Capítulo 41

775 88 77
                                    

Dulce Maria

- Vem, vamos conversar em um lugar mais reservado. - puxei Justin pelo braço e fomos para o grande terraço que tinha no terceiro andar da boate. Ali, algumas pessoas fumavam, outras apenas conversavam, mas uma me chamou atenção. Christopher estava debruçado no corrimão com os olhos vermelhos, que assim que se encontrou com o meu, não tive outra reação além de soltar um sorriso debochado. Sua reação foi apenas sair, senti meu coração partir, mas não dei muita importância. - O que queria me falar?

- Dulce, eu sou gay.

- O que? Como assim?

- Isso mesmo. Me assumi faz uns cinco anos pelo menos. Desculpa, Dul. Você é incrível, mas eu gosto de homem.

- Está tudo bem, Justin! Eu queria fazer ciúme em uma pessoa, mas para falar a verdade, não me senti nada bem com isso. Me perdoa por ter te beijado.

- Somos amigos, certo? Considere isso um favor. - ele disse rindo e logo me puxou para um abraço.

Deixei uma lágrima escorrer em sua camisa e o senti me apertar mais ainda em seus braços. De certa forma, eu estava aliviada em saber disso, pelo menos eu não teria que lidar com mais ninguém. Avistei Anahí entrando no local, com uma expressão totalmente furiosa, senti um arrepio correr em minha espinha, respirei fundo e me separei de Justin.

- Dulce Maria??? O que você fez??? O Christopher está arrasado e a culpa é toda sua. Tem noção do quanto o machucou??

- Eu não fiz nada demais.

- Saia da defensiva, Dulce! Você não é assim! O que aconteceu com a minha melhor amiga? Essa pessoa que está aí eu não reconheço.

- Eu sempre fui assim...

- Não! - Ela disse abaixando o tom de voz. - Você nunca foi assim! O que está acontecendo, Dul? Por que se afastou de mim? Christian te viu hoje no shopping sozinha, até ele está chateado com a situação. Poncho sente sua falta, Christopher nem se fala... - Eu estava com o choro preso na garganta, para falar verdade, não sabia por que estava agindo daquela maneira, Anahí olhou em meus olhos como se soubesse que eu estava em conflito. - Dul, para de fugir de mim, vamos conversar!

- Vamos sair daqui. - olhamos para Justin e Christian e vimos que os dois estavam concentrados em uma conversa, resolvemos apenas nos despedir e sair.

Descemos e fomos em direção à saída. Annie havia dito que Poncho tinha ido embora com Christopher e, mais uma vez, senti meu coração apertar. Fomos o caminho todo em silêncio, Anahí estava de carro e não havia bebido nada, o que a possibilitou de dirigir.

Pouco tempo depois, nós chegamos em minha casa. Olhei para meu vizinho, vi sua moto e seu carro ali, além das luzes da sala acesa. Minha vontade era ir até lá, abraça-lo e dizer que tudo ficaria bem. Mas as coisas não eram tão simples assim.

Assim que entramos em casa, Anahí passou por mim e se sentou no sofá, eu fechei a porta e caí no choro. Aquele choro que estava entalado na minha garganta a três semanas, choro de exaustão, de quem já não podia mais. Annie me puxou para seu colo e me abraçou, me fazendo chorar mais ainda, mesmo brava, ela jamais deixaria de me segurar quando meu mundo desmoronasse. Depois de longos minutos, me acalmei, meu choro cessou, e pude sair dos braços de Anahí.

- Dul, estou preocupada com você.

- Eu não aguento mais, Annie. - Eu disse com a voz embargada, sentindo as lágrimas escorrendo por meu rosto. - Me perdoa, Annie, eu não quis ser uma megera com você, eu só... não soube o que fazer, ou como reagir.

- Te vendo agora, eu entendo totalmente o seu conflito. Me perdoa também, principalmente por não ter insistido em conversarmos antes.

- Está tudo bem. - eu disse deitando no ombro dela.

- Não está não. Eu sei de toda sua história mas minha raiva não me deixou enxergar seu lado, me perdoa amiga... - apertei sua mão e a acareciei.

- Annie? Como ele está?

- De verdade? - apenas assenti e respirei fundo. - ele está deprimido, Muriel está tentando arrancar tudo que ele tem, até sua parte na academia, ela é uma cobra de verdade.

- E sobre... aquela acusação?

- Estou reunindo provas ainda mas tudo indica que ela forjou, assim como... - Anahí parou e suspirou, me levantei e olhei em seus olhos, tentando dar forças a ela para continuar. - ... o acidente de Luca.

- O que?

- Parece que ela pagou alguém para sabotar o carro de Christopher, ela havia mandado fazer revisão antes da viagem deles, só preciso de mais algumas provas.

- Meu Deus! Como ele ficou depois que você contou?

- Não contei ainda, ele já está mal por toda a situação, até eu ter todas as provas, não vou contar. Você é a única que sabe...

- Prometo não falar nada... - ficamos em completo silêncio por um tempo, até que Anahí me olhou, com aqueles olhos azuis vivos, como se quisesse pedir algo.

- Dul?

- Sim?

- Christopher é totalmente inocente... De todas as acusações... Por que você não conversa com ele? Vocês eram melhores amigos, ele está apaixonado por você, sente sua falta, e sei que você está da mesma maneira.

- Pior que estou mesmo. Essa história me despertou muitas coisas ruins, acho que está na hora de conversarmos mesmo, apesar de ter receio que ele me rejeite ou que a briga seja maior ainda.

- Dul, ele não vai te rejeitar, se tem uma coisa que eu percebi em Christopher é seu jeito amável e compreensível. Ele tem essa pose de bravo, mas tem um coração de ouro.

- Não sei também de estou pronta para lidar com os sentimentos dele, Annie.

- Vocês sentem a mesma coisa, Dul. Dá pra ver em seus olhos isso. Não deixe o passado voltar para te atormentar. Já te disse uma vez e vou te dizer novamente: Christopher não é Pablo, ele jamais deixaria você se machucar.

- Como sabe disso?

- Você não tem noção do quanto o homem se martirizou essas semanas. Ele está se culpando, apesar de dizer que se não tivesse passado por aquilo, não encontraria você, ele tem certeza que te faz mal.

- Ele é um anjo, não acredito que o fiz pensar isso.

- Por que não conta seu passado a ele? Vai te tirar um peso e finalmente estará pronta para seguir em frente.

- Não sei se eu consigo, já parou para pensar em quantas vezes eu desejei ter dito isso tudo a ele? Eu travo.

- Eu sei que tudo que você viveu foi intenso e uma merda, mas tá na hora de se orgulhar da sua história. Graças à aquela merda toda, você se tornou essa mulher forte que é hoje. Só tem que parar de fugir. - olhei para Anahí e suspirei. Talvez ela estivesse certa e eu realmente precisava colocar tudo para fora...

Tudo Para Ficar Com ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora