Feridos e Surpresas

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Logo após a condenação de Tokko Hyuk, a lâmina da espada de Lorde Okusame estava rubra de tanto sangue. Num movimento rápido, o líquido acumulado foi limpo da lâmina e, com um movimento fluido, o lorde guardou a espada. Estalou então os dedos e nove guardiões surgiram — vestidos todos como Kin e Gin.

— Limpem este local. Quero todos os pertences e espólios de roubos e ataques feitos pelo bando. — ordenou em tom sério. — Os corpos serão empilhados na parte leste deste local e deixados para as bestas da montanha comer seus restos.

— E quanto a este aqui? — Soon Kong perguntou, apontando para o criador de barreiras.

— Mate-o.

— Espere, por favor, Lorde Mestre. — pediu Feng. — Sinto uma tênue ligação entre ele e entrada da caverna.

O homem foi acordado sem muita gentileza por Soon Kong. Com as devidas ameaças, ele desfez a barreira — a bem da verdade, Feng poderia fazer isso sem muitos problemas, mas com aquela essência espiritual em sua mão e machucado como estava; fácil é o que não seria.

— Lorde Mestre, o senhor teria um cristal de contenção?

— Tenho um. — respondeu retirando um do bracelete.

Cristais de contenção eram pequenas esferas de uns seis centímetros de raio, usadas para estocar uma essência espiritual. O jovem guardou a essência espiritual do Gorila Negro da Montanha e de seu bracelete, retirou uma poção de tom verde-claro e a tomou. Era uma poção de cura focada exclusivamente em remendar de ossos. O alívio em seu tórax foi rápido. Enquanto isso, Soon Kong entrava na caverna, trazendo seus prisioneiros: uma mulher trajada como uma nobre — com certeza a esposa do lorde — e cinco mulheres, todas com roupas de integrantes da corte — com certeza elas eram as guardiãs da Lady Okusame.

— Ujiyasu! — exclamou Lady Okusame, aliviada e com muita felicidade. Lady Okusame era uma mulher linda, com longos cabelos preto-obsidiana de Ayame e os olhos amarelo-âmbar de Rin. A altura dela estava entre o alto de Lorde Okusame e a altura de Long Feng.

— Megoyo! — Lorde Okusame exclamou de volta, ignorando os protocolos. Correu para abraçar forte e protetor sua amada esposa. — Aconteceu alguma coisa com você?

— Comigo não, mas uma de minhas guardiãs está envenenada! — a aflição em sua voz era evidente, parecia ter certo apego às mulheres que fielmente a protegiam.

— Com a sua licença, Lady Mestra Okusame, mas este servo gostaria de saber se senhora tem alguma ideia de qual o veneno usado. — Feng disse humildemente.

— Quem é este jovem, marido?

— Um jovem de confiança. Pode confiar nele.

— Eu ouvi algo como Sombra da Víbora? — ela respondeu muito incerta. — Não consegui entender muito bem.

A Sombra da Víbora era um veneno que consumia seu alvo de dentro para fora. No primeiro estágio, pústulas azuis surgiam perto do ferimento e a língua escurecia. No segundo estágio, a pele ao redor do ferimento começa a necrosar e o sangue a engrossar. No terceiro e último estágio, o sangue já se tornou veneno, além de outros pontos de necrose se espalhar pelo corpo.

— Retirem as roupas dela. — Feng pediu. Seu tom profissional impedia que os outros à sua volta pensassem besteira dele. Analisou calmamente: o local da ferida, a língua, a consistência do sangue e até o seu gosto. — Estamos com sorte, ela foi envenenada pelo veneno que Lady Okusame disse ser, mas está no primeiro estágio. Seu antídoto neste estágio é fácil e rápido de ser preparado.

Usando algumas ervas de coloração extremamente chamativa, um bule com água, uma fonte de fogo, um pilão e uma poção de cor laranja, Long Feng criou um chá de aroma cítrico e amargo muito forte. Ele tomou a cabeça da mulher envenenada em seu braço esquerdo e com o direito a ajudou a beber o chá, um pouco de cada vez. O primeiro gole a fez tossir. O segundo a fez ter um acesso de vômitos onde expeliu o veneno acumulado em seu estômago. Nos dois últimos goles, o próprio ferimento expulsou o resto do veneno pelo local da ferida. Uma atadura com um emplastro de ervas frescas foi colocado na ferida e em quatro a sete dias estaria como nova.

— Muito obrigada, Jovem Mestre Long Feng. — a nobre agradeceu. — Estou em débito para com você.

— Eu não fiz nada que não fosse meu dever para com a gentileza de Lorde Okusame e vossas filhas. — Feng respondeu extremamente educado.

Nos quase quinze minutos de recuperação das forças da guardiã, Long Feng quase deixou escapar a segunda aura estranha que ele sentiu. Analisou as auras das outras quatro mulheres que acompanhavam Lady Okusame, quando entendeu por fim: era da própria Lady Okusame que vinha tal aura.

— Lady Okusame — chamou ainda em dúvida —, a saúde de milady se encontra em ordem?

— Sim, por que a pergunta? — Lady Okusame perguntou preocupada.

— Tem algo de diferente na aura da Lady Okusame... Parece um pequeno ponto na região do ventre... — Feng comentou ingenuamente.

— Teremos um terceiro? — Lorde Okusame perguntou eufórico.

— Eu pretendia manter segredo até estar mais avançada, mas teremos uma terceira criança, Ujiyasu. — Lady Okusame respondeu esbanjando felicidade.

Depois de duas longas horas, a comitiva de Lady Okusame, Lorde Okusame, Soon Kong e um surrado Long Feng — sendo amparado por um dos guardiões do lorde — voltavam rumo à mansão do lorde.


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O grupo de Lorde Okusame chegou à mansão, dirigindo-se todos para o pátio onde as visitas eram recebidas. Os servos se ajoelharam e os guardas entravam em posição de sentido. O casal que representava toda a casa Okusame se encontrava ali. Nem mesmo o patriarca do Clã Ondas Divinas tinha mais poder que os dois, Lorde e Lady.

— Irmão Mais Velho. — um homem muito parecido com Lorde Okusame cumprimentou. — Não tem ideia de como fico aliviado com o seu retorno e com a Irmã Megoyo incólume e saudável.

— Irmão Yoshimitsu, obrigado pelos votos. — agradeceu Lady Okusame. — Marido, irei para os meus aposentos, esta comoção em que fui envolvida cansou-me.

Acenando, Lorde Okusame desmontou de seu poderoso corcel, chamando um médico.

— Cuidem deste jovem. — ordenou apontando para Long Feng. — Eu tenho uma dívida de gratidão para com ele e, se não fosse os seus esforços, poderia ser tarde para algumas pessoas.

Surpresos, os presentes não esperavam que Long Feng tivesse tamanha gratidão por parte do lorde da cidade.

— Arrumem também um quarto na Ala dos Hóspedes para Long Feng. — ordenou novamente. — Esta noite ele dormirá sob o teto e os cuidados da Casa Okusame.

Guiado até a ala médica da mansão, os médicos que serviam na mansão do lorde inspecionaram o corpo de Long Feng: saudável e em ordem, embora os ferimentos do combate fossem um pouco sérios. Umas três costelas quebradas e duas fissuradas, mas que se remendavam rapidamente, hematomas nas costas e braços. O pulso estava a um passo de ser machucado. Enquanto ficava calado, Long Feng assistia aos médicos preparem os remédios e chás para ele beber, sendo um bom paciente.

Mais tarde, depois do jantar servido em seu quarto de hóspede, Long Feng desmaiou de cansaço. Era o primeiro dia em que fora tão exigido de seu corpo desde que chegou a Nakatari.

Renascer de Um HeróiOnde histórias criam vida. Descubra agora