67. ALANA

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Kalel estaciona na porta do meu prédio. Olho para o lugar que não via a tempos e respiro fundo.
- Tá tudo bem? - Kalel pergunta repousando a mão na minha cocha mas logo a retira.
- Sim, só muitas lembranças.
- Quer que eu entre com você?
- Você se importa?
- Claro que não meu amor - ele responde com ternura.
Abro a porta do passageiro e desço logo em seguida ele me acompanha, pega a minha mala e juntos caminhamos em direção ao prédio.
Subo as escadas até o andar da casa de meu pai.
- Como estou? - viro para Kalel e abro um sorriso.
- Linda como sempre - ele acaricia meu rosto.
- Certo.
Encho o peito de ar, ajeito a roupa e toco a campainha. Não demora muito meu pai abre a porta com um sorriso nos lábios.
- Filha - ele me abraça e fico sem reação - que bom que voltou. Me perdoa por ter agido daquela forma. Você não merecia nada daquilo.
- Tá tudo bem pai, a gente só - faço uma pausa - precisava de um tempo.
- Como você está? - ele me analisa - tá magrinha, não tá comendo direito meu amor?
- Estou pai, só tenho trabalhado e estudado muito - minto.
- Vem, entra - ele abre espaço para que entramos mas Kalel se mantém parado na porta.
- Bom, você está entregue ao seu lar. Vou embora agora.
- Não, ainda não é nem nove da noite. Entra fiz o jantar - meu pai pega minha mala.
- Mas eu tenho que ...
- Fica - eu o interrompo.
- Tem certeza? Não quero atrapalhar.
- Você não atrapalha - meu pai responde antes que eu diga qualquer coisa.
- Ele está certo - digo estendendo a mão - fica por favor.
Ele concorda com a cabeça e entra junto conosco.
- Vou colocar sua mala no quarto - meu pai diz e sobe as escadas.
- Tem certeza que quer que eu fique?
- Preciso que fique pra não acabar desmoronando na frente dele.
- Tudo bem meu amor - ele se aproxima e beija o minha testa e logo se afasta - desculpa.
- Tá tudo bem - abro um sorriso e seguro sua mão.
- Estou muito feliz por vocês estarem aqui - meu pai aparece novamente - vem, vamos jantar - ele caminha direto para a cozinha.
Meu pai está radiante, empolgado e nervoso ao mesmo tempo.
Dentro de mim tá uma confusão quero chorar contar tudo o que aconteceu mas sei que não é uma boa idéia fazer isso agora.
Sentamos na mesa de jantar e logo nos servimos. Kalel está quieto e meu pai fala sem parar me enchendo de perguntas em algumas dela Kalel me ajuda a inventar mentiras rápidas para que eu possa me esquivar de chegar ao que aconteceu de verdade.
- Que cicatrizes são essas no seu braço filha? - ele as encara curioso.
- Ela acabou tropeçando com o espelho nas mãos e se cortou - Kalel se apressa em responder - sabe como sua filha é vaidosa né? Tava olhando a maquiagem que fez, não prestou atenção no caminho e acabou acontecendo esse desastre.
- Já te falei pra tomar mais cuidado Alana - meu pai me repreende.
- Sim pai, eu sei - digo enquanto mexo a comida no prato desinteressada.
- Você não comeu quase nada filha - ele analisa meu prato.
- Estou sem fome e um pouco cansada.
- Você quer dormir? - Kalel questiona colocando sua mão sob a minha.
- Acho que sim - me apresso em responder - você se importa se a gente subir?
- A gente? - Kalel me encara.
- Você se importa em ficar até eu pegar no sono? - o encaro.
- Não, claro que não - ele aperta minha mão delicamente - você se importa de eu ficar aqui Marco?
- Desde que a porta fique aberta - ele beberica seu suco e nos olha por cima do copo.
- Paaai? - eu o repreendo.
- Porta aberta Alana! - ele diz com a voz firme.
- Tudo bem Marco, porta aberta - Kalel abre um sorriso.
- Boa noite pai.
- Boa noite filha.
Reviro os olhos seguro firme a mão de Kalel e juntos subimos até meu quarto.
Assim que adentramos o pequeno cômodo eu fecho a porta e me deito na cama.
- Mas seu pai disse que .. - Kalel se vira para a porta.
- Como se nunca estivéssemos ficado juntos em um quarto com a porta fechada.
- É mas seu pai não sabe linda.
- Mas imagina - me sento e respiro fundo - vem cá - bato com a mão na cama - senta aqui.
- Tá - Kalel se aproxima desconfiado - vai pra faculdade amanhã?
- Vou sim.
- Tem certeza?
- Eu preciso voltar a minha rotina Kalel.
- E o emprego?
- Também vou voltar.
- Tudo bem - ele suspira.
- O que foi? - acaricio seu braço.
- Nada, só estou preocupado.
- Eu vou ficar bem - o encaro - prometo.
- Eu te amo Alana.
- Eu também amo você - abro um sorriso.
- Não quero parecer apressado, mas isso é um sim ao meu pedido de namoro?
- Podemos ir com calma? Não quero assumir nada que eu não consiga levar adiante.
- Auu - ele coloca a mão sob o peito - essa doeu.
- Desculpa, eu..
- Não peça desculpas, eu te entendo.
- Obrigada por isso - me deito em seu peito - mexe no meu cabelo pra eu poder dormir?
- Claro.
Kalel se ajeita na cabeceira da minha cama enquanto mexe em meus cabelos. Assim do jeito em que me encontro agora depois de um bom tempo me sinto segura ao lado dele.
- Alana? - ele quase sussurra.
- Ainda estou acordada.
- Sei que talvez agora não seja o momento certo, mas eu preciso te perguntar.
- Sim..
- Ele estuprou você? - sua voz saí embargada.
- Não - respondo friamente.
- Graças a Deus - sua voz saí como alívio - juro que se ele tivesse feito eu o mataria.
- É, eu sei que sim - me ajeito em seu peito e acabo adormecendo.

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