estava terrivelmente doente daquele mal e, se eu sequer o questionava a respeito de uma ajuda mais séria, ele se irritava de maneira a surtar e me ignorar por alguns minutos. Ou então gritar ainda mais, como quando tinha seus surtos psicóticos, querendo enfrentar Mikey ou até mesmo Bob, quando ambos falavam que ele precisava de um descanso.
O que queríamos dizer era: Frank precisava ir para uma clínica. Eu tinha todas as ferramentas psicológicas e afetivas para curá-lo, melhorá-lo e estava surtindo efeito até então. Mas eu não era médico, poderia ter passado pelo mesmo quadro terrível, mas cada um possuía certa forma em reagir. Enquanto eu era teimoso e me degradava usando mais e mais drogas, Frank se depreciava e tinha ataques ligeiramente violentos. O que me lembrava o casamento de Mikey, quando quis matar Adam com as próprias mãos... E me fez comparar como quando quase fiz o mesmo, em uma briga exagerada, claro, mas não possuindo aquela fúria no olhar.
Meus medos eram os de sempre... De algo se agravar, de Frank enlouquecer ou acabar se tornando um maltrapilho por aí. E nós, eu e seus amigos, estávamos tentando, à todo custo, englobá-lo a um meio melhor, com conversas amenas, idas à bares, karaokês, jogos de carteado, tudo para distraí-lo. E estava surtindo algum efeito, quando o via sorrir ou sentar-se em meu colo, mas eu ainda conseguia avistar os traços de sua dor, quando Frank ia ao banheiro ou se afastava por alguns instantes, e voltava com tristeza emanando de si. Sabia que ele estava se sentindo completamente impotente por tornar-se um homem daquela forma, mas ele não conseguiria afastar aquela imagem sem lutar.
Naquela noite em questão, o ônibus da banda estava estacionado nos fundos daquele bar na pequena cidade fronteiriça com NY, em um local um tanto quanto movimentado, obviamente chamando atenção, assim que saímos de tal. Aliás, nossos amigos saíram, enquanto Frank e eu ficamos ali dentro e eu tentei convencê-lo a nos acompanhar em algumas cervejas (para eles, não para mim), antes de voltarmos para a estrada. Frank foi simplório em pedir um pouco de silêncio, dizendo que já iria e me beijando os lábios, com aquele claro pedido para que ficasse em paz por alguns segundos.
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Surrender The Night || Frerard version
Fanfiction[Continuação de Burn Bright] " O amor nunca acaba. Não quando é real e nós dois sabemos o quanto foi. Nós vivemos, nós crescemos, nós morremos e ele continua ali, firme e forte. Vivo, incandescente e vibrando, mandando aquele incessante "É ele, é e...