Ando de um lado para o outro remoendo as últimas palavras que ouvi a pouco.
Ela não me quer por perto e me sinto culpado por tudo que aconteceu com a minha menina.
Passo a mão na calça pela milésima vez para limpar o sangue que não para de escorrer nada em mim dói mais que saber que Alana não me quer por perto.
Olho pra porta do quarto esperando a enfermeira e nada. Estou preocupado e se algo aconteceu? Levo a mão na maçaneta e quando a giro a porta se abre e eu me afasto.
- Ela está bem? - tento olhar através da enfermeira mas ela logo fecha a porta.
- Sim, ela só está em choque.
- O que eu posso fazer pra ajudar ela?
- Primeiro ter paciência - ela me analisa - ela passou por um trauma muito sério e por mais que queira você longe ela precisa de você.
- Eu não sei o que fazer ela nem me deixa chegar perto.
- Ela precisa de uma ajuda profissional e do seu apoio.
- Faço tudo por ela.
- Aqui nós temos uma psicóloga a disposição, ela pode fazer o acompanhamento com ela. Se quiser posso providenciar...
- Claro - me apresso em responder.
- Agora vamos dar uma olhada na sua mão.
- Não precisa, eu não me importo.
- Você não pode permanecer nas dependecias de um hospital com um ferimento aberto - Olho para minha mão e depois faço que sim com a cabeça - me acompanhe por favor.
Ela toma a frente e eu a sigo até a enfermaria. Ela aponta pra cadeira pedindo para que eu me sente e coloque a mão sob a maca a minha frente.
- Vou chamar o médico para que possa dar os pontos.
- Tá.
É a única coisa que consigo responder no momento.
Pouco tempo depois um homem que aparentava ter lá seus cinquenta anos aparece na pequena sala. A enfermeira faz todos os preparativos para que ele dê os pontos necessários.
Ele aplica a anestesia e começa o trabalho que não demora muito a ficar pronto.
- Pronto senhor..
- Kalel - completo sua fala.
- O senhor está liberado.
- Obrigado - o agradeço e me viro para a enfermeira - posso voltar pro quarto dela?
- Melhor você ir pra casa, tomar um banho e descansar não acha?
- Na verdade prefiro ficar aqui até ela ser liberada, nem que seja do lado de fora.
- Tudo bem, você é quem sabe. Temos uma sala de espera você pode ficar lá se quiser.
- Obrigado, pode me dizer onde fica?
- Ela fica no primeiro andar do prédio. Tem um elevador assim que você saí dessa sala a esquerda.
- Entendi - abro um sorriso simpático - obrigado.
Me levanto e sigo até o elevador e logo desço para o primeiro andar. Olho ao redor e vejo poucas pessoas, procuro o banheiro masculino e o encontro logo a frente.
Entro no banheiro e analiso meu rosto no espelho, meus cabelos estão bagunçados e as olheiras estão enormes. Há também rastros de sangue em meu cabelo e em meu rosto. Abro a torneira e começo a me limpar, assim que termino enxugo com papel toalha meu rosto, minhas mãos e depois volto para a sala de espera. Pego meu celular no bolso e vejo que ele descarregou completamente. Preciso ligar pra josphine voltar ao hospital pois certamente Alana não vai querer ir sozinha comigo.
Olho ao meu redor e vejo uma jovem sentada não muito longe de mim mexendo em seu telefone, penso se devo pedir emprestado pra fazer a ligação. Meu desespero é maior, me levanto e caminho até ela.
- Olá - me sento ao seu lado - você poderia me emprestar seu celular pra eu poder fazer uma ligação urgente?
- Ah claro - ela abre um sorriso - Aqui.
Ela me entrega o aparelho e digito o número de Josephine - Obrigado - a agradeço enquanto chama.
- Oi?
- Ah, oi Jô, sou eu Kalel.
- Que número é esse?
- De uma garota que está aqui na sala de espera meu celular descarregou.
- Ah sim. Como ela está?
- Em choque - sou direto - preciso que volte pra cá.
- O que houve?
- Ela acordou conversamos, depois ela dormiu de novo e teve um pesadelo, depois disso não me deixou mais chegar perto dela - tento engolir o nó que se forma em minha garganta - ela vai ser liberada logo e temo que ela não queira sair comigo então preciso que volte.
- Ela tem pra onde ir?
- Nossa casa, ela vai ficar conosco até estar melhor.
- Ela tem algum familiar por aqui?
- Tem o pai, mas ela me pediu pra não contar pra ele o que aconteceu.
- Tudo bem, vou me ajeitar e em trinta minutos estou aí.
- Obrigado Jô.
- Não precisa agradecer. E você como está?
- Não tô bem.
- Oh meu irmão as coisas vão se ajeitar, tenha um pouco de paciência.
- Estou tentando Josephine, eu juro que estou tentando mas você não viu o que aconteceu minutos atrás. Ela agiu como se fosse eu seu agressor. Aquilo foi como um soco na minha cara.
- Eu imagino, mas tente entender que foi traumático de mais pra ela tudo aquilo.
- Eu sei que foi só queria pegar minha menina no colo e ficar o tempo todo ao lado dela.
- Você vai fazer isso no momento certo. Vou desligar agora e já estou indo.
- Tá bom. Beijo
- Beijo tchau.
Ela encerra a ligação e devolvo o aparelho pra jovem.
- Novamente, muito obrigado.
- De nada - ela me encara - desculpa..
- Oi? - a encaro.
- Não pude deixar de ouvir. O que houve com a sua amiga?
- Namorada - a corrijo.
- Desculpe, namorada.
- Ela sofreu uma tentativa de estupro mas cheguei a tempo de impedir o ato. Ao menos é nisso que quero acreditar. Ela ainda não falou sobre esse assunto com ninguém.
- E agora ela não te quer por perto?
- Não - abaixo a cabeça.
- Qual o tamanho do seu amor por ela?
- Não tem tamanho - a encaro - supera qualquer tamanho ou dimensão. Eu a amo mais que tudo nessa vida.
- Então espere por ela. Pode ser que demore um pouco, mas ela vai ficar bem. Procure demonstrar que ama mas sem a pressionar, ela vai perceber isso. Acredito que agora tudo esteja muito confuso na cabeça dela mas com muito amor e paciência você consegue trazer ela de volta.
- Pode ter certeza que farei de tudo por essa mulher.
- Então faça, não deixe o amor da sua vida escapar não.
Faço que sim com a cabeça e em seguida permaneço em silêncio revivendo cada palavra que aquela jovem moça me disse. Parecia tão certa do que dizia e me fez enxergar uma pequena luz no fim do túnel e é nela que vou me agarrar com todas as minhas forças.Olho o relógio na parede e percebo que já se passou trinta minutos.
Josephine deve estar chegando, vou até o lado de fora do hospital e a vejo estacionar seu carro um pouco a frente. Ela desce e trás consigo uma mochila que carrega com um pouco de dificuldade, então corro até ela para ajudar.
- Deixa que eu levo isso - retiro a mochila de suas mãos - o que tem aqui?
- Bom, roupas limpas pra você e pra Alana também. Ah, e trouxe sapatos pra ela. Acredito que nós calçamos o mesmo número. Seu carregador também está na mochila.
- Caramba você pensa em tudo mesmo - abro um sorriso sem graça.
- Você está horrível, precisa de um banho - ela me analisa - e o que houve com a sua mão?
- Nada, esquece - olho pro carro a minha frente - por que veio no seu carro e não no meu?
- O seu tinha muito sangue, então o levei para uma limpeza. Também acho que não seria saudável Alana ir pra nossa casa nele no estado que estava.
- Sim é verdade. Você está certa.
- Ela já foi liberada?
- Ainda não. Você pode subir pro quarto dela enquanto eu me troco. Acredito que não vai demorar muito pra liberarem ela.
- Tudo bem.

VOCÊ ESTÁ LENDO
MEU EU EM VOCÊ
RomanceAlana é uma menina do interior que acaba de se formar no ensino médio e logo vai começar a faculdade, pra isso ela e seu pai precisam se mudar para uma nova cidade com novos amigos e desafios. O que ela não imaginava é que nesse novo colégio ela enc...