Capítulo 37

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Dulce Maria

Eu estava completamente sem reação, aquela conversa tinha me despertado tantos gatilhos que não sei se poderia começar a contar.

Estupro. Homicídio. Certos comportamentos. Eu não saberia dizer se podia lidar com isso, não agora. Me sentia sobrecarregada, não sabia o que pensar sobre essa enxurrada de informações. A última coisa que eu queria era ser injusta com ele, mas eu não poderia ignorar tudo que ele me contou. E se fosse mentira? Sei que Christopher não demonstra esse tipo de comportamento, não comigo pelo menos, mas Pablo também não demonstrava no início, e só eu sei o que passei.

Christopher me disse que daria um tempo para mim. Tempo. Era tudo que eu precisava. Talvez? Bom, eu precisaria pensar e repensar em tudo um milhão de vezes. Fui embora sem nem olhar para trás, eu precisava pensar, colocar a cabeça no lugar.

Assim que entrei, me permiti chorar, muitas memórias ruins haviam voltado com tudo para mim, por mais que eu tentasse esquecer, não conseguiria. Depois de pouco tempo, fui até meu quarto e peguei alguns remédios no armário do meu banheiro. Olhei mais uma vez pela janela e vi Christopher chorando em sua cama, desviei o olhar dali, tomei algumas pílulas e adormeci, tentando silenciar todo o barulho que fazia dentro da minha cabeça.

Longas horas depois, acordei assustada sentindo um corpo ao meu lado, abri os olhos devagar e vi que Anahí estava ali, adormecida, abraçada ao meu corpo. Deslizei para fora da cama com cuidado e fui ao banheiro, precisava de um banho para lavar a alma.

Liguei o chuveiro e deixei a água cair pelo meu corpo, agachei ali e chorei, o choro de frustração e decepção era doloroso demais, não suportava aquela sensação. Após me acalmar e o choro cessar, tomei um rápido banho e sai do banheiro, respirei fundo e me preparei para a enxurrada de perguntas que viria à tona. Anahí estava sentada na cama, esfregando os olhos, ela olhou em minha direção e suspirou.

- Annie, o que faz aqui?

- Christopher me ligou, me contou tudo que aconteceu entre vocês, que ele te contou a história dele...

- Você já sabia?

- Não, ele chamou eu e Poncho, acredito que depois que você saiu de lá, aí ele nos contou tudo que você já sabe. Como você está?

- Acho que decepcionada, não sei no que acreditar, não sei se ele está me dizendo a verdade, estou tão confusa, amiga.

- Acho que você não deve acelerar isso, sei que Christopher é diferente de Pablo, mas mesmo assim, todo cuidado é pouco.

- E logo agora que eu estava me permitindo mais...

- Não deixe essa situação te fazer regredir, Dul. Podemos sair e você conhecer outras pessoas, não precisa resolver sua situação com Christopher agora.

- Acho que vou me sentir mal se ficar com outro cara.

- Você gosta dele, né?

- Está tão na cara assim?

- Dul, eu nunca vi você olhar assim para ninguém, nem mesmo Pablo, que você jurava amar.

- Christopher me faz bem, bom, fazia... Não sei como vamos ficar agora.

- Já disse que você não precisa ter pressa para resolver isso, você tem bagagem, tem traumas, não é culpa sua...

- É sim, Annie. Eu deixei Pablo me influenciar, fazer tudo aquilo comigo, me sinto um lixo.

- Jamais diga isso novamente, Dulce Maria. Pablo era mal caráter, você só agiu conforme dava... Falando nisso, você contou sua parte da história para Christopher?

- Não, não tive coragem... Acho que não estou pronta ainda.

- Tudo bem, todo o tempo do mundo para você, meu amor.

- Annie? Eu não quero que Christopher me troque, acha que ele vai me esperar? - Eu disse já com lágrimas pesadas nos olhos e Anahí me abraçou forte.

- Sabe o que eu acho? Que vocês dois se amam, e não é pouco, mas, além de precisarem descobrir isso, precisam se curar. Você tem feridas abertas, assim como ele, vocês se envolveram rápido demais, mas daqui a um tempo, tudo se ajeita.

- Assim eu espero.

- Te prometo que tudo vai ficar bem, certo? Não chore por algo que te despertou coisas ruins.

- Vou tentar... Como ele está?

- Péssimo, cheio de preocupações e agora acha corre o risco de te perder.

- Você acreditou nele?

- Sinceramente? - acenei positivamente para ela. - Sim, e digo isso como amiga e como advogada, essa Muriel não me parece flor que se cheire.

- Acho que preciso analisar com calma a situação.

- Sim. Dul, você está deixando seu passado te afetar, só está olhando seu lado mas está esquecendo que Christopher também pode ter fantasmas, ele sofreu e sofre muito ainda com a morte de Luca, não o feche totalmente do seu mundo, ele precisa de você assim como você precisa dele.

- Não quero mais falar sobre isso, podemos conversar amanhã?

- Tudo bem. Agora vamos dormir, são quatro da manhã e amanhã vamos na casa da tia Blanca.

- Está roubando minha mãe de mim, Anahí?

- Claro que sim. Vem, vamos dormir.

Me deitei abraçada a ela e logo a vi adormecer. Para mim, aquilo seria impossível, visto que tomei remédios mais cedo e dormi como pedra. Após perceber seu sono pesado, fui até a janela e olhei em direção ao quarto de Christopher, Poncho dormia em sua cama mas ele estava sentado em sua poltrona, provavelmente chorando, aquilo partiu meu coração mais ainda.

Tudo Para Ficar Com ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora