29. KALEL

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Passo mão em volta da cintura de Alana e pego suas roupas e a levo até o banheiro que tem ali perto, mas antes que pudéssemos entrar somos abordados por minha mãe. Ela é baixa e está de salto alto, cabelos loiros, bem vestida e maquiada. Seus olhos verdes nos encaram com fúria.
- Olá Kalel, não vai apresentar sua amiga ? - ela diz analisando Alana de cima a baixo bloqueando nossa passagem - Aliás - ela confere o relógio de ouro em seu pulso - está um pouco tarde pra ela estar na nossa casa você não acha ?
- Mãe essa é a Alana, minha amiga da faculdade - estou apavorado de mais.
- Oi, prazer - Ela estende a mão para cumprimentar mas minha mãe não faz o mesmo então ela esconde sua mão atrás de seu corpo - Desculpa estar aqui a esse horário, sei que está tarde e que deveria ir embora...
- Realmente, você não está errada. E a Katarina, Kalel? Também é amiga da Aline ?
- ALANA MÃE - eu a corrijo - e o que a Katarina tem haver com isso?
- Deve ser por que ela é a sua namorada. E você mocinha deveria respeitar o relacionamento dos outros...
- Eu não...
- Não namoro a Katarina você sabe muito bem disso - eu a interrompo.
- Bom, de qualquer forma, melhor essa garota ir embora, agora por favor.
Ela pega suas roupas de minhas mãos e entra no banheiro sem dizer absolutamente nada. Ela parecia chateada mas eu realmente não estou sabendo como lidar com toda essa situação. Respiro fundo e me visto. Estou nervoso pra caramba, não queria que a noite terminasse dessa forma, logo agora que estávamos nos entendendo tão bem.
- Pode pegar meu coturno e minha bolsa por favor? - ela nem se quer olha pra mim.
- Claro - me apresso em pegar suas coisas e a vejo desbloquear o celular e abrir um aplicativo  - O quê você está fazendo?
- Vou chamar um uber.
- Não, eu levo você.
- Não precisa, tá tudo bem.
- Não! Eu levo você já disse.
- Eu não quero que você me leve, já estou me sentindo muito mal pra ter que ficar mais tempo com você.
- O quê eu fiz ?
- O quê você fez ? - ela da uma risada meio estranha e logo depois uma lágrima escorre por seu rosto.
- Você está chorando? - me aproximo.
- Não! - Ela seca a lágrima com o dorso de sua mão e respira fundo se esforçando para não soltar mais nenhuma lágrima - preciso ir, meu uber está chegando.
- Eu não vou deixar você sair se não for comigo.
- Kalel você não tem que deixar nada, abre esse portão agora ou vou até sua mãe pedir pra que ela abra.
 O que ela diz me faz recuar e apertar o botão para que o portão se abra - Foi o que eu pensei - ela diz e seu olhar carregado de decepção.
- Me dá uma chance da gente conversar - eu imploro.
- Sabe, eu fui alertada sobre isso mas ignorei a informação. Agora estou aqui me sentindo uma idiota pela forma que fui tratada e você apenas observou.
- Alana, eu ...
- Esquece. Obrigada pela noite foi incrível e esclarecedora.
- Por favor ?
Eu a puxo e a envolvo em meus braços, ela tenta se afastar mas eu não permito e ela logo sede afundando seu rosto em meu pescoço, ela não se contém começa a chorar eu percebo e a abraço mais forte contra meu corpo, ela se afasta um pouco e quando me olha - preciso ir.
Ela me da costas saí quase que correndo. Quando passa pelo portão a vejo entrar no carro preto do outro lado da calçada. Penso em ir atrás mas quando olho pra trás vejo que minha mãe nos observa, respiro fundo e passo a mão pelos cabelos pela milésima vez nos últimos minutos. Pego meu celular e ligo pra ela que ignora todas as minhas chamadas e depois são encaminhadas direto pra caixa de mensagens. Fico atordoado com tudo aquilo e decido ir até a casa dela, sei que está tarde mas não podemos terminar a noite dessa maneira, não consigo esperar até mais tarde para tentar me acertar com ela. Entro em meu carro e saio ignorando os gritos de minha mãe.

Chego mais rápido que pude, toco o interfone e Marco atende.
- Oi, a Alana está?
- Ela saiu com um amigo e ainda não chegou. Quem é?
- Oi Marco sou eu Kalel.
- Kalel? O que está fazendo aqui?
- Preciso falar com a sua filha, ela não me atende. Será que posso esperar ela aí em cima?
- Bom, claro, pode subir.
Ele abre o portão portão e subo até o apartamento de Alana. A porta já está aberta quando chego. Marco está no sofá com uma cara de quem não está entendendo nada.
- Pode me explicar o que quer com a minha filha?
- Então, ela saiu comigo e acabamos nos desentendendo - suspiro - queria poder resolver as coisas com ela.
- Onde está minha filha agora? - ele parece irritado.
- Ela veio de uber, devo ter chegado antes porque furei todos os sinais.
- Vou esperar com você!
- Me deixa falar com ela a sós por favor? Prometo que se ela não aparecer em dez minutos rodo essa cidade toda atrás dela.
Ele reluta um pouco mas acaba cedendo - vou subir, se ela não aparecer me chame pois irei com você.
- Certo - concordo - Posso te pedir uma coisa?
- O quê? - ele questiona curioso.
- Não conte a ela que nós conhecemos e que você trabalha na empresa do meu pai, não sei como ela vai digerir essa informação agora.
- Tudo bem, não irei contar. Mas não minta e nem esconda nada dela, ela odeia isso. Conte rápido.
- Vou contar, mas não hoje.
- Tudo bem - ele acena coma  cabeça e sobe para o andar de cima.
Passados mais alguns minutos ela chega em casa. A observo abrir a porta da sala, ainda não notou minha presença então espero que perceba que estou aqui, o que não demora muito.
- O que você está fazendo aqui Kalel? - ela se assusta.
- Desculpa não queria te assustar, você não atendeu minhas ligações nem respondeu minhas mensagens e depois só dava caixa postal fiquei preocupado e vim até aqui pra ver se você já tinha chegado.
- Quem deixou você entrar ?
- Hm, seu pai é claro.
- O que você disse pra ele?
- Que você não quis minha carona e veio de uber, como não me respondia fiquei preocupado e vim até aqui. Ele me deixou entrar e aqui estou esperando você.
- Ok, agora vá embora, preciso tomar banho e dormir, amanhã tem aula cedo e já é 01h da manhã.
- A gente pode conversar antes ?
- Kalel, agora é 01h da madrugada, eu não quero conversar.
- Não queria que você passasse por aquilo - me aproximo.
- Me deixa em paz garoto, vai embora por favor.
- Não vou embora sem falar com você.
- Você me cansa sabia ? Eu posso fazer escândalo pro meu pai te tirar daqui.
- Você não faria isso.
- Ô PAAA... 
Ela ameaça gritar mas eu a interrompo tapando seus lábios - Por favor, só te peço dez minutos.
- Ok, dez minutos!
- Desculpa pela minha mãe ela é muito estúpida. Eu a amo mas reconheço quando ela é cruel.
- Você não falou nada e ainda disse que sou sua amiga. Amiga? Você me faz gozar, me beija, fica com ciúmes quando outro cara se aproxima de mim, diz que me quer e quando sua mãe chega eu sou sua amiga ?
- Desculpa eu só não sabia o que falar, fui pego de surpresa.
- Por que me levou até sua casa se sabia que isso poderia acontecer? É algum fetiche pra você me ver sendo humilhada?
- Claro que não Alana, eles iriam voltar só na quarta, mas voltaram hoje eu não sei o que houve.
- Claro - ela parece irredutível.
- Não fica brava comigo, eu vou falar pra ela sobre a gente.
- A gente?
- Sim, que não somos amigos, que eu amo você - as palavras saem rápido de mais.
- Que você o que ?
- Que somos mais que amigos, foi isso que eu disse.
- Não, você disse que me ama. Você não pode me amar, mal me conhece, não queira me iludir dessa forma é injusto.
- Eu... - repasso o que acabei de falar em minha mente e volto atrás - Você está certa, falei no calor do momento. Só quero uma chance de consertar isso.
- Não precisa consertar nada. Não temos nada quebrado para ser consertado - ela parece indiferente.
- Você não pode estar falando sério.
- Estou, vai embora por favor.
- Eu estou aqui, pedindo perdão e te pedindo uma chance de consertar as coisas e você me diz que não temos nada ? O que aconteceu hoje foi o que então?
- Não foi nada, passamos um tempo juntos, foi bom mas depois do que houve percebi que não dá pra seguir.
- Você só pode estar brincando comigo - abro um sorriso nervoso - Foi só a minha mãe sendo idiota Alana.
- Comigo, sendo idiota comigo.
- Eu vou ajeitar isso. prometo que ela nunca mais vai agir assim com você.
- Não vai mesmo, porque a gente para por aqui e vida que segue.
- Não faz isso. Você está sendo dramática de mais - Me sento no sofá.
- Dramática?
Atingi algum ponto sensível e sinto que ela vai explodir a qualquer momento mas não êxito - Sim, dramática.
- Vai embora agora, não quero mais falar com você.
- Por favor não faz isso.
- Agora Kalel! - Ela parece decidida.
- Eu estou implorando pra não fazer. Você esta me tirando do sério - passo a mão pelos cabelos me levanto e caminho de um lado para o outro - como vou ficar longe de você? Eu não consigo.
- Você consegue, tenho certeza de que Katarina vai te ajudar.
- Olha o que você está falando. Você está se ouvindo pelo menos ?
Você não é a Alana doce por quem me apaixonei.
- Você não sabe como eu sou quando estou magoada.
- Agora eu sei e não gosto.
- Então tá fazendo o que aqui? Vai embora logo.
- Quer saber Alana, você não é quem eu pensava. Foi um erro me envolver com você. Por um momento pensei que fosse diferente, nem sei como pensei isso uma vez que você sempre se joga em cima de algum desconhecido - permito que o desespero tome conta de mim quando digo essas coisas.
- O quê? - sua voz fica embargada.
- Isso mesmo que você ouviu. Minha mãe estava certa, você não serve pra mim.
Não espero por resposta, saio de sua casa sem olhar pra trás e despedaçado. Sei que não estou certo de tudo, mas vim aqui tentar consertar as coisas com a minha garota, mas ela não pareceu querer resolver o que quer que seja.
Talvez ela não me ame como eu a amo.

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