3. ALANA

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As semanas foram se passando, algumas pessoas da faculdade já haviam se acostumado comigo, mas não mudou muita coisa. Jéssica e eu nos apróximavamos cada vez mais, gostava dela e de sua companhia.
O dia amanheceu, era um sábado ensolarado com o céu bem azul, dia perfeito para ir ao clube ou coisa do tipo. Me levanto, vou ao banheiro fazer minhas higienes matinais e desço para tomar café.
- Bom dia meu amor.
Observo meu pai ajeitar a camisa social por dentro da calça jeans e se sentar a pequena mesa.
- Bom dia pai.
- Acordou cedo em pleno sábado. Algum compromisso hoje ?
- Ah sim, não te falei mas a Jéssica vai vir aqui hoje.
- Jéssica?
- Sim, uma amiga da faculdade - afirmei e logo em seguida bebi um pouco do café - Ela é ótima - abro um sorriso.
- Tenho certeza que sim - ele morde um pedaço de pão - Hm.. e a faculdade, como andam as coisas ?
- Ah, você sabe, muitos trabalhos, exercícios, essas coisas.
A verdade é que não queria que meu pai soubesse do desastre que tem sido em relação a minha adaptação.
- Mais tirando essas coisas está tudo bem?
- Ah, sim.
- Não me convenceu - ele me olha atento.
- Não, sério está tudo bem. Tão bem que hoje vai vir uma amiga minha aqui certo ?!
- Tá bom, eu acredito em você, mas se houver qualquer problema eu estou aqui filha, pode se abrir comigo - ele apoia sua mão na minha.
- Eu sei pai.
Um sorriso surgiu em meus lábios, eu sabia que não importava a situação, meu pai sempre estaria do meu lado. Essa foi a promessa que ele fez a minha mãe em seu leito de morte. TInha onze anos quando a perdi pro câncer. Foram tempos difíceis e eu o admiro muito por ter conseguido vencer seus próprios demônios.
- Bom, já vou indo - ele se levanta - Se cuida, eu amo você - ele se aproxima e beija o topo da minha cabeça.
- Eu também, se cuida.
Permaneço sentada terminando meu café e pensando a que horas Jéssica chegaria, ela não faz o tipo que se atrasa para algo. Marcamos as dez horas. Pouco tempo depois me levanto e começo a ajeitar a bagunça do café da manhã e logo em seguida o restante da casa.
Olho para o relógio acima da TV e percebo que já são quase dez, subo até meu quarto e ouço o interfone tocar.

"Oi, bom dia amiga, já estou aqui."
"Oi, bom dia. Pode subir, moro no 101."

- Você é bem pontual garota - abro a porta e a observo, seus cabelos cor se cobre presos num coque como sempre, suas roupas largas e algumas sacolas.
- Claro que sou, se marcou comigo às dez eu estarei lá - ela abre um sorriso.
- Vem, entra - digo e em seguida fecho a porta.
- Estou super animada pra passar o dia com você.
- Eu também - abro um sorriso sem jeito - O quê tem aí nessa sacola?
- Ah, claro. Eu trouxe sorvete, chocolate e balas.
- Uau, veio preparada.
- Claro que sim - ela abre um sorriso.
- Bom, pode deixar essas coisas ali em cima da mesa e o sorvete põem no congelador. Vou preparar nosso almoço. Sinta-se em casa.
- Eu ajudo você.
- Não precisa, rapidinho eu faço.
- Mas eu quero ajudar. Enquanto preparamos a gente conversa.
- Tudo bem - Juntas fomos até a cozinha e separo o que iríamos precisar - Vamos de macarrão a bolonhesa ?
- Claro, eu amo!
- Ótimo.
- Alana, posso te fazer uma pergunta?
- Claro que pode - digo enquanto me sento a mesa para picar a cebola.
- Bom, serei direta. Eu andei reparando uns olhares e me pareceu que você está afim do Kalel. É isso mesmo ou é só coisa da minha cabeça?
Sinto meu corpo gelar a hora que ela joga o balde de água fria sobre mim com aquela pergunta. Assim que ela disse aquele nome automaticamente a imagem de Kalel veio a minha mente e pude sentir minhas pernas ficarem bambas. Tive que reorganizar meus pensamentos para conseguir responder.
- Claro que não, da onde você tira essas coisas?
- Eu não sou cega Alana, a forma como você olha pra ele. Posso jurar que seus olhos brilham.
- Você está viajando.
Sinto meu rosto queimar no instante em que ela faz aquela afirmação, me levanto depressa e vou até o fogão e o acendo.
- Uma pena, porque ele também olha pra você com o mesmo brilho.
Quase me queimo quando ela profere aquelas palavras. Kalel olhava pra mim? Como não percebi isso antes ? Será que havia mesmo brilho em seus olhos como Jessica disse? Balanço a cabeça em forma de negação. Isso só pode ser loucura, mas não me seguro, eu preciso saber.
- Ele te disse algo? - Não a olho, sei que meu rosto está corado, então sigo de costas colocando a panela no fogo.
- Claro que não né, mas sei que estou certa.
- Impossível, e mesmo que fosse real esse seu delírio ele está com a Katarina e você sabe.
- Você gosta dele né? Eu sabia!
- Não gosto! - quase grito - Quer dizer, eu acho ele um gato, cheiroso, inteligente, forte, gentil, tem um sorriso lindo mas isso não quer dizer absolutamente nada.
Jessica caí na gargalhada - aposto que ele acha o mesmo de você.
- Claro que não.
- E por que não? Olha só pra você - ela se aproxima - Você é linda, usa umas roupas meio sombrias e tal, mas realçam ainda mais a sua beleza.
- Obrigada pelas "roupas sombrias" - abro um sorriso - Esquece isso, não vai rolar.
- Se estiverem destinados a isso, vai rolar e vai rolar muuuuito.
Reviro os olhos diante de seu argumento - mas você acha mesmo que os olhos dele brilham quando me vê?
- Eu tenho certeza. Até cara de apaixonado ele faz quando te olha.
Abro um sorriso tentando imaginar seu rosto de apaixonado.
- Só acho que ele ainda não encontrou uma maneira de chegar em você.
- Você diz isso com tanta certeza, como pode ?
- Alana, eu estudo com ele desde o ensino médio e nunca o vi olhar pra ninguém da forma que olha pra você.
- Talvez você esteja errada e ele me olha assim porque pensa exatamente como os outros que sou uma estranha.
- Não seja boba, Kalel não é assim.
- Quem te garante ? Ele está sempre com a Katarina que sempre gosta de me alfinetar por causa do meu estilo.
- Isso não quer dizer nada.
- Ou quer dizer muita coisa. Vamos esquecer isso tá bom?
- Tudo bem, não está mais aqui quem falou - ela levanta as mãos em forma de rendição.

MEU EU EM VOCÊOnde histórias criam vida. Descubra agora