Capítulo 44

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Dulce Maria

Já fazia mais de uma semana que Christopher havia me mandado aquela mensagem pedindo um tempo. Confesso que meu coração doía toda vez que olhava para a casa ao lado, nossas lembranças estavam gravadas em minha pele, sentia falta do seu cheiro, do seu toque, de tudo... eu apenas queria não ter reagido daquela maneira com sua história, mesmo sabendo que tinha sido muito mais forte que eu.

Passei a me concentrar totalmente em meu trabalho, fora as segundas-feiras em que tinha consultas com a Dra. Camila, todos os outros dias eu ficava fazendo hora extra no laboratório.

Não estava evitando Anahí mais, mas sei que ela iria trazer à tona minhas questões com Christopher, e no momento, só queria esquecer. Christian também tinha voltado a falar comigo. Ele e Justin estavam ficando e eu estava feliz pelos dois, eles mereciam a felicidade, e percebi o quanto se gostavam assim que vi uma foto deles nas redes sociais, pareciam ser feitos um para o outro.

Hoje foi o único dia da semana que resolvi sair no horário correto do trabalho. Era uma quarta-feira de verão, então, estava um calor agradável essa noite. Cheguei em casa e resolvi que ia correr, fazia um bom tempo desde que não malhava, e eu sentia falta, de certa forma.

Em pouco tempo, me troquei, comi uma fruta e saí de casa. Comecei a andar devagar em direção ao parque, tive a impressão de ter alguém me observando, mas com certeza era apenas paranóia da minha cabeça. Resolvi acelerar meus passos até chegar em um lugar mais movimentado do que as ruas do bairro.

Entrei no parque e notei muitas pessoas fazendo o mesmo que eu. Muitas acompanhadas ou em família, o que me fez pensar em muita coisa. Aumentei o volume da minha música em meu fone e deixei esses pensamentos de lado, pensar nisso era abrir portas dentro de mim que só seriam abertas para conversar com Christopher, já seria dor suficiente.

Estava distraída enquanto caminhava pensando em coisas do trabalho, quando resolvi pegar um caminho alternativo dentro do parque, um maior e consequentemente com menos movimento. De repente, bati meu olhar em um ponto específico, me aproximei e meu coração começou a bater forte. Christopher. Chorando. Sozinho. Pensei duas vezes antes de chegar mais perto, tinha medo de sua rejeição, mas não podia deixá-lo ali daquele jeito. Tirei meus fones e me sentei no banco em que ele estava, calmamente.

- Oi. - Eu disse com um tom se voz suave e ele se assustou, acho que não tinha me visto.

- O que você quer? - ele disse enxugando as lágrimas e se levantando do banco, meu coração apertou na mesma hora.

- Calma, Chris. Sei que está com raiva de mim, mas só quero te ajudar.

- Pode me ajudar ficando longe de mim... - ele disse bravo e senti lágrimas se acumularem em meus olhos, não podia reclamar, apenas aceitar sua rejeição.

- Chris...

- Não, Dulce. Eu não consigo lidar com isso agora.

- Tudo bem, não vamos falar sobre nós. Finge que sou apenas sua amiga, que nada nunca aconteceu entre nós... Me diz, por que você está assim? - ele pressionou os olhos como se estivesse lutando contra a própria vontade e se sentou novamente, seu olhar parou em um ponto fixo, longe do meu olhar e pude escutá-lo suspirar.

- Hoje é o aniversário de morte do Luca. - eu fiquei estática, totalmente sem reação. Não podia imaginar a dor que ele sentia, meu grande sonho sempre foi ser mãe, e perder um filho com certeza era algo insuportável.

- Eu sinto muito, Chris. - disse me aproximando lentamente, o puxando para um abraço. Fiquei com medo de ele me empurrar ou me rejeitar de alguma forma, mas Christopher me agarrou e afundou a cabeça em meu pescoço, chorando desesperadamente. Deus, eu só queria tirar a dor de dentro do peito desse homem.

Ficamos desse jeito por um bom tempo, até Christopher se acalmar, na verdade. Eu acariciava seus cabelos cacheados e tentava, de alguma forma, passar tranquilidade e confortá-lo, mesmo que seja algo tão complicado nesse momento. Minutos mais tarde, sua respiração foi se acalmando, e ele se desvencilhou do meu corpo, senti falta do seu toque de imediato, infelizmente.

- Me desculpa por isso, seu pescoço está até molhado com minhas lágrimas. - ele disse brincando e eu sorri na mesma hora.

- Não tem problema, está melhor?

- Não, mas vai passar. - ele passou a mão no rosto para enxugá-lo e respirou fundo, parecia que tinha mais coisa a falar, então apenas o observei e ele olhou em meus olhos e tornou a falar. - Sabe o que foi pior para mim hoje? Muriel fez questão de me lembrar de tudo, que a culpa era minha, que eu era um assassino. - as lágrimas de Christopher voltaram com tudo e confesso que também estava com vontade de chorar. Me aproximei dele mais uma vez e segurei em sua mão, nossos olhares se permaneceram fixos.

- Você não tem culpa de nada, Chris. Absolutamente nada. Aquilo foi um acidente, uma fatalidade, que acontece todos os dias, com várias pessoas. Muriel só está tentando te derrubar, não deixe, você não merece isso.

- Eu mereço sim, Dul. - confesso que escutá-lo me chamar pelo apelido tinha aquecido meu coração, com isso, soube que não tinha o perdido totalmente, mas agora não era hora. Ele fungou novamente e apertou minha mão, entrelaçando nossos dedos. - Eu sou uma pessoa ruim, Muriel está certa em me processar, você está certa em se afastar de mim, eu sou problema...

- Nunca mais diga isso, Christopher! Quem te conhece de verdade sabe o ser humano incrível que você é, sua alma é linda, você é o melhor homem que já conheci na vida e não falo da boca para fora, eu errei em tentar te afastar, eu faço isso quando me vejo num beco sem saída ou algo me lembra meu passado... - fiz uma pausa para engolir o choro e respirar fundo. - me desculpa por tudo... Sinto tanto sua falta... - ele desviou o olhar e soltou minha mão, sei que essa não era a melhor hora mas me pareceu propício para falar, ele não estava pronto para isso e eu entendia

- Eu preciso ir, acho que você deveria fazer o mesmo. - ele disse levantando e limpando o rosto. - até mais. - ele disse sem me olhar nos olhos e andando rápido para a saída, senti meu coração pesado e as lágrimas que eu insistia em segurar, começaram a cair. Abracei meu próprio corpo e me deixei chorar, depois de segurar as lágrimas a semana inteira. Ver Christopher tão vulnerável acabou comigo, o que me fez perceber mais ainda como eu estava errada e equivocada em minhas reações, eu precisava mudar isso.

Depois de um tempo ali, resolvi voltar para casa, precisava de um banho e com certeza colocar minhas ideias no lugar. Fui correndo e novamente, aquela sensação de estar sendo vigiada me apossou. Logo, cheguei em minha casa e meu celular vibrou. Sorri com a mensagem que li, foi inevitável.

"Obrigado por ter me dito aquelas coisas, foi muito importante para mim. Cuidado na rua, qualquer coisa me ligue, beijos, Christopher."

Tudo Para Ficar Com ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora