48. KALEL

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Chego em casa e vou direto pro meu quarto mas antes que eu pudesse entrar sou abordado por minha mãe.
- Até que enfim você apareceu Kalel.
- Agora não! - passo por ela, entro em meu quarto e fecho a porta.
- Agora sim - ela abre a porta com violência - aonde você estava?
- Não importa.
- Importa sim, principalmente se você estava com aquela garota.
- Mãe eu tô cansado, você pode me deixar quieto por favor?
- Só depois que você entender a merda que está fazendo.
- NÃO ESTOU FAZENDO NADA.
Sinto a raiva me consumir, tenho tentado me controlar mas estou no limite não aguento toda essa pressão em cima de mim e preciso por pra fora. Pego meu violão e o bato contra a parede com violência. Minha mãe da um salto para trás e se afasta.
Minha irmã corre até meu quarto e me encara com os olhos arregalados.
- O que você está fazendo Kalel?
- Tira ela daqui - aponto para minha mãe e ando de um lado para o outro.
- Vem mãe, vamos - ela a puxa pelo braço.
- Me solta - ela grita e caminha em minha direção - Não vou permitir que você haja dessa forma aqui dentro de casa - ela me empurra - ainda mais por causa de uma qualquer.
- Não fala assim dela - a encaro.
- Por favor mãe vamos sair - Josephine implora.
- Eu falo, falo sim. Ela não serve pra você. Não te criei todos esses anos pra você terminar com uma pobretona que provavelmente vai se casar com vc e tirar tudo o que puder de nós.
- O quê? - abro um sorriso - você é louca. Você acha que o mundo gira em torno da merda do seu dinheiro.
- O meu dinheiro que te deu um emprego e toda essa mordomia que você tem. Se não fosse isso o que você seria Kalel?
- Pelo amor de Deus mãe - Josephine a interrompe - para de falar isso.
- Eu seria alguém livre pra amar quem eu quisesse.
- Você não seria nada. Com muita sorte conseguiria terminar ao menos o en.médio - ela responde com soberba - você não vai ficar com essa garota Kalel e eu estou te afirmando isso.
- Saí do meu quarto agora - respondo de maneira calma.
- Vamos mãe - Josephine a segura pela mão.
- AGORA! - grito.
Jô se assusta e puxa minha mãe pelas mãos e a coloca pra fora a força. Elas discutem pelo corredor mas minha raiva não me permite prestar atenção. Estou com muita raiva, tudo se acumulou dentro de mim e não estou sabendo lidar com todo esse sentimento. Ando de um lado pro outro passando a mão pelos cabelos tentando me acalmar o que parece inútil. Minutos depois Josephine volta ao meu quarto e me encara enquanto tento recobrar o juízo.
- Você não pode agir dessa forma - Jô me alerta - ela vai acabar de colocando pra fora de casa.
- E daí? Talvez seja melhor.
- Melhor? Você vai morar onde Kalel? Vai viver de quê?
- Eu sou músico, posso tocar na noite. Posso trabalhar em qualquer lugar, não tenho medo do trabalho Josephine.
- Eu sei que não tem Kalel, mas sem você aqui eu não consigo. Se você sair eu também saio.
- Não diz isso - a encaro.
- Você sabe que é verdade - ela se aproxima.
- O que você me sugere então? Ela vai fazer da minha vida com a Alana um inferno. Vai ficar pior do que já está.
- Como assim? o que houve?
- A gente meio que brigou, transamos, aí brigamos de novo. Por isso vim pra casa.
- Mas por que vocês brigaram?
- Ela vai a uma entrevista de emprego amanhã no lugar onde o Alex trabalha.
- Quem é Alex?
- Um idiota que é afim dela.
- Como você sabe disso?
- Eu apenas sei ok?
- Tá, tá - ela me puxa para sentar na cama - Kalel, ela realmente precisa trabalhar. Dúvido que tenha haver com esse garoto.
- Eu já disse que posso sustentar ela. Tenho dinheiro pra isso.
- Até o papai te mandar embora da empresa e cortar sua grana. Você não está pensando.
- Se o papai fizer isso eu arrumo outro emprego.
- Kalel, ela precisa da independência dela. Dependeu do pai a vida toda e olha no que deu? Você não pode tirar esse direito dela, sem contar que está sendo tóxico agindo dessa forma. Qual o seu problema? Você nunca foi assim.
- Eu amo ela de mais e estou com medo de que ela passe tanto tempo com aquele imbecil e perceba que gosta dele.
- Você acha que ela gosta dele?
- Não! Ela me ama eu sei que ama.
- Então por que toda essa insegurança?
- Porque todo mundo diz que ela só está interessada na droga da minha grana.
- E você acredita nisso?
- Não, claro que não.
- Então porque permite que isso te atormente dessa forma?
- Eu não sei - abaixo a cabeça.
- Você deveria dar apoio, é isso que ela está esperando de você.
- Eu sou um idiota não sou?
- As vezes - ela abre um sorriso.
- Vou ligar pra ela agora.
Pego meu celular e o ligo. Assim que ele reinicia chega várias mensagens de ligações perdidas. Ligo imediatamente de volta mas caí na caixa postal.
- Acho que vou até lá - olho pra Jô.
- Da um tempo pra ela - ela se levanta - vem, vamos beber algo.
- Não quero beber.
- Por favor, como nos velhos tempos?
abro um sorriso - Tá bom eu vou, mas não vou beber.
- Ok - ela abre um sorriso.
Juntos vamos até uma balada local. Em plena segunda feira e esse lugar está bombando. Queria que Alana estivesse aqui comigo e é claro que ela recusaria dizendo que temos aula amanhã cedo e que deveríamos estar dormindo ou coisa do tipo.
- Vem - Jô me puxa pela camisa.
Nos sentamos próximo ao bar e começamos a beber. Eu não ia beber, mas ao repassar tudo o que houve nas últimas horas pela minha cabeça decido que me embebedar seria o menor dos meus problemas.
Dose atrás de dose e minha raiva já havia praticamente desaparecido. Josephine está bem solta como sempre, enquanto eu checo o meu celular a cada dez minutos esperando pro algum sinal de Alana que não vem. "Preciso dar um tempo pra ela" repito pra mim mesmo e tomo mais uma dose.
- Ali, minhas amigas.
Jô se aproxima de mim e aponta pra duas garotas. Uma alta e a outra não tão alta. Ambas de salto alto e vestidos tão curtos que qualquer movimento pode acabar mostrando de mais. Elas se aproximam e nos cumprimentam. Prefiro manter a distância e apenas aceno com a cabeça.
- Você já foi mais educado Kalel - uma das garotas se senta ao meu lado.
- Eu te conheço? - seu rosto me parece familiar, mas tem maquiagem de mais e não consigo me lembrar.
- Sou eu Kalel, Jennifer.
- Ah - fico surpreso - você está diferente - a encaro.
- Mudei muito depois da última vez que nós... - ela passa a mão por meu peito.
Agora me lembro perfeitamente do que houve. Pouco antes de assumir um relacionamento com Katy em uma das festinhas na casa dessa garota eu queria transar com ela mas não tinha camisinha, então só deixei que ela me chupasse no banheiro enquanto todos estavam bêbados de mais pra sentir nossa falta.
- É já faz um bom tempo - a afasto.
- Você ainda está com a Katarina?
- Na verdade - me sinto bêbado - não estamos mais juntos.
- Que notícia maravilhosa - ela se levanta e roça suas pernas nas minhas.
- Mas eu tenho uma namorada - a alerto.
- E cadê ela? - ela olha ao redor.
- Bom, está me esperando - me levanto e começo a me afastar.
- Aonde você vai? - Josephine grita.
- Preciso ver a Alana - quase caio mas me apoio na mesa ao lado.
- Você não pode dirigir, está bêbado.
- Vou de Uber - jogo minha chave pra ela - não bata o meu carro!
Atravesso a pista de dança, pego meu celular e chamo um Uber de volta pro chalé.

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