MEU EU EM VOCÊ

71. ALANA

O dia amanhece e travo uma luta contra mim mesmo pra me levantar da cama. Acabei dormindo bem tarde por causa do serviço e me sinto extremamente cansada. Queria ir apenas nos os últimos horários pois tenho que entregar o trabalho de inglês mas não posso me dar a esse luxo. Então me levanto quase que arrastada e vou pro banheiro tomar banho.
Passados alguns longos minutos estou pronta. Cabelos amarrados em um rabo de cavalo uma blusa preta mais justa e uma calça jeans escura. Calço meu allstar pego minha mochila e desço pra tomar café.
- Bom dia filha - meu pai está sentado a mesa lendo um jornal.
- Bom dia pai - me ajeito na cadeira em um sua frente.
- Está mais bonita, mais corada hoje - ele beberica seu café.
- Você acha? - abro um sorriso e pego uma bolacha.
- Sim, aconteceu algo que queira compartilhar comigo?
Abro um sorriso sarcástico de lado pensando no que aconteceu ontem e é óbvio que não quero falar isso ao meu pai - Não, só tive um dia e uma noite de sono boa.
- Isso é ótimo.
- Sim, pela primeira vez desde que aquilo aconteceu eu não conseguia dormir sem ajuda de remédios e ontem eu consegui - digo orgulhosa.
- Aquilo aconteceu? - meu pai me encara - aquilo o quê?
- Ah, é ... - começo a gaguejar - ah, nada - minto.
- Eu sei que você tem escondido coisas de mim Alana e gostaria que você soubesse que pode me contar qualquer coisa eu sou seu pai e estou aqui pra te apoiar no que quer que seja.
- Eu sei pai - olho para baixo evitando contato visual - um dia conto a você - me levanto rapidamente.
- Espera, não precisa fugir não vou te pressionar, pode tomar seu café.
- Vou acabar me atrasando pai.
- Kalel não vai levar você hoje?
- Ele não tem as primeiras aulas então vai ir mais tarde.
- Ah sim. Eu levo você então.
- Não precisa - me apresso em dizer.
- Filha, por favor vamos tomar ao menos o café da manhã juntos.
- Só se prometer não ficar me questionando o tempo todo.
- Tá bom - ele suspira.
- E a sua namorada? - volto a me sentar.
- Ah, nós é.. terminamos.
- O quê? Por que?
- Ah não quero magoar você e muito menos que você vá embora novamente.
- Pai - o encaro - eu estava errada - admito pela primeira vez - você merece ser feliz e se ela te faz feliz eu entendo e respeito.
- Filha... - seus olhos brilham - mas agora acho que pode ser tarde de mais.
- Se ela ama você não é tarde de mais. Espero do fundo do meu coração que você se acerte com ela.
- Eu também - ele diz desanimado - tem certeza que não tem problema pra você?
- Tenho pai - abro um sorriso.
- Eu amo você filha e sempre vou amar sua mãe. Por favor não se esqueça disso.
- Eu sei pai, eu sei.
Terminamos de tomar o café e meu pai me leva pra faculdade.
Passamos o caminho todo ao som de Guns N' Roses. Precisava desse momento com o meu pai. Desde que voltei pra casa nós quase não nos falamos e depois de ontem sinto que aos poucos estou voltando a ser quem eu era antes de toda aquela merda.
Chego na faculdade me despeço do meu pai e caminho rumo a entrada. Como sempre lá estão meus únicos amigos Jéssica e Alex.
Me aproximo deles, os cumprimento e juntos vamos ao primeiro tempo.
Nós ajeitamos nas cadeiras a espera do professor. Jéssica pega uma cadeira e se senta ao meu lado.
- Já escolheu sua música?
- Ah, escolhi. Foi tão difícil e ainda nem imprimi a letra dela pra repassar pros alunos.
- Não vai imprimir?
- Vou na hora do intervalo.
- E você Alex? - Jéssica o encara.
- Já está tudo pronto.
- Escolheu que música?
- Sweet child on' Mine.
- Que música é essa? - Jéssica faz uma careta.
- Como assim você não sabe Jéssica? - arqueio uma de minhas sobrancelhas.
- Não sei - ela caí na gargalhada - isso é Lady gaga?
- Claro que não - Alex se apressa em dizer.
- Meu Deus Jéssica, estou decepcionada com você - dou uma gargalhada.
- Isso é Guns N' Roses - Alex se apressa em dizer.
- Hoje vim com o meu pai escutando justamente Guns - digo a Alex.
- Tá vendo? Estamos ligados de alguma forma - ele passa as mãos pelos cabelos pretos e abre um sorriso sedutor.
- Vocês são estranhos - Jéssica nos encara - deixa Kalel ficar sabendo disso.
- Cala a boca Jéssica - Alex brinca - só estou jogando meu charme.
- É, ninguém percebeu - ela revira os olhos.
Todos caímos na risada e logo em seguida o professor entra em sala.
Nos ajeitamos em nosso lugar e aula começa.
O tempo passa mais rápido que eu esperava e quando dou por mim já está na hora do intervalo. Junto meus materiais e me preparo pra sair da sala.
- Ei, quer comer um lanche comigo agora no intervalo? - Alex me aborda.
- Podemos, mas preciso imprimir algumas coisas antes.
- Posso ir com você se não for incomodar.
- Ah, claro vou aqui na papelaria da faculdade mesmo.
- Certo.
- Ninguém me chamou, mas eu vou também - Jéssica se manifesta.
- E precisa chamar? É óbvio que você vai.
- Cadê seu namorado ein? - Alex a provoca.
- Cala a boca garoto.
- Vocês dois me matam viu - dou uma gargalhada.
Juntos saímos da sala rumo a papelaria do prédio. Andamos pelos corredores conversando, fazendo piadinhas e rindo bastante. Há muito tempo eu não me sentia assim, leve e feliz. Me sinto grata por ter esses dois em minha vida e mais grata ainda pela paciência e amor do Kalel que me ajudou a quebrar todas essas barreiras que eu mesma criei.
- Aquele ali é o Kalel? - Jéssica aponta para duas pessoas no fim do corredor - e aquela é a Katarina com ele? Estou sem óculos - ela fecha um pouco os olhos tentando focar no casal logo a frente.
- São eles sim - Alex afirma com indiferença - parece que estão brigando.
Pego os dois pela camisa e os puxo para uma sala aleatória sentindo meu coração palpitar no peito.
- Por que fez isso Alana? - Jéssica questiona ajeitando a roupa no corpo.
- Por que eles estariam discutindo? - ando de um lado para o outro.
- Vamos lá perguntar - Alex se manifesta.
- Dependendo do que for é óbvio que eles não vão contar assim de cara.
- Jéssica está certa - passo a mão pelo cabelo e chego o rosto discretamente na porta e o vejo pegar Katarina pelos braços, entrar em uma sala e logo em seguida fechar a porta - Vamos - os chamo.
- Aonde Alana? - Jéssica se manifesta.
- Até sala que eles estão.
- Ouvir atrás da porta?
- Sim.
- Isso é loucura, você pode perguntar a ele depois.
- Não, eu preciso saber agora.
- Eu também acho que seja lá o que for ela merece saber agora - Alex se manifesta.
- Isso não vai acabar bem - Jéssica faz um sinal de reprovação com a cabeça - Mas tudo bem, vamos até lá .
Respiro fundo e juntos caminhamos até a sala.
Paramos diante da porta e é possível ouvir alguns gritos vindos lá de dentro.