23 - Gerard

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 Meu olhar estava fixo na porta do camarim de Frank há certo tempo. Aquele guitarrista estúpido havia saído dali primeiro, me encarando de forma vitoriosa, seguido de James e o baixista substituto da banda. Alguns roadies da Leathermouth passavam aqui e ali, levando os instrumentos para o ônibus da banda, provavelmente, e eu podia escutar alguns murmúrios vindos de dentro da porta prateada que eu encarava há tempo o suficiente para acreditar que Bob tinha poucas e boas para falar para Frank depois daquela... Aparição bombástica, eu diria. Só de pensar, eu...

Respirei fundo, tolamente fingindo que eu poderia me acalmar diante de uma situação como aquela. Sendo impossível fazê-lo, tentei me focar no quanto a apresentadora realmente havia gostado do jeito polêmico de Frank, o que só fez com que meu humor fosse para o espaço de uma só vez. Eu não conseguia acreditar que ele era capaz de jogar a chance dele se tornar ainda mais bem sucedido do que já estava se tornando e agir com aquele comportamento dispensável. Meu sangue fervilhava incessantemente, fruto de cada palavra gritada para mim, em sua crise quase anormal.

Frank parecia não estar ali. E, se eu não o conhecesse muito bem, teria quase certeza de que estava chapado ou algo do gênero. Nervoso, como eu julgava que estava, Frank chegou e mostrou o furacão que havia se tornado. Era o que ele sempre foi, na verdade, mas não o que eu esperava naquela noite. Não era do seu rastro de destruição que precisava, eu queria que o Frank apaixonado por música falando mais alto... E ele falava um pouco, antes daquele garoto resolver me enfrentar na frente de todos e mostrar, para quem quisesse ver, que eu era um estúpido por ter o abandonado.

Eu era, Frank me lembrava disso todos os dias e não precisava de mais lembretes sobre o assunto. A vida já estava me fodendo em silêncio, para que eu pagasse por tudo.

Parte de mim chorava por dentro ao me lembrar de como ele havia se referido ao nosso relacionamento curto e completamente vazio. Eu sabia que não havia nem um pouco daquilo em tudo o que vivemos... Mas ainda sim, doía. Como o inferno, como se estivesse queimando tais palavras em minhas costas, só para que eu me lembrasse da dor em que tudo da minha vida havia se transformado... Naquele monte de merda que havia se acumulado por eu não ter lhe mostrado o quanto Frank era essencial e mais do que valorizado em minha vida. Ele era isso e tudo mais e, por saber exatamente que ele mentia em acreditar que eu não dava a mínima para ele, depois de tudo o que estava fazendo, eu me irritei de verdade.

A raiva cresceu dentro de mim por eu ter simplesmente me esforçado para receber aquele tipo de atitude em troca. Aparecer em um programa com Frank... Não era uma maldita provocação que ele acreditava ser. Era para realmente mostrar para o mundo que a Leathermouth era uma banda fantástica e que merecia o seu devido conhecimento... Que era tão boa, tão talentosa, que entraria para a trilha sonora de um dos filmes mais esperados do momento, o que provocaria um estouro ainda maior de vendas. E eu recebi aquilo como resposta.

E não falo só sobre jogar na minha cara que eu fui o responsável pelo fim do nosso relacionamento. Era além das mentiras que ele contava, sobre tudo ser bastante superficial e fingir não ser nem um pouco importante em sua vida, enquanto nós dois sabíamos que respirávamos um ao outro. Eu não admitia que ele tivesse insinuado que... Que... Bem, ele tivesse assumido outro papel que não fosse submisso a mim. E na frente de todo mundo.

O problema não era ser tachado de passivo (okay, aquilo era um grande de um problema e feria o meu ego de uma forma absurda), mas sim o tom que ele havia usado. Frank não havia falado de brincadeira ou para me provocar, inocentemente, para que eu lhe mostrasse quem era o ativo de verdade. Ele havia o feito por pura vontade de me ver mal, para me minimizar e me menosprezar na frente de milhões de pessoas. Se fosse por outro motivo que não fosse esse, eu ia me irritar, procurar uma oportunidade de apertá-lo e encurralá-lo em um canto, para mexer um tanto com toda aquela marra que ele carregava e estava tudo resolvido. Daquela vez era diferente.

Surrender The Night || Frerard versionOnde histórias criam vida. Descubra agora