Dama do Gelo

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A voz que perguntou à dupla era frígida, parecendo ser a fonte daquela temperatura tão baixa. Kira ainda estava atrás dele, e Feng não queria alterar essa disposição tão cedo. Resolveu dar uns dois passos adiante e falou:

— Pedimos desculpas à senhora, nobre Dama. — desculpou-se pelos dois, ajoelhando-se, sendo imitado por Kira. — Estávamos no topo deste platô quando um acidente ocorreu e precisamos fazer uma manobra ligeiramente desesperada para salvar nossas vidas.

— Sim, eu sei. — a mulher devolveu. Parecia meio irritada. — Afinal, fui eu quem fez aquele prolongamento do platô cedesse.

— Mas por que a senhora fez isso? — perguntou Kira.

— Porque você tem um sangue que me incomoda. — a mulher respondeu, apontando para Kira, acusadora tanto na expressão facial quanto na expressão corporal.

Num átimo, duas lanças de gelo cristalino foram criadas e disparadas direto para os corações de Kira e Feng. Ambos foram pegos tão despreparados que não conseguiram nem mesmo pensar em se defender. A uns poucos milímetros de contato com seus corpos e a aura gélida já envolvia ambos os corpos, quando um pequeno ponto de luz prateada se fez presente, detendo o avanço das lanças.

— Vocês foram marcados por ela? — a linda mulher perguntou meio receosa.

Ela seria quem, nobre Dama? — perguntou Feng, achando muito difícil de manter aquela educação toda diante da ameaça iminente de morte.

— Mestra Garça da Lua. — a mulher respondeu baixinho. — Vocês a conhecem...

— Como a nobre Dama sabe disso? — perguntou Feng, começando a tecer alguma teoria em sua mente. — Tem algo a ver com esta luz prateada?

— Sim. — a mulher respondeu, saindo de sua ilhota de gelo e, enquanto caminhava sobre as águas, a superfície congelava criando seu caminho. Chegou diante de ambos, apontou para seus corações e uma projeção mostrou-se lindamente: uma efígie de uma garça de pé com uma lua crescente atrás dela, feita de prata líquida. — A efígie da Mestra Garça da Lua é um indicativo que ambos possuem um coração livre de malignidade. Mesmo que você, jovem homem, tenha desejo pelo sangue daqueles que conspiraram à sua vida, ainda tem apreço pela vida dos inocentes e dos justos.

— E por conta dela, a senhora não pode nos tocar... — Feng comentou mais para si que às outras duas.

O silêncio imperou na caverna e, depois de alguns minutos, a mulher desmaiou sem forças na frente dos dois, dissipando as lanças em poças d'água. Preocupada, Kira acudiu a mulher enquanto a aura pareceu repelir Long Feng e abraçar Kira gentilmente.

— Senhorita Kira. — Feng a chamou na entrada da câmara que se encontravam. — Acho que esta besta humanoide está perto de voltar à natureza.

— Ela vai morrer? — Kira perguntou meio aflita.

— Não necessariamente. As bestas não morrem como nós, seres humanos. Mas sim retornam para o ciclo da vida da natureza. A senhorita conseguiu suportar a aura de gelo dela. Posso estar apenas atirando no escuro, mas ouso afirmar que a senhorita tem o elemento gelo entre os elementos que pode usar.

— E o que vamos fazer? — Kira perguntou aflita: era de fato uma pessoa pura de coração para receber aquela efígie.

— A senhorita pode assimilar a essência espiritual dela. Pergunte a ela, ofereça seu sangue. Se ela responder positivamente, não teremos problemas em fazer o ritual.

Entendendo o que precisava fazer, Kira cortou a ponta de seu dedo anelar esquerdo, deixando pingar o sangue na boca da mulher. Seus lábios pálidos perolados tornaram-se rubros e brilharam, despertando-a da sua fraqueza.

Renascer de Um HeróiOnde histórias criam vida. Descubra agora