22. ALANA

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Permaneço por alguns minutos sentada agora sozinha absorvendo tudo o que acabou de acontecer. Ele foi mesmo embora e me deixou aqui sozinha. Me levanto, pago os dois cafés e volto pra minha casa. Sinto gratidão por termos escolhido algo perto da minha casa, caso contrário não sei como iria voltar. Entro no apartamento e me sento no sofá. Tiro meu celular do carregador e vejo que não tem nada além das mensagens e ligações de Pedro e Kalel. Não quero falar com Pedro e nem se quer ler suas mensagens, não agora, estou confusa demais e abalada com tudo o que aconteceu nas últimas horas.
Permaneço por mais um tempo ali parada olhando para a tela do celular e sentindo vontade de desabafar com alguém mas percebo que não tem ninguém além do meu pai, mas não quero falar com ele sobre isso. Por um instante me pego pensando em mandar mensagem para a Jéssica mas não sei se ela responderia, talvez se eu ligasse... Não! Com certeza não me atenderia. Jogo o celular de lado passo a mão por meu rosto soltando um suspiro mais alto do que eu imaginava. Decido Pegar o celular de novo e resolvo ligar pra ela, o máximo que pode acontecer é ela não me atender, vou saber lidar com isso.
Após três toques ouço a voz feminina do outro lado da linha.
- Oi.
- Ah, oi. Não imaginei que fosse me atender, na verdade esperava que você desligasse como das outras vezes.
- Quem é ?
Ela apagou meu número? - Sou eu Alana.
- Ah, sim.
Ficamos em silêncio por um instante mas eu logo o quebro - como você está?
- Estou bem. Te vi na festa do Kalel ontem...
- Você estava lá? Por que não veio falar comigo? Você ainda está brava?
- Não! É que eu não sabia como você iria se comportar a minha aproximação. Eu fui uma cretina com você.
- Não, não tá tudo bem você só precisava de tempo e eu entendo isso.
- Precisava mesmo, eu já passei por aquela situação várias vezes ao decorrer da minha vida mas durante um tempo parou, mas quando aquilo aconteceu, sabe, tudo voltou a tona, aquele sentimento eu não soube lidar com ele.
- Tá tudo bem amiga.
- Amiga?
- Posso te chamar assim né? ainda somos...
- Claro, pensei que nunca iríamos voltar a nos falar. Me perdoa?
- Tá tudo bem, vamos virar essa página. Eu preciso conversar, acho que vou enlouquecer.
- Eu vi você com o Kalel.
- Você viu ? Meu Deus, será que mais alguém viu?
- Eu não sei, mas que beijo foi aquele?
- Eu não sei, quando me dei conta já estava beijando ele.
- Meu Deus - ela da uma gargalhada.
- O quê?
- Nada, continua vai.
- Eu não sei o que aconteceu. Estávamos meio que discutindo porque ele me viu beijando o Pedro. Pedro é meu ex que por coincidência conhece Kalel e eu não sabia disso. Aí descobri que o Pedro tem uma namorada lá no Canadá. Fiquei brava com ele e tentei ir embora, mas Kalel me impediu, falou umas coisas e me beijou. Fiquei confusa, comecei a me embebedar e fui dançar. Um desconhecido se aproximou e tentou me beijar a força, Kalel quase foi pra cima dele por isso, depois a Katarina chegou e o beijou. Aquilo doeu e me afastei, dessa vez ele não veio atrás, acabei esbarrando em Pedro, meu celular descarregou não tinha como pedir uber então ele me trouxe até em casa. Hoje de manhã Kalel veio aqui... - Digo já sem fôlego.
- Na sua casa ?
- Sim, com a mesma conversa de ontem.
- E qual era a conversa exatamente?
- Que ele me quer e não consegue mais ficar perto sem me tocar, beijar...
- Caralho, muita informação.
- Sim eu sei.
- Como você se sente sobre tudo isso?
- Eu não sei, quer dizer eu acho que sei só não quero admitir isso pra mim mesma.
- É recíproco né?
- Sim - minha voz quase não saí.
- Você disse isso a ele ?
- Claro que não. Não consegui, na verdade fiquei muito surpresa com a declaração dele.
- Você quer a minha opinião sobre ?
- É óbvio que quero.
- Conheço Kalel desde o fundamental e se bem me lembro a Katarina sempre esteve por perto. Acho que deu certo por um tempo mas acabou, dava pra ver nos olhos dele que havia acabado mas existe um interesse de família por trás desses dois.
- Ele comentou sobre isso, mas como é isso?
- Eles são de família tradicional com muito dinheiro. E não querem "estranhos" entrando nela. Pra eles financeiramente falando é melhor que eles fiquem juntos e até se casem.
- Você só pode estar brincando né?
- Queria estar, mas a última garota que se aproximou dele simplesmente sumiu da escola, da vida dele sem deixar rastros. Hoje ela é uma super modelo ou coisa do tipo. Ele ficou magoado e acabou voltando pra Katarina. Depois disso ele se fechou pra novas pessoas, ao menos até você aparecer.
- Você acha que devo me afastar então? Se bem que ele meio que já fez isso.
- Como assim?
- Ele veio aqui como te disse e fomos tomar café juntos na padaria, depois de me dizer tudo eu disse que estava confusa. Ele ficou com raiva e foi embora. Me deixou lá sozinha. Você acha que devo mandar mensagem ou ligar talvez ?
- Sinceramente, não vejo como isso pode acabar bem. Os pais dele são determinados sobre ele e Katarina. Estou falando pro seu bem tá amiga. Se envolver, por mais que ele goste de você vai acabar te magoando.
- Certo, eu entendo. Talvez seja melhor me afastar mesmo - suspiro.
- Saiba que o que você decidir eu estou do seu lado. Vou te apoiar em tudo.
- Obrigada.
- Não tem de quê. Podemos nos falar mais tarde? Preciso ajudar minha mãe.
- Tudo bem, vai lá.
- Até mais, beijo.
- Beijo.
Desligo o telefone e absorvo toda aquela informação que recebi nos últimos minutos avaliando todos os detalhes. Realmente as coisas não parecem terminar bem entre eu e ele. Talvez fosse melhor fingir que esse final de semana não existiu e que nada disso aconteceu e é isso que vou fazer. Me levanto e vou ao banheiro. Tomo um banho como se ele pudesse me limpar de tudo aquilo que senti nas últimas horas. Parece funcionar, subo ao meu quarto e visto uma camisa cinza que fica enorme em mim, me lembro que é a camisa que Pedro deixou pra mim quando foi pro Canadá.
Me sento na cama, pego meu notebook e começo a mexer quando meu pai bate a porta.
- Posso entrar ?
- Pode sim - digo me recostando na cabeceira da cama.
- Você está bem ?
- Estou pai.
- Não vi a hora que chegou ontem.
- Não demorei tanto quanto parece.
- Espero que não.
- Tá tudo bem ?
- Ah, está sim. Só estou preocupado com você.
- Comigo? por que ?
- Não sei, minha filhinha querida  saindo pra festas por aí. Da uma pontada de preocupação sabia?
- Relaxa pai, eu sei me cuidar.
- Claro que sabe - ele sorri.
- Você queria falar algo comigo? Parece preocupado.
- Na verdade quero sim. Vou direto ao ponto. Eu conheci alguém...
- O quê?
Me levantei tão rápido que quase joguei meu notebook no chão mas  meu pai o segurou antes da queda. O encaro furiosa, como ele ousa se envolver com alguém? Minha mãe deveria ser a única em sua vida. Meu Deus esse dia nunca acaba!
- Filha...
- Não! como você pôde? Por um acaso já esqueceu a minha mãe?
- Claro que não e nunca vou esquecer é só que eu estava solitário e Rebeca apareceu, fomos ficando próximos e...
- Eu não quero ouvir mais.
- Não trate dessa forma minha filha sei que sua mãe iria querer que eu seguisse em frente.
- Mas eu não quero. Você não pode fazer isso com ela.
- Filha por favor da uma chance pra ela garanto que você vai amar.
- NÃO EU NÃO VOU!
- Alana você está se comportando feito uma criança!
- Não estou me comportando como criança. Estou me comportando como alguém que respeita a memória da minha mãe.
- Eu também respeito mas eu estou apaixonado por ela. Sinto falta da sua mãe e certamente ela sempre vai ser a dona do meu coração mas não está entre nós mais.
- Podemos conversar sobre isso depois ?
- Tudo bem. Quando estiver pronta me avise.
Ele se levantou e me abraçou mas não o abracei de volta. A raiva que me corroi por dentro não me permitiu emitir nenhum afeto. Ele beijou o topo da minha testa e saiu. Sei que não deveria agir dessa forma mas é sobre a minha mãe não sei se consigo lidar com isso. Esse final de semana está um inferno. Queria poder sumir mas pra onde? Com quem ? Jéssica provavelmente está ocupada e não quero incomodar com mais esse problema. Me jogo na cama pra abafar as lágrimas que insistem em escorrer por meu rosto. Segurei por tempo de mais, desde que entrei naquela faculdade na verdade. As coisas não tem dado muito certo desde então. Quando olho pro lado vejo que meu celular está vibrando o pego e encaro o nome que aparece na tela.
- Oi Pedro.
- Até que enfim me atendeu. Você esta bem? Eu te liguei umas ...
- Vinte vezes, sim eu vi.
- Por que não me atendeu? Está ocupada?
- Na verdade eu não queria mesmo.
- Sua voz.. Você está chorando?
- Não! - me apresso em responder agora com voz mais firme - o que você quer ?
- Queria poder falar com você sobre a gente.
- Não tem "a gente" .
- Vai ignorar o que aconteceu ontem?
- Foi um erro e você mentiu pra mim.
- Por favor você pode ao menos me ouvir ?
- Fala.
- Por aqui não, quero te ver.
- Claro que não.
- Por favor? podemos jantar hoje ou ir ao shopping? eu preciso me esclarecer com você.
- Não quero sair, tem muita coisa acontecendo agora.
- Então eu vou aí.
Respiro fundo e solto lentamente o ar que prendi por alguns segundos - Ok.
- Chego em dez minutos.
Me levantei e me troquei. Agora estou com uma camisa preta um pouco larga, calça jeans e um allstar. Amarro os cabelos firmes, passo uma água no rosto e abro a porta da sala assim que ouço as batidas.
- Oi.
- É... Oi - ele esfrega a mão em seu braço demonstrando nervosismo. Típico dele fazer isso quando não tem certeza do que falar. Foi assim quando ele me pediu em namoro. Achei tão fofo, agora não sei o que sinto a respeito
- Podemos ? - ele aponta pra dentro da casa.
- Não, vamos dar uma volta ir qualquer lugar que não seja aqui.
- Claro.
Entramos em seu carro e ficamos em silêncio até chegar ao lugar onde havia muitas pessoas fazendo caminhada, correndo e pedalando. Ao redor tinha também alguns barzinhos e música ao vivo. Uma verdadeira poluição sonora uma vez que cada bar tocava um estilo diferente.
- Podemos ficar por aqui né?
- Tanto faz.
Ele estaciona o carro próximo a um único bar em que a música era suave e agradável
- Podemos entrar lá? - ele aponta para o bar tranquilo- Não encare como um encontro ou coisa do tipo, só quero esclarecer algumas coisas.
Êxito um pouco mas acabo concordando. Entramos no barzinho e nos sentamos numa mesa mais reservada. Pedro pediu uma água com gás e eu um suco de maracujá acredito que eu vá precisar pra encarar esse dia e essa conversa. Passados alguns minutos e nosso pedido chega.
- Pode começar sou toda ouvidos.
- Primeiramente me desculpa por beijar você. Quando eu te vi linda daquele jeito me bateu uma saudade da gente e me esqueci de todo o resto.
- Se esqueceu do seu namoro ? Você foi um babaca comigo e com ela. Deveria ter me contado no primeiro momento em que nos vimos. Aliás naquele momento você também tentou algo e no jantar com meu pai ... - Estou furiosa.
- Sim eu sei. Mas te reencontrar me causou coisas que pensei que tivessem acabado quando você terminou comigo. Aquilo me matou você sabe disso né?
- O quê você queria que eu fizesse afinal? A gente mal se falava Pedro. Eu também sofri, senti sua falta mas não tinha o que fazer.
- Você poderia ter ao menos tentado ao invés de me chutar.
- Nós tentamos e não deu.
- Você desistiu fácil de mais.
- Ei, que rumo essa conversa esta tomando?
- Ok, desculpa não vim aqui pra falar sobre o nosso término.
- A quanto tempo você e Karen estão juntos?
- Tem cinco meses.
- Hum...
- Eu não queria, tentei falar com você.  Não queria seguir em frente mas você foi me ignorando se afastando de mim e quando percebi já estava envolvido com ela.
- Você ama ela? - Não sei por que perguntei isso, o que isso agrega a minha vida afinal?
- Eu amo, não como amei você, mas a amo. Se você tivesse me pedido pra ficar ou voltar eu teria feito você sabe né?
- Sei e exatamente por isso eu nunca pedi. Seria muito egoísta da minha parte.
- Você tem alguém?
Me escolho na cadeira quando ele me pergunta. o primeiro nome que vem a minha mente é o de Kalel mas eu não o tenho, então sigo sozinha - Não.
- E o Kalel? Tá na cara que ele é afim de você.
- Que saco todo mundo diz isso. Não quero falar sobre esse garoto.
- Tudo bem, esquece o ele então - ele sorri - por favor me perdoa eu prometo não fazer mais isso. Você sabe o quanto significa pra mim.
- Tudo bem. Vamos esquecer isso.
Eu não conseguiria odiar ou ficar com raiva do Pedro. Ele errou em me beijar mas eu permiti. Tenho tanta culpa quanto ele mesmo que indiretamente. Além de ex ele também é meu amigo sempre foi. Não tem por que eu o afastar agora, não agora que ele voltou e está com problemas com seu pai - Como seu pai está?
- Está melhor, um pouco indisposto mais melhor.
- Fico feliz, espero poder visita lo em breve.
- Ele perguntou de você. Certeza que vai gostar de te ver.
- Eu também vou. Ele sempre foi um amor comigo. Até mesmo quando perdi minha mãe e ...
Um nó se forma na minha garganta ao falar da minha mãe pois automaticamente lembro da conversa que tive com o meu pai mais cedo.
- Tudo bem ? - ele segura minha mão e eu permito.
- Sim - bebo um gole do suco e me volto pra ele - estou bem, de verdade.
- Eu te conheço Alana, não foram dois dias de namoro, foram dois anos. E é por isso que também sei que não está a vontade pra falar disso agora, então vamos mudar de assunto.
Quando dei por mim já estava totalmente à vontade e descontraída. Rindo das coisas que ele passou no Canadá até se adaptar das lembranças de quando éramos criança e das brigas bobas. Por mais que aquilo tenha acontecido Pedro é incrível e isso eu não posso negar. Ele tá fazendo tudo que eu precisava sem nem ao menos saber o que eu precisava. Enquanto conversávamos notei um grupo de homens entrando no mesmo ambiente que estávamos uma gargalhada chamou a minha atenção e quando olhei direito pude sentir o frio tomar conta do meu corpo. Era Kalel seus cabelos caindo sobre a testa, calça preta mais justa, uma camisa azul escuro e um vans preto. Não consegui tirar os olhos dele desde que entrou no local. Pedro fala sem parar mas agora não ouço uma palavra se quer e ele nem parece perceber isso. Mais uns passos a frente e os olhos verdes de Kalel encontram os meus e sei que ele sentiu a mesma coisa que eu. Mesmo não querendo desviei o olhar me voltando pra Pedro e rindo das últimas palavras que ele diz.

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