- Pode me passar a geléia, por favor querida? - mamãe perguntou, me encarando com aquele olhar amável de sempre.
Peguei o pote de geléia para a entregar até que me lembrei das últimas recomendações médicas:
- Mãe, o doutor Phill não aconselhou que a senhora evitasse doces por algum tempo?
- O doutor Phill gosta muito de assustar. - ela disse daquele jeito brincalhão que sempre tinha.
A entreguei o pote, ainda com um olhar desconfiado.
- Eu estou definitivamente morto. Não tenho mais tanta energia para brincar com seu irmão. - papai disse, vindo se sentar conosco, na nossa toalha de piquenique.
Observei Ian pulando atrás de um passáro que provavelmente estava se perguntando o que ele estava fazendo.
- E quando vamos conhecê-lo, Olie? - mamãe me perguntou com aquele mesmo sorriso astuto nos lábios.
- Conhecer quem? - me fiz de desentendida, mas foi mais pelo susto de aquilo ter sido levantado tão de repente.
- É. Conhecer quem? - papai se voltou à ela.
- O namoradinho de Olie.
- Mãe!
- Como é? - papai voltou seus olhos verdes a mim e eu não gostei de receber tanta atenção assim.
- Ele não é meu namorado, pai. - eu tratei de retratar aquilo o mais rápido possível. - Ele é só um amigo...
Mas mamãe parecia uma daquelas adolescentes birrentas às vezes e não podia perder um oportunidade. Às vezes aquilo me constragia, mas no fim das contas, eu apostava que era aquilo que a tornava tão jovem apesar de sua idade:
- Mas amigos não vão em casa pedir a mão de uma garota em namoro. - ela piscou como se consideresse outra ideia.
- Alguém pode fazer sentido? - se papai estava perdido, imagina eu:
- Mãe, do que a senhora está falando?
- Encontrei o Will essa semana no mercado. - ela disse, toda contente. - Ele perguntou se podia me chamar de sogra.
- E por isso a senhora presumiu que ele me pediria em namoro? - a encarei sem acreditar que ela havia despejado aquilo em papai.
Papai era um amor de pessoa. O melhor pai que eu já havia visto, porém quando falávamos de garotos, ele podia tender a ser um pouco neurótico. Só um pouco.
- Não. Não é uma presunção, na verdade é uma constatação. Ele me disse isso e ele vai falar com você. - ela comeu outra torrada com geléia. - Finja surpresa; não diga que eu falei.
Eu olhei para papai e seus braços estavam cruzados:
- Pai, eu juro que não fiz nada. No máximo um abraço, mas juro que foi tudo e inocente e...
- Se ele vier falar comigo, tudo bem. - ele mexeu no meu cabelo escuro, o bagunçando completamente.
- Oi? - seria um milagre natalino? Mas nós ainda não estávamos longe do natal?
- Acho que tenho sido meio duro sobre essas coisas. - ele deu uma olhada de canto de olho para mamãe e eu soube institivamente que tinha dedo dela nisso. - Você é uma menina incrível e super inteligente; sei que nada vai desviar você do seu foco.
Eu sorri.
Nem estava acreditando.
- Obrigada, papai. Obrigada, mamãe. - ela me deu uma piscadinha.- Você nem vai acreditar! - eu disse sentindo meus olhos brilharem, se é que isso é possível.
- O que foi, amor? - ele disse com aquela voz toda encantadora dele.
- Já falei pra você não ficar me chamando de amor por aí; nós não somos namorados. - senti vontade de acrescentar um "ainda", mas eu quis o torturar.
- Assim você me machuca. Amor. - ele fez de propósito; ele adorava me provocar.
- Meu pai aceitou numa boa você vir aqui me pedir em namoro!
- Espera, como é que você...
- Lição número um: não conte nada para a minha mãe. Ela não sabe guardar segredos. - ele riu um pouco.
- Ok. Anotado. - era quase visível ele sorrindo do outro lado da ligação. - E quando posso ir aí?
- Quando você quer vir?
- Eu queria ir agora. - eu gargalhei, porque mesmo sendo previsível que ele diria algo daquele tipo, eu ainda assim adorei.
- Mas infelizmente você não pode. - cortei seu barato.
- Eu poderia aparecer na sua varanda. - contestou.
- E causar uma péssima primeira impressão ao meu pai? - rebati.
- Só seria causada uma má impressão se ele nos pegasse.
- Primeiro: não fale assim, porque parece que vamos fazer algo muito errado e segundo: ele nos pegaria. Meu pai é um ninja.
- Um ninja?
- Um ninja.
- Agora quero o comhecer mais ainda. - eu gargalhei de novo pelo nível de bobeira dele. - Já vai dormir?
- Já sim. E você?
- Vou logo logo. Preciso estudar um pouco antes. Amanhã tem prova de química...
- E você está deixando pra estudar às onze da noite de um domingo, Will?
- Não. - ele usou aquele tom de quem claramente estava mentindo. - Estou apenas revisando.
- Aham. - usei meu melhor tom de (não) convencimento.
- Te vejo amanhã na aula?
- Pode apostar. - sorri.
- Tchau, amor.
- Tchau, Will.
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EAT ME
RandomComo é desenvolver uma doença que não pode ser vista fisicamente? Como é saber que está doente e ao mesmo tempo não ter ciência disso? Como é achar que isso está sendo algo bom quando está destruindo o seu corpo? E o seu psicológico? Como é estar t...