Trunfos

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O Hannya Líder e Long Feng estavam se estudando, tinham mais de três metros separando um do outro. A aura dos dois se manifestava nos elementos que tão bem dominavam: duas auras de um vermelho profundo, evidenciando a perícia do elemento fogo.

Mas o assassino, diferente de Long Feng, parecia receoso de usar o fogo ali embaixo. O mais novo, no entanto, ignorava o mesmo pensamento. Avançando, ele começou a lançar bolas de fogo, línguas e dardos flamejantes, defendidos com esmero pelo oponente.

À distância de uns três passos, o Hannya Líder sacou uma tanto e Long Feng usou seu trunfo mais custoso: uma espada de ki espiritual foi conjurada por ele em sua mão esquerda, não dando tempo para uma defesa precisa o suficiente pelo lado do inimigo — até ali Feng se mostrou destro, não canhoto nem ambidestro. O golpe foi bem-sucedido, mas assim que balançou a espada, a mesma piscou como se estivesse falhando.

"Meu braço está quase sem ki..." ele pensou.

— Já está perdendo o seu brinquedinho? — perguntou o homem, certo de que o garoto estava ficando se ki. — Terminaram seus trunfos?

Long Feng deu continuidade à luta, trocando golpes de mãos nuas contra a arma oponente enquanto concentrava a maior quantidade de ki possível naquela situação. Sua aura vermelha diminuiu um pouco, começando a ficar instável. O Hannya Líder ficou animado, notando com satisfação que o garoto, embora complicado de lidar e um demoniozinho cretino cheio de truques nas mangas, começava a ser colocado contra a parede. Correndo contra o tempo, o líder dos assassinos pegou um frasco de barro cozido e o quebrou na lâmina da arma, fazendo-a soltar uma fumaça roxa.

— Você é louco?! Isso é tóxico demais! — gritou Long Feng, inconformado com a insanidade do homem.

— Vale tudo para vencer. — disse o homem.

— Obrigado pelas palavras de sabedoria. — retrucou.

E a aura vermelha de Feng foi tomada por um turbilhão tempestuoso de raios verdes e azuis. Seus cabelos, antes presos num rabo de cavalo, agora estavam eriçados e dançando junto dos raios. A carga elétrica estava toda condensada na mão direita. O Hannya Líder só precisava tomar cuidado com aquele braço.

Isso é um trunfo. — disse Feng, movendo o braço direito como se passasse a energia para o lado esquerdo!

Não! O moleque não podia usar o braço esquerdo!

Das pontas dos dedos da mão esquerda de Feng, uma verdadeira chuva de raios foi disparada sobre o tronco do Hannya Líder, varando o tórax do homem e fazendo-o cair morto no chão. O calor e a potência dos raios foram suficientes para cauterizar o rombo feito, levantando uma fumaça fedorenta.

Assim que acabou a luta, Feng perdeu parte da força nos joelhos, lutando um bocado para se levantar. Tinha que se afastar do defunto do líder. A duras penas, conseguiu.

— Kenta, coma uma dessas e dê a outra para o filhote. — disse Feng, entregando outro par de pílulas para o menino.

Após vê-lo consumindo o remédio, Feng respirou mais calmo, consumindo ele o remédio e então sacando um kit de alquimia. Trabalhou sentado, sacando ervas, raízes e umas frutinhas bem pequenas e pilando tudo com vontade até criar uma pasta verde-escura. Adicionou uma mistura de pó de osso de besta, cristal de essência laranja e um pouco de Essência Solar. A bebida foi vertida direta e logo o formigar irritante no braço foi substituído por um pinicar incômodo, regenerando os tecidos e veias espirituais mais danificados.

Feng então sacou o maior pincel de caligrafia que o menino já tinha visto antes: parecia até uma alabarda, mas com as cerdas no lugar da lâmina. Feng coletou um pouco do sangue do grupo e o colocou num compartimento de tinta na ponta do cabo. Completou com tinta e o fechou. Gradualmente as cerdas do pincel se tornavam escuras e então escarlates.

Foi então escrito o ideograma de "sumir" e "apagar", assim como um conjunto de muitas inscrições. Antes de ativar tudo, Long Feng recolheu os itens espaciais e as máscaras. Quando ativou as inscrições, tudo relativo àqueles corpos no raio de ação determinado por Long Feng era sugado para um ponto central a uns palmos de altura e então eram desintegrados até sobrar nada.

A exaustão era demais, usara tanto ki que quase secou seu dantian. Querendo evitar o pior, Feng tomou outras duas pílulas de tom índigo, repondo seu ki. Virou-se para Kenta e viu a dor do menino: o filhotinho não parecia que ia durar muito mais tempo.

— Kenta, eu tenho um jeito de permitir que vocês dois possam viver juntos. — disse Long Feng. — Mas tem um preço: você nunca mais na sua vida poderá usar qualquer outra essência espiritual de besta. Entende a gravidade do que eu digo?

— Sim. — respondeu o menino com uma voz embargada. — Só não deixa o meu amigo morrer... Eu nem dei um nome...

Feng pousou um potinho de tinta na frente de Kenta e o instruiu: colocaria algumas gotas do sangue dele e do filhote de Lobo. Enquanto ficava imóvel, o menino era coberto por muitas inscrições que eram feitas por um pincel próprio para isso. O corpo de Kenta e do lobinho estavam coalhados de desenhos, esquemas e símbolos quando Long Feng guardou os materiais. Numa complexa e elaborada sequência de selos, Feng conjurou a técnica, usando seu corpo como fonte de ki.

— Técnica da União das Almas. — disse Long Feng.

Uma luz forte envolveu Kenta e o filhote. Quando a luz se dissipou, somente Kenta estava ali, sentado sem o filho em seu colo.

— Cadê? — ele perguntou agitado.

— Dentro de você. Não consegue sentir?

O menino fechou os olhos e pareceu sentir que tinha algo mais dentro de si. Sorridente, ficou muito satisfeito de ver que era o jovem Lobo que aparecia na sua percepção interna.


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Depois de algumas horas descansando, Feng notou que a aura opressora da múmia sumira, assim como o próprio corpo preservado. Em seu lugar, somente o anel de ouro fosco.

— Esquisito. — comentou Long Feng.

Assim que colocou o dedo no anel e enviou sua percepção para dentro do anel, Feng ficou paralisado numa expressão de surpresa e descrença.

— O que foi? — perguntou Kenta assustado com a cena.

— Olhe. — respondeu Feng, passando o anel para o menino, que teve a exata mesma sensação.

— Isso... isso é muito poderoso... — disse o menino.

— Sim. — concordou o mais velho, pegando o anel de volta. — Estes artefatos estão aqui... Kenta, você sabe o que é isso?

— Meu tutor me disse serem os tesouros do primeiro Imperador. — respondeu o menino.

— Sim, eu também imaginei. — disse Long Feng. — Mas não houve nem meio boato de que estavam perdidos ou extraviados! Como que vieram parar aqui?!

— Talvez o meu pai saiba. — respondeu Kenta. — Quero dizer, ele é um nobre amigo do Lorde Okusame. E Lorde Okusame é um nobre do Império, faz parte do Exército Imperial...

— Isso será o nosso segredo. — disse Feng. — Não podemos deixar isso aqui cair em mãos erradas. Aliás, tenho uma sugestão, por que não cultiva? Quanto mais você cultivar, mais a essência do Lobo vai se acostumar com o seu corpo.

O menino acenou animado, sentando perto da pilastra onde a múmia se encontrava e começando a cultivar, envolvendo-se numa aura azul.

— Agora é só esperar. — disse Feng enquanto esperava os demais.

Renascer de Um HeróiOnde histórias criam vida. Descubra agora