Rapto

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Kira ainda pensava em Long Feng, preso na mansão do Clã das Ondas Celestes. Conhecendo a nobreza, ele ficaria lá pelo menos até a comitiva do Oeste voltar. Notando que os pensamentos não a ajudariam a fazer o trabalho, Kira se concentrou em seu cultivo, estudo das técnicas passadas por Feng e, como sempre, ajudar no Bom Sonhar.

Agora que desenvolvera mais seus poderes, Kira conseguia agir como segurança para os casos mais simples, mais discretos, aqueles que precisavam apenas dar algum medo ao baderneiro — quase sempre eram homens.


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Lá por volta de uma semana após aquele longo e conturbado dia na Mansão do Lorde, Kira já começava a dominar mais harmoniosamente o elemento gelo e, para sua surpresa, o domínio do sangue. Quando usou o domínio, ela sentia quase como se usasse as cordas de uma marionete, mas de forma muito grosseira, sem jeito, bruta. Agora mais parecia uma criança aprendendo a mexer mais delicadamente com a marionete.

Num dia particularmente quente, ela resolveu tentar tomar a Forma Espiritual, se surpreendendo por conseguir, mas logo caindo fraca depois de uns poucos minutos. Uma pontada no abdômen, mais especificamente na altura do umbigo, a incomodava. À noite, quando dormia profundamente, Kira sonhou conversar com uma nevasca que lembrava vagamente a silhueta humana.


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Estava no meio da segunda semana de confinamento de Long Feng e, pelo que as notícias sopravam até o Bom Sonhar, a comitiva do Oeste logo voltaria para casa.

"Já não era sem tempo" ela pensou enquanto arrumava algumas das mesas do salão "Fazer parte do seu trabalha está ficando chato".

Mais uns dias e Kira sonhou novamente com a nevasca ligeiramente humana, embora desta vez, o sopro gélido das montanhas parecesse uma voz, quase um grito abafado. Parecia querer gritar por algo, quase em tom de aviso.


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Uns dias depois do sonho esquisito, Kira correu para o centro da cidade, fazer algumas comprar de emergência para a casa, notando que uma comitiva típica da nobreza ia a passos ritmados para fora da cidade. Olhando com mais cuidado, viu-se que era a comitiva do Oeste.

"Já não era sem tempo!" ela pensou animada e aliviada, feliz que finalmente teria a carga de trabalha diminuída.

Comprou os itens da lista e logo retornou ao Bom Sonhar, sentindo um arrepio esquisito correr-lhe a espinha.


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O dia seguinte precisava prometer algo de bom: casa cheia, hospedaria e restaurante, com clientes fazendo praticamente pedidos atrás pedidos. A equipe estava atarefada e, lá para o fim da tarde, finalmente foram aliviados do movimento intenso.

— Deuses, que cansaço... — reclamou Kira, escorada numa das pilastras e usando a bandeja como leque. — Mãe, tem algum pedido a mais?

— Graças aos céus, não. — a senhora Lin respondeu também cansada e usando uma bandeja de leque.

A porta da frente do restaurante foi corrida e logo os sinos da entrada soaram.

— Opa, cliente. — disse a senhora Lin, erguendo-se e sinalizando para Kira também fazê-lo. — Boa tarde, caro cliente. Seja bem-vindo ao Bom Sonhar. Nosso restaurante possui uma boa oferta de comidas, bebidas e doces locais. Mesa para somente um?

Quando disse a frase protocolar, a senhora Lin não notou o homem usando um manto preto que arrastava no chão, em pleno verão, com a face coberta parcialmente por um chapéu de palha. O homem estranho respondeu erguendo apenas o indicador.

— Filha, veja as outras mesas. — disse a senhora Lin quando notou que o homem estava estático, encarando Kira como se a desejasse por qualquer razão. Virou-se séria para o homem e disse: — Por aqui.

A mesa ofertada pela senhora Lin era uma bem no canto usado por ela para ficar de olho em clientes potencialmente problemáticos. Logo depois do pedido do homem ficar pronto, a senhora Lin deixou propositadamente a filha trabalhar nas mesas mais distantes do lugar ocupado pelo cliente esquisito.

Na maior parte do tempo, ele se comportou bem, sendo até educado com a atendente destinada somente a ele, elogiando a comida e o atendimento. Quando terminou, ele chamou especificamente por Kira.

— Filha, não vá. — disse a senhora Lin, receosa com o homem desde que o viu encarar a filha tão intensamente.

— Está tudo bem, mãe. — ela respondeu confiante. — Long Feng me ensinou algumas coisas e eu tenho meus meios de lidar com uma mão boba ou duas.

A garota foi até a mesa do homem, apresentando-se:

— Gentil cliente, eu sou Kira e, em nome do Bom Sonhar, venho agradecer a você por escolher a nossa casa e pelos seus elogios a toda nossa equipe.

Assim que terminou de falar, Kira sentiu que uma aura estranha, invasiva, a cobrindo da cabeça aos pés. Seu instinto falou mais alto e ela logo seguiu a aura, notando os olhos do homem acendendo como gemas iluminadas, feitas de luz. E essa mesma iluminação a incomodava, ainda mais que a aura. Aquele olhar, intenso e alienígena, de alguém que não piscava e mal mexia a face... Era como se sentir um rato encarando a naja mais perigosa do mundo diretamente nos olhos.

Dentro de si, Kira sentia que uma força a impulsionava a lutar, quase como um sopro de vento forte. Seu dantian circulava o seu ki furiosamente, invocando as auras que desenvolvera até então: o azul profundo da água, o azul-claro do gelo, o escarlate do sangue, o amarelo diáfano do ar. Lentamente, a sensação de ser encarada, quase comida, nua, pelos olhos do homem foi se dissipando a muito custo. O homem, notando a resposta lenta de Kira, levantou-se se súbito, assustando aos demais — agora diante de Kira, via-se que ela era bem mais baixa que ele.

— Escute aqui... — começou a senhora Lin, mas uma força assustadora a prendia no lugar.

— Levarei a menina. — disse o homem, tocando com a ponta do dedo na testa de Kira, fazendo-a desmaiar.— Se chamar por ajuda, voltarei e matarei a todos.

Um pulso denso e veloz passou pelo corpo de todos no Bom Sonhar, fazendo com que todos desmaiassem.

O homem oculto pelas roupas escuras retirou uma máscara de oni dos bolsos internos: branca com detalhes em vermelho, azul e ouro, vestindo-a.

A máscara sorria malignamente.

Renascer de Um HeróiOnde histórias criam vida. Descubra agora