Capítulo 13

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Dulce Maria

O domingo passou calmo e lentamente. Pela manhã, após termos tomado café, Christopher foi para casa e eu agradeci por ele não ter me perguntado nada sobre meus pesadelos da madrugada, era cedo demais para eu abrir todo meu passado para ele.

Anahí havia chego em minha casa logo após que ele saiu, estava mal por não ter ficado comigo após sairmos da balada, mas ela havia me dito que Christopher tinha a convencido, e claro que disse isso com um sorriso no rosto. Ficamos o dia todo jogando conversa fora, sei que Annie entendia o por que da minha reação, e entendia mais ainda eu não querer falar sobre.

Na segunda de manhã, Christopher foi pontualmente em minha casa para nossos exercícios e nosso café da manhã. Eu já tinha me acostumado com isso e acredito que sentiria falta se parassemos agora. Como ele havia proposto, pedi que fosse comigo até a Universidade, não pretendia entrar no laboratório hoje, mas precisaria de um apoio moral.

Christopher foi para sua casa se arrumar e eu fiz o mesmo, fiquei repassando em minha cabeça tudo que eu precisava falar. Por que eu precisava falar, ou eu explodiria. Logo, Chris apareceu em minha porta, estendeu a mão para mim e fomos para o carro.

- Dul? - o olhei assim que entramos em seu carro. - se acalma, estou com você, vai ficar tudo bem, te prometo.

- Estou com medo apenas, não queria ter que passar por isso de novo. - ele apenas abaixou a cabeça e assentiu em silêncio. Christopher sempre respeitava meu espaço e sei que ele me entendia.

- Pensa no quanto você é forte por estar enfrentando isso de cabeça erguida, Dul. Você é uma mulher incrível, por mais que tenha tido um passado complicado. - assenti e ele deu partida no carro.

Durante o caminho, fomos em total silêncio. Não conseguia pensar em nada para falar, ou teria uma crise de choro. Conforme fomos nos aproximando da Universidade, meu coração foi disparando e minhas mãos começaram a suar. Senti o carro estacionando e respirei fundo, não conseguia fugir mais.

Desci do carro e fui tentando controlar minha respiração. Não era hora para crises de ansiedade. Senti apenas a presença de Christopher ao meu lado, mas não conseguia vê-lo, parecia que estava com um ponto fixo e só enxergava isso. Chegamos na sala do reitor da Universidade, falei com a secretaria e respirei fundo. Christopher segurou minhas mãos em forma de apoio e fez um leve carinho com o polegar. Logo, me chamaram para entrar na sala, senti meu corpo tremer mas juntei todas as minhas forças para levantar e caminhar.

- Quer que eu vá com você?

- Não precisa mas fique de olho no seu celular, qualquer coisa eu te chamo.

Eu levantei de onde estava sentada e entrei na sala. Sr. Paulo era o reitor da Universidade à pelo menos 30 anos, ele me apoiava muito quando era estudante, gostava muito de mim e me ofereceu meu primeiro emprego, onde eu estava até hoje. Me sentei em sua frente e respirei pesadamente.

- Oi, Dulce! Como está?

- Não muito bem, sr. Paulo. O que eu preciso falar com o senhor não é...fácil.

- Diga, minha querida. O que aconteceu?

- Bom, sábado eu fui em uma boate com uma amiga minha e o namorado dela. Estávamos dançando juntas e Paco me agarrou, eu estava extremamente desconfortável, ele continuava passando as mãos por meu corpo mesmo eu dizendo "não" e "para". Ele só parou mesmo quando meu amigo chegou e começou uma briga física com ele.

- Minha filha, meu Deus, como você está?

- Bem mal, se Christopher, esse meu amigo, não tivesse chego, não sei o que poderia ter acontecido.

- Pode ter certeza que as providências serão tomadas, Dulce. Não toleramos esse tipo de gente em nossa universidade.

- Confesso que fiquei receosa em denuncia-lo, mas se não fizesse, não conseguiria voltar.

- Você fez o certo, não deixe de falar. Imagino se isso acontecesse com Ashley, eu provavelmente matava ele. - Ashley era a filha de Sr. Paulo que tinha mais ou menos minha idade, ela era um doce de pessoa, e apesar de termos pouco contato, quando nos víamos era muito agradável.

- Bom, obrigada por isso. Acha que tudo bem eu não ir para o laboratório hoje? Prometo compensar no sábado.

- Lógico, Dulce, e não precisa compensar nada, é o mínimo depois que aquele homem te faz passar.

- Não sabe o quão leve eu me sinto.

- Eu imagino, mas fique despreocupada, as providências contra Paco serão tomadas, se você preferir, pode abrir um b.o. contra ele também.

- Isso não, tenho medo de ele fazer um contra o Christopher por agressão física e acabar o prejudicando.

- Como preferir, a decisão é sua. - assenti e sorri fraco sem mostrar os dentes.

- Bom, então já vou indo, obrigada mais uma vez por me ouvir, sr. Paulo.

Nos despedimos e saí de sua sala, me sentindo vinte quilos mais leve depois de ter falado. Para muitas pessoas, isso pode até ser levado como exagero, mas para mim, com o passado que tinha, isso era enorme. Vi Christopher com um semblante nervoso e as pernas trêmulas, acenei positivamente com a cabeça e ele soltou o ar que segurava. Saímos da Universidade em direção ao estacionamento sem falarmos nada, apenas em um ritmo mais acelerado que o normal.

Chegamos no carro dele e antes de Christopher entrar, o abracei e chorei em seu peito. Deixei toda a angústia sair de dentro de mim, era um choro de alívio e não de pavor, e eu já conhecia bem essa sensação. Ele me abraçou de volta bem forte, me deixando segura em seus braços e dizendo palavras de conforto em meu ouvido. Agradeci a Deus por ter colocado-o em minha vida, Christopher era, sem dúvidas, um anjo.

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