Feng e Kira desceram até o salão do restaurante, que estava terminando de ser limpo. A senhora Lin terminava de dar as instruções aos cozinheiros e às atendentes, assim como a recepcionista da hospedaria, quando viu os dois jovens.
— Senhora Lin, há algo que eu possa fazer para a senhora? — perguntou Long Feng. Se ficaria ali, não seria um fardo àquela família.
— Não precisa se... — a senhora Lin ia falando quando Long Feng a interrompeu com educação.
— Não. Se ficarei em sua casa, que eu seja útil aos moradores. — Long Feng disse no mesmo tom neutro e educado.
— Se você insiste, então você e a Kira podem fazer as compras para repor os estoques. — a senhora Lin disse, retirando um pedaço de papel do bloco que carregava. — Aqui estão as compras da manhã. À tarde eu vou pedir para ir ao mercado de peixes.
— Arroz, sal, trigo, carvão, ovos e dois conjuntos de louça. — "céus, mamãe", Kira reclamava, enquanto os dois iam pelas ruas de Nakatari. — Isso tudo é pesado...
Long Feng se manteve calado enquanto seguia Kira, que por sua vez ia resmungando e dando bom-dia aos conhecidos. Logo chegaram ao mercado onde os alimentos da lista eram vendidos.
— Tio, me vê dez quilos de arroz, ah! E não se esquece que a mamãe encomendou um pedido de cinco sacas de vinte quilos para o senhor. — Kira conversava animada, arrancando sorrisos. — Eu também quero dois quilos de sal, cinco de trigo e três dúzias de ovos.
— Tudo isso sobrinha? — perguntou o senhor da venda. — Não é muito pesado?
— Eu levo. — Long Feng falou por Kira. O vendedor e Kira ficaram surpresos.
Amarrou bem os insumos comprados, estavam em fardos bem apertados, sendo levados em braçadas e nos ombros de Long Feng.
— Não está pesado? — Kira perguntou curiosa. Ela carregava apenas os ovos.
— Não. Meu mestre era mais rigoroso. — respondeu Long Feng. — Carregar nem vinte quilos nas costas são considerados exercício leve por ele.
Surpresa com a resposta, Kira foi ao oleiro. Comprou dele o conjunto de louça que faltava.
— Agora só falta o carvão! — ela disse, animada em voltar logo.
Chegando ao carvoeiro, ele se surpreendeu com a visão de Long Feng carregando tantos produtos nas costas. Lembrava até a figura de um escravo. O que o diferia tanto dos escravos era o corpo muito mais sadio e forte.
— Oi, Tio. — Kira cumprimentou. — Precisamos de três fardos de carvão.
— Aqui, Kira. — disse o homem, entregando o carvão a Kira.
Quando ela ia pegar, uma mão se meteu no meio: era Long Feng. Os produtos que levava se equilibravam perfeitamente, dando tempo para se abaixar e pegar os fardos.
— Que achado, hein Kira? — perguntou o carvoeiro, brincalhão, arrancando um rubor de Kira.
— Para de brincadeiras, Tio. — ela respondeu, pagando pelo comprado.
Andando pela rua, as pessoas se assustavam e apontavam para Long Feng, que carregava compras como um escravo. Kira se sentia sem graça sendo o centro das atenções, mas mesmo assim chamou o seu quinhão de atenção, vendo que tinha apenas ovos e alguma louça nas mãos.
Chegando perto da hospedaria, Kira mostrou onde era a entrada dos fundos, abrindo a cerca para Long Feng passar. Ele chegou perto da porta da cozinha e depositou gentilmente os ingredientes no chão. Abriu a porta e já se enturmou com os funcionários, perguntando onde colocava cada compra.
— Há algo mais para fazer? — ele perguntou.
— Se quiser pode cortar a lenha. — respondeu o cozinheiro chefe. — Temos pouca lenha para alimentar o fogão até o fim do dia.
Pegando o machado, o jovem hóspede da casa de Kira vai ao jardim dos fundos cortar a lenha. Despiu sua camisa e foi cortar a lenha. Algo naquele machado estava estranho... Testou a lâmina e viu que estava cega.
"Não é para menos. Até um fio de cabelo corta melhor que isso" pensou Long Feng. Amolou o machado da forma que seu mestre o ensinou e testou a lâmina: perfeita.
Nas próximas horas, sua tarefa de cortar lenha era a única coisa em sua mente: colocar a madeira, levantar a lâmina, descer velozmente, cortar ao meio e novamente ao meio. Nesta cadência e depositando a lenha cortada, Long Feng passou as horas até o almoço ficar pronto.
— Long Feng, o almoço está servido... — Kira o chamou, vendo o rapaz sem camisa, suado e a lenha toda cortada. — Você cortou toda a lenha?
— Sim. Nada de mais. — ele respondeu, olhando para as mãos de Kira: tinha uma pequena bandeja com o seu almoço, composto de algumas tigelas tampadas, o par de hashi e um copo junto de uma jarra. — Ah! Obrigado pela gentileza de trazer o almoço.
— De nada. — Kira disse voltando para dentro, meio aturdida.
Provara do arroz, do caldo de legumes, do peixe cozido e do chá. Estava delicioso. Parecia uma verdadeira refeição do Leste. Terminando, vestiu a camisa e foi à cozinha, lavar sua louça. Procurou pela senhora Lin e perguntou se tinha algo a fazer.
— Só mais tarde. — ela olhou para o relógio de sol no parapeito. — Ainda é cedo. Os pescadores devem chegar mais tarde. Se quiser, pode descansar no seu quarto.
Com o tempo de descanso dado, Long Feng resolveu ler um pouco dos manuais de esgrima dos estilos da Sombra do Lua e da Lua Branca. Lia ambos os manuais, pois a compreensão cada vez mais avançada do Estilo Sombra do Luar permitia acessar as técnicas mais avançadas do Estilo da Lua Branca.
O início da tarde estava refrescante com aquela brisa marinha. Pegando-se de surpresa, Long Feng logo notou que observava a costa pela janela de seu quarto, localizado nos fundos do Bom Sonhar. Aquele lugar singelo parecia trazer alguma paz de espírito para ele num nível muito profundo.
Perdido em pensamentos, Long Feng não notou o tempo passar rapidamente. Num piscar de olhos, duas horas se passaram. Seus sentidos mais periféricos avisaram de que alguém chegara naquela parte do Bom Sonhar.
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Renascer de Um Herói
FantasyNo continente de Wei, um das grandes nações que dominam a maior península do continente é o Império das Cinco Bestas Divinas Huang Long. Nele, as leis marciais ditam a política: artistas marciais e espiritualistas se destacam com seus poderes e habi...