MEU EU EM VOCÊ

80. KALEL

Faço um sinal para que ela fique quieta e ela obedece. Gosto quando ela é uma boa garota.
Que saudade eu estava da minha menina. Duas semanas sem vê-la parece mais anos e confesso que tive que me controlar para não rasgar toda sua roupa e foder ela aqui mesmo.
Minha mãe e Katarina adentram o escritório e fecham a porta.
Ela está vestida de noiva, posso ver pela gretinha que deixei aberta e minha mãe usa um vestido longo azul turquesa que realça seu corpo dando até mesmo a impressão de que ela tem menos idade.
- Aqui estão as passagens pra sua lua de mel - minha mãe a entrega os papéis.
- Ele já disse que não vai, como vou convece-lo?
- Você é uma mulher, use suas artimanhas garota - ela a encara.
- Você conhece o seu filho e sabe o quanto ele é teimoso. Ele vai começar a desconfiar tia - ela parece tensa - Minha barriga não cresce e ele já tem questionado isso. Se formos analisar tem quase dois meses dessa suposta gestação.
- Por isso que você precisa engravidar dele nessa lua de mel, caso contrário nosso plano vai por água abaixo.
- E como vamos explicar essa criança nascer depois de nove meses?
- Não vai, porque vamos fazer o seu parto antes.
- Mas aí vai ser prematuro...
- Não interessa - minha mãe a encara - essa criança vai vir ao mundo e trate de engravidar logo. Você vai parir com o melhor médico desse país e se sua preocupação é que isso possa afetar a criança o que eu duvido muito não se preocupe está tudo minimamente calculado. Agora vamos, dessa vez a noiva não vai chegar atrasada e nada vai estragar essa noite.
Minha mãe a puxa pelas mãos e ambas saem do escritório. Alana me olha incrédula enquanto eu tento processar tudo aquilo que acabei de ouvir. Meu mundo parece ter desabado, eu amo uma criança quem nem se quer existe e estou vendo o sonho de me tornar pai desmoronar bem na minha frente.
- Kalel.. - Alana praticamente sussurra e passa a mão por meu braço afim de me acalmar.
- Não - eu a afasto, abro a porta do armário e saio.
- Eu sinto muito Kalel - Alana vem logo atrás.
- Como elas puderam fazer isso comigo caralho? - grito.
- Fica calmo Kalel.
- Não pede calma porra - jogo todas as coisas que estão em cima da mesa de uma só vez no chão - Eu perdi você Alana por uma mentira - eu a encaro.
- Eu sei que isso é algo muito sério, mas você precisa manter a calma e pensar no que fazer.
- O que fazer? - abro um sorriso sinistro - Vou acabar com essa palhaçada - ando de um lado para o outro e passo a mão pelos cabelos agora bagunçados - Elas acabaram com a minha vida - grito - Eu não tenho mais você, eu não tenho meu filho, tudo não passou de uma mentira suja. Acabou! Eu não aguento mais..
- Você está me assustando Kalel - ela se aproxima.
- Você não sabe o quanto eu venho sofrendo sem você. Eu não durmo direito desde a última vez que tivemos contato. Só durmo através de remédios. Elas me destruíram, acabaram com tudo.
- Ei, ei - ela me abraça - eu estou aqui.
- Não, você não está. Agora você é dele, eu te perdi - as lágrimas rolam por meu rosto - tudo isso por causa de dinheiro - tento me afastar dela mas não consigo, não tenho forças.
- Você nunca me perdeu Kalel porque eu nunca deixei de te amar - ela passa a mão por meu rosto molhado.
- Isso significa que vai deixar ele pra ficar comigo?
- Não é tão simples assim, ele tem sentimentos por mim.
- Então talvez eu devesse me casar com a Katarina fazer um filho nela e fingir que não sei de nada já que você seguiu em frente - me afasto.
- Kalel por favor - ela tenta se aproximar.
- Não - grito - saí daqui - ordeno.
- Não vou sair - ela parece firme.
- Você vai, porque aqui é a minha casa e você está apenas prestando serviço pra mim. Então volte ao seu trabalho, porque vou me casar daqui a vinte minutos.
- Eu não vou - ela grita - você não pode falar assim comigo eu não fiz nada pra você.
- Você fez, eu te pedi tanto pra ficar, eu implorei e você escolheu ficar com ele. Se tivesse me escutado eu não estaria passando por tudo isso agora.
- Agora a culpa é minha? É isso que você está falando Kalel?
- Poderia ter sido diferente se tivesse dado uma chance pra nós - grito - seu amor por mim é fraco - digo num tom calmo - Os seus piores momentos eu passei ao seu lado. Quando precisou de tempo eu esperei por você, quando precisou do meu apoio eu apoiei você. Eu nunca cogitei deixar você, estava disposto a enfrentar tudo e todos por você mas você nunca esteve disposta quando se tratou de mim.
- Você não pode falar isso, tinha uma criança envolvida. Como eu poderia ser egoísta a ponto de te pedir pra ficar sabendo que isso poderia afetar diretamente um ser que nada tem haver com a nossa bagunça?
- Você poderia ter confiado em mim. Você nem se quer tentou Alana - passo as mãos pelos cabelos os puxando - Agora olha pra mim - paro diante dela - estou quebrado por todas vocês.
- Você não pode me culpar por isso também, não é justo.
- O que é justo pra você ein? Você nunca tem culpa de nada, você sempre é a magoada e eu sempre o mostro que te machuca. Não foi o que você disse? Que eu faço mal a você? Eu só tentei te amar e te provar isso todos os dias. Não sou perfeito mas eu tentei e tentei e o que você fez? Aceitou namorar com outro cara. Você nunca me amou de verdade Alana.
- Cala a boca, você não sabe o que está falando - ela grita.
- Sim, eu sei. Essa é a única verdade.
- Você vai se arrepender de tudo isso Kalel eu juro que vai.
- Eu não vou me arrepender - me aproximo - e sabe por que? Agora você tem outro e a única pessoa que se fodeu nessa história toda fui eu. Se um dia eu te quis na minha vida, saiba que agora eu não quero mais, nunca mais.
Ela me encara com lágrimas nos olhos e saí correndo se afastando de mim. Estou quebrado de mais, machucado de mais pra lidar com tudo isso. Sei que ela não tem culpa de todo esse circo que foi montado para me forçar a casar, mas eu a perdi, perdi um filho que nunca tive, perdi minha vida e ela nem parece se importar em me querer de volta e isso só me faz acreditar de que nada mais importa.
Ando de um lado para o outro, me sinto confuso e perdido. Nunca imaginei que minha mãe seria capaz de algo tão baixo pra me separar de alguém.
Me sento um pouco respiro fundo e decido ir até o banheiro me recompor para poder ir a cerimônia. Ainda não sei o que vou fazer, minha cabeça está a mil, mas nada disso vai ficar assim.