Resiliência

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O toque na porta pegou-o de surpresa — afinal, quem poderia ir até o seu quarto? Não chamou nem mesmo os médicos...

— Pode entrar. — Long Feng deu a autorização à pessoa na porta.

A porta abriu e a pessoa não era ninguém menos que a moça que ele salvou: uma mulher adulta que parecia ter menos de uma vintena de idade. De pele clara, cabelos castanhos com um leve brilho amarelo dourado, olhos cor de âmbar e uma silhueta comum para uma mulher da corte. Chamaria a atenção dos homens à sua volta se não irradiasse aquela aura de mistério.

— Se quiser, pode sentar-se aqui. — ele a convidou, pegando uma almofada para se sentar no chão de tatame, típicos do Leste.

— Jovem Mestre, esta serva veio à vossa... — ela começou falar, sendo interrompida por Long Feng.

— Se quiser conversar comigo, terá que me dizer seu nome e se tratará comigo como seu igual. — Feng disse sério. — Não quero que ninguém como você se rebaixe a mim.

— Alguém como eu?

— Alguém que é importante e amada. Notei nos olhares das outras guardiãs e de Lady Okusame quando curei você do veneno ontem e hoje, mais uma vez, sua senhora veio agradecer pelo salvamento e cura.

Lágrimas de felicidade desceram a suave curva do rosto da jovem mulher.

— Eu me chamo Nakamura Yumiko. — apresentou-se, arrumando um pouco a almofada. — Vim hoje até você, Jovem Mestre, para agradecer pessoalmente pela minha vida ter sido tirada das garras da morte.

— Não foi nada. — disse Feng com neutralidade. — Era o que qualquer um faria.

Aquela mulher, por mais bela que fosse, parecia meio ousada. Seu quimono, em vez de bem amarrado, estava ligeiramente folgado e revelava um pouco do decote avantajado, além dela arrumar a almofada um pouco perto demais de Long Feng.

Yumiko se aproximava encarando o jovem com aqueles lindos olhos âmbar e os lábios rosados ligeiramente abertos. Quando Long Feng estava se sentindo acossado, da mesma forma como se uma tigresa estivesse encurralando um cervo, Yumiko beijou-o delicadamente, como se ela adivinhasse que esta era a primeira vez do garoto beijando uma mulher. Ela parecia saber o que fazer, por ser de fato ela quem o guiava: movia seus lábios enquanto ele só repetia os movimentos. Uma mão boba dela começou a entrar por debaixo de sua camisa, querendo desabotoar os botões, quando a mão de Feng a deteve. Com sua mão livre, ele pressionou o curativo, arrancando um "ai" baixinho vindo dela.

— Eu até gostaria de aproveitar a presença de senhorita Yumiko, mas... — era uma das primeiras vezes que ele ficava sem palavras, ruborizando e arrancando um leve sorriso da jovem mulher. — Eu não sei o que pensar... são muitos sentimentos. Além disso, o machucado da senhorita ainda não sarou por completo. Dependendo do que tivesse em mente, o machucado poderia abrir.

Uma sombra de derrota passou pelo olhar de Yumiko, mas ela se conformou.

— Poderia pelo menos ver o machucado? Está incomodando.

— Claro. Só retire a parte de cima do quimono.

O ferimento, na altura de suas costelas, ficava um pouco abaixo dos seios de Yumiko. Não havia tecido morto ao redor e parecia estar se curando bem.

— O que vou fazer pode doer. — Feng avisou quando apertou o machucado, um pouco de sangue e veneno remanescente saíram pela ferida. — Parece que seu corpo ainda tem um pouco de veneno. Espere um pouco que faço um chá mais concentrado.

Os ingredientes foram quase os mesmos do dia do resgate, exceto por um que foi adicionado: uma flor roxa com estames brancos.

— A Lágrima da Rainha? — perguntou Yumiko, curiosa com o último ingrediente. — Não serve para fazer venenos?

Renascer de Um HeróiOnde histórias criam vida. Descubra agora