Capítulo 46

743 91 43
                                    

Dulce Maria

- Eu sinto muito, Dul. Sinto muito por tudo que aquele canalha te fez passar, estou com tanta raiva que sou capaz de matá-lo com minhas próprias mãos.

- Tudo bem, o inferno já passou... quer dizer, acho.

- Por que "acho"?

- Porque eu ando recebendo mensagens anônimas, tenho certeza que é ele.

- Dul, por que esse cara não está na cadeia?

- Eu não o denunciei nem pela metade dos crimes que ele cometeu, consegui apenas uma ordem de distanciamento como medida protetiva...

- Por que fez isso?

- Não queria ser capaz de estragar a vida de alguém o colocando na cadeia, por mais que ele merecesse.

- Sabe que isso está errado, né? Ele fez um monte de coisas com você, o mínimo é apodrecer lá. - suspirei fundo, sabia que deveria ter agido quando podia, mas meu medo foi maior, eu mal conseguia pensar direito, fiz tudo no automático.

- Eu sei... - Christopher olhou para mim, me apertou mais em meus braços e soltou todo o ar do seu pulmão.

- Como você está agora?

- Acho que mais leve, eu devia ter te contado logo, só não queria reabrir essa ferida.

- Não precisava ter feito isso assim, Dul.

- Foi melhor, não quero nada entre nós. - O corpo de Christopher enrijeceu sob o meu na mesma hora, passei a mão em seu braço na tentativa de acalmá-lo. - Calma, Chris. Quero que sejamos amigos de novo. Sinto falta das nossas manhãs com yoga e café da manhã. - acabei soando em tom de brincadeira e ele pareceu relaxar.

- Certo, tudo bem. Eu só...

- O que foi?

- Ainda estou magoado pelo que vi na boate aquele dia, me desculpa, Dul...

- Chris, sou eu quem tem que se desculpar, agi feito criança e te provoquei de uma maneira que não precisava. Me perdoa.

- Claro que sim. - senti ele soltar todo o ar que estava em seu pulmão e seus músculos relaxarem, não pude evitar de sorrir com isso. - amigos?

- Amigos!

- Senti sua falta, ruivinha.

- Também senti sua falta, bundudo. - deitei minha cabeça no ombro de Christopher e consegui perceber finalmente de como eu estava livre disso, desse meu passado que me acorrentava. Contar a ele foi a melhor coisa que eu fiz.

Ficamos num silêncio confortável por um bom tempo, apenas olhando a lua e as estrelas. Christopher parecia pensativo, como se quisesse resolver todos meus problemas, mas decidi não questionar nada, não queria intrigas para esse momento.

- Dulce?

- Sim?

- Sabe que ainda pode ser mãe, né? Barriga de aluguel, adoção, seu sonho não está destruído, pequena.

- Eu sei, mas meu sonho era passar por todo o processo, sabe? A gravidez, os enjoos, a surpresa, tudo... Mas talvez assim seja melhor, talvez eu não aguentaria.

- Claro que aguentaria. Você é a mulher mais forte que eu conheço, é determinada, luta pelo que quer... Você vai ser uma mãe incrível, independente de como isso acontecer.

- Obrigada por isso.

- Só estou sendo sincero.

- Mesmo assim, obrigada por me entender.

- Obrigado por confiar em mim, mesmo.

- Infelizmente, meu vizinho intrometido não me deu escolhas. - rimos juntos, meu Deus a falta que ele me fazia era gigante.

- Bom, seu vizinho intrometido não te daria paz, ele gostou de você assim que bateu o olho.

- Ah é? Pois saiba que eu espiei muito ele e também o achei interessante.

- Me espiava, Dulce Maria?

- Continuo espiando, meu filho.

- Tudo bem, eu faço o mesmo. - dei um tapa em seu braço e o olhei firme. - Que culpa eu tenho se você é gostosa e se troca na janela?

- Ah não, Christopher. - gargalhei alto levando ele junto comigo, me sentia bem ao seu lado, mesmo após uma conversa triste e tensa, ele me fazia rir.

- O que acha de irmos comer alguma coisa?

- Vamos! - Nos levantamos dali e Christopher me abraçou de lado até chegarmos no carro, dei minhas chaves a ele e fui para o passageiro.

- Por que você não dirige?

- Porque eu confio em você, não vai nos matar ou ir à um lugar terrível. Talvez um sequestro mas, com você, eu aguento.

- Não aguentaria, eu fico insuportável com fome.

- Mais um motivo para eu confiar em você. Vamos.

Saímos do mirante e fomos em direção à uma hamburgueria que eu amava no centro da cidade. Parecia que todo o peso e toda tensão tinha se esvaído do meu corpo, Christopher conseguia fazer eu me sentir leve e relaxada. Fomos conversando coisas banais, principalmente o que perdemos um do outro nessas duas semanas.

Logo nossa noite se encerrou em um clima totalmente leve. Christopher parou meu carro em minha garagem e apenas nos encaramos em silêncio, trocamos olhares e sorrisos, eu me sentia bem ao lado dele.

- Você está bem?

- Sim, obrigada por tudo.

- Sabe que eu faria qualquer coisa por você, Dul. Só estou chateado ainda, mas somos melhores amigos acima de tudo, certo?

- Certo!

- Você vai ficar bem sozinha?

- Acho que sim, não quero te atrapalhar mais.

- Você não atrapalha, Maria. Qualquer coisa me chame, ok?

- Sim! - descemos do carro e ele me puxou para um abraço apertado.

- Até mais, Dul.

- Até, Chris.

Entrei em casa e suspirei, estava me sentindo bem, como não me sentia a um bom tempo. Fui tomar um banho rápido e deitar, estava cansada apesar do sentimento de tranquilidade. Me deitei na cama e comecei a rolar de um lado para o outro, não conseguia ficar confortável de jeito nenhum.

- Chris? Está acordado? - Mandei para ele, que demorou aproximadamente dez minutos para me responder.

- Sim, Dul. O que foi?

- Não consigo dormir. 🥺

- Quer que eu vá aí?

- Dorme aqui comigo?

- Estou indo. 😉 - Sorri com aquilo, meu melhor amigo estava realmente de volta.

Logo a campainha soou em minha casa, levantei rapidamente, sem me importar em estar com um pijama extremamente curto, e abri a porta. Christopher estava usando apenas uma bermuda, sem camisa, e tinha um lindo sorriso em seu rosto.

- Oi.

- Entra.

- Quer mesmo que eu durma com você? - ele disse entrando em minha casa.

- Sim. - O puxei pelo braço até meu quarto, deitamos na minha cama e Christopher me puxou para mais perto. - senti muito sua falta, preciso ficar próxima a você, é uma necessidade.

- Tudo bem, não estou reclamando, sinto o mesmo... Amanhã teremos yoga e café da manhã.

- Mal posso esperar. - e assim eu adormeci, dormi tão profundamente como não fazia a tempos.

Tudo Para Ficar Com ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora