Capitulo 61

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Dulce Maria

As horas naquele lugar pareciam que não passavam. Minha cabeça girava com tantos pensamentos que eu tenho certeza que seria internada em um hospício assim que saísse daqui. Se é que eu vou sair daqui viva.

Pablo morre de ódio por mim, coisa que eu já sabia, afinal tudo que ele fez comigo no passado mostra que nunca houve um pingo de amor ali, mas Paco me impressionou, talvez eu realmente tivesse mexido com o ego dele, ou mesmo Christopher quando deu um soco em sua cara, naquela boate, quando ele tentou abusar de mim. Só conseguia sentir nojo. Além de tudo, ele é muito mais velho que eu, aquilo não aconteceria, eu não me sentiria atraída por alguém como ele. Diferente de Christopher, que despertava em mim um turbilhão de sentimentos, coisas inimagináveis se passavam por mim quando estávamos juntos, ou quando minha mente vagava até ele. Christopher. Eu o amava tanto que até doía, passei tempo demais negando esse amor, que se faz tão presente agora, e apesar de, nesse momento, sentir medo e pavor de tudo isso, no fundo, eu só quero que ele não sofra.

E tem Anahí. Minha Barbie deve estar surtando com tudo isso, querendo matar o primeiro desses três que visse pela frente, sei que ela faria com as próprias mãos. Annie é a melhor pessoa que existe nesse planeta, sem ela, eu não seria nada, e falo isso tranquilamente, até porque, sem ela, eu não teria conseguido derrubar tantas barreiras dentro de mim. Saí dos meus pensamentos quando ouvi um forte estrondo, abaixei a cabeça e me encolhi como pude, com medo do que poderia acontecer, vindo daqueles dois homens à minha frente.

- A cara de sonsa dessa mulher nunca me desceu, sabia? - Pablo disse olhando para Paco, eu apenas permaneci parada na mesma posição. - O corpo que é uma delícia, até sinto saudades, era dele que eu me aproveitava. - Eu tremi inteira com suas palavras nojentas, senti meu estômago embrulhar e a sensação de estar suja me dominou.

- Pelo menos você aproveitou, eu tentei mas o namoradinho engomadinho apareceu... Ainda me deu um soco, filho da puta.

- Pode aproveitar agora... - Não, isso não poderia estar acontecendo de novo, meu Deus me ajuda, eu não vou aguentar outra vez.

- Ainda não, quero ela mais fraca para isso.

- Vocês me dão nojo. - eu disse em um sussurro, o que fez Pablo se aproximar bruscamente de mim e segurar meu pescoço, quase me enforcando. Ergui meu olhar e prendi ao dele, aquilo era uma técnica de intimidação, ele saberia que eu não abaixaria a cabeça.

- Repete, sua vadia.

- Isso mesmo que você ouviu, Pablo. Espero que vocês dois queimem no fogo do inferno. E de quebra, ainda levem Muriel, vocês três se merecem. - meu olhar era duro, eu realmente estava o enfrentando, pude notar surpresa em seus olhos conforme eu falava sem desviar o contato visual e sem gaguejar.

- Você está muito abusada, Dulce Maria, não era assim quando estava comigo. Seu namoradinho é realmente um frouxo, não é capaz nem de te colocar na linha e... - um toque de telefone ecoou no ambiente, Pablo apertou um pouco mais meu pescoço, como se descontasse aquela raiva momentânea de ser interrompido, e me soltou.

Assim que ele atendeu o telefone, comecei a gritar e pedir socorro, mas não seria tão fácil, não é mesmo? Ele só havia saído dali por ser Muriel do outro lado da linha, mas eu continuei com meus gritos, tinha poucas esperanças e essa era uma chance que eu não poderia perder. Pablo sinalizou algo para Paco, que se aproximou de mim e levou a mão em minha boca, ali eu tinha certeza que vomitaria. Ele passou uma fita em meus lábios para que eu não conseguisse gritar mais e se aproximou mais do meu rosto. Seu hálito de álcool puro mais o cheiro do ambiente com certeza estavam contribuindo para meu enjoo.

- Cala essa boquinha, Dulcinha. Ou as consequências serão bem piores. - ele segurou forte em meu queixo e me fez olhar em sua direção no mesmo instante. - Agradeça à Muriel por ainda estar viva, por mim, a gente já teria te matado. - engoli seco e fechei os olhos para evitar que as lágrimas saíssem, abaixei a cabeça e assim que Pablo desligou a ligação, voltou seu olhar para mim.

- Está querendo chamar a atenção, né? Acha que eu seria tão descuidado assim, Dulce Maria? Realmente você não me conhece. - tentei murmurar algo mas foi impossível com aquela fita em minha boca.

Eles saíram e bateram a porta, que fez um barulho maior do que deveria, o que me assustou. Pablo havia apertado a corrente que mantinha meu pulso preso, então eu estava mais machucada do que antes. Passado algum tempo, Muriel entrou onde eu estava e se abaixou para falar comigo, ela tirou a fita da minha boca e se sentou no chão.

- Aí, Dulce, você teria evitado tudo isso se não fosse tão intrometida.

- Eu sou intrometida por que me apaixonei pelo seu ex? Por que Pablo me deixou para morrer após me estuprar? Ou por que Paco tentou abusar de mim e eu o denunciei? Aonde exatamente eu sou intrometida, Muriel?

- Você se meteu com a pessoa errada, querida. Já mandei você ficar longe do Christopher, não foi falta de aviso. Agora, Pablo e Paco realmente passaram dos limites, talvez você merecesse, você é realmente insuportável.

- Eu tenho pena de você, Muriel. Acha que fazer isso vai te trazer o Christopher de volta? Acha mesmo que ele vai ser capaz de olhar na sua cara? Você o conhece a mais tempo que eu, deveria saber.

- Você não sabe o que diz. - Eu a atingi, isso é bom.

- Eu sei sim, e apoiando dois abusadores machistas a violentarem uma mulher? Como você consegue?

- Você não sabe do que está falando, eu não apoio essas coisas, mas eu odeio você, toda desgraça do mundo não é o suficiente.

- Nossa, Muriel, eu sinto muito por você ser assim. - parei de falar quando um barulho de tiro foi ecoado pelo ambiente, a expressão de Muriel mudou totalmente de raiva para medo, e eu só queria acordar desse pesadelo.

Tudo Para Ficar Com ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora