83. ALANA

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Quatro semanas já se passaram desde o acidente e Kalel insisti em não reagir e durmo no hospital todas as noites na esperança de que uma hora ou outra ele acorde.
Katarina veio visitá-lo algumas vezes, confesso que queria arrancar os cabelos da cabeça dela, mas ela me convenceu com seu pedido de desculpas e ver o Kalel assim já é castigo o suficiente pra ela entender o mal que causou.
A mãe de Kalel segue me odiando porém me aturando, pois já deixei claro que não arredo o pé daqui enquanto houver esperanças, já o pai de tem sido extremamente gentil e atencioso comigo. Me sinto grata por isso.
Todas as noites eu converso com Kalel como se estivesse presente de corpo e alma, me ouvindo o tempo todo, os médicos disseram que isso pode ajudar, mas ainda não obtive retorno.
Hoje é sexta feira extamente 20h da noite e hoje também faria exatos dois meses que começamos a namorar.
Me aproximo, beijo seu rosto, me ajeito na poltrona ao lado de sua cama e abro um livro pra ler.
- Esse Hardin é um otário, tem a Tessa nas mãos e consegue perder ela por falta de comunicação - reviro os olhos - você iria odiar essa história, mas no fim iria amar - abro um sorriso - Queria que você não desistisse assim como o Hardin nunca desistiu da Tessa - acaricio sua mão.
- Boa noite - o médico juntamente com mais três infermeiras e a família de Kalel entram no quarto.
- Boa noite - abro um sorriso simpático - está tudo bem?
- Viemos - o médico faz uma breve pausa - Viemos desligar os aparelhos - ele diz de uma só vez.
- Não entendo, ele ainda não acordou e precisa deles pra respirar certo? E se você desligar ele não vai conseguir respirar e vai morrer - faço uma breve pausa digerindo tudo aquilo que acabou de sair da minha boca - Não vocês não vão fazer isso - me levanto e coloco o livro sobre a poltrona.
- Alana - Josephine se aproxima - Já fazem quatro semanas sem nenhuma reação, temos que deixar ele ir.
- Você concorda com isso Josphine? Você realmente concorda com essa merda? - quase grito.
- Vai ser melhor assim Alana - ela passa a mão sobre meu ombro.
- Ele está vivo porra e vocês vão matar ele - eu me afasto de seu toque.
- Ele não reagi Alana, temos que aceitar que acabou - Josephine tenta me convencer.
- Vocês só podem estar de brincadeira comigo - abro um sorriso - Isso só pode ser piada. Eu não vou deixar vocês sabem né?
- Você não tem que deixar Alana, a família decidiu assim - a mãe de Kalel se manifesta.
- Como você consegue falar isso? É da vida do seu filho que estamos falando - a encaro - Vocês vão matar ele, entendeu? M A T A R!
- Vocês precisam se despedir - o médico nos interrompe - Vamos dar um tempo para isso ok? - ele nos olha e depois se retira do quarto deixando apenas as enfermeiras.
Saio logo atrás furiosa e caminho de um lado para o outro totalmente desesperada com a possibilidade de perder pra sempre o amor da minha vida.
Me sinto desorientada e de mãos atadas não posso tomar nenhuma decisão porque não sou da família mas também não posso permitir que isso aconteça eu jamais irei me perdoar por permitir tamanho descaso.
Pego meu celular e ligo para Jéssica, preciso desabafar com alguém.
- Amiga - ela atende no terceiro toque - tudo bem?
- Não está nada bem, eles vão desligar os aparelhos Jéssica - meu choro é intenso.
- Amiga, calma, respira.
- Não me pede pra ficar calma enquanto a família dele se despede pois já tomaram a decisão de matar ele.
- Alana, me escuta - Jéssica respira fundo e depois solta o ar - Eu sinto muito, mas já faz muito tempo e não existe nenhuma reação. Eu imagino o quanto deve estar sendo difícil pra você mas acho que chegou a hora.
- Porra Jéssica - quase grito - Eu não estou pronta.
- E nunca vai estar, ele é o amor da sua vida e tá tudo bem, mas você precisa entrar lá e fazer a sua parte porque ele precisa descansar em paz.
- Eu não vou conseguir - começo a chorar e a soluçar - Eu não posso dizer adeus.
- Você vai ficar bem amiga e tenho certeza que ele iria querer se despedir de você. Agora vai lá e aproveita os últimos segundos ao lado dele.
Desligo o celular sem nem se quer responder a última coisa que Jéssica me disse e só consigo pensar em tentar uma última vez trazer ele de volta pra mim.
- Alana, todos nos despedimos, agora falta você - Josephine abre a porta me avisando.
- Tudo bem Josephine - concordo de cabeça baixa e entro no quarto, eles já retiraram o tubo pelo qual ele respirava e entendo que só tenho mais alguns minutos - Vocês poderiam me dar um minuto sozinha com ele?
- Claro - o uma das enfermeiras responde e faz um sinal para que todos saiam do quarto.
Fico sozinha com Kalel e me aproximo lentamente tentando conter as lágrimas.
Acaricio seu rosto e sua barba pinica um pouco minhas mãos, abro um sorriso ao me lembrar de quando ele beijava meu pescoço e por causa da barba sentia cócegas.
Retiro minha mão de seu rosto e a coloco sob suas mãos, elas estão quentes e ele parece apenas estar dormindo.
- Eles querem tirar você de mim - abaixo a cabeça e fecho os olhos - Estão desligando os aparelhos. Eu não sei viver sem você mas se você quer ir, tudo bem juro que vou aprender mas se aí no fundo existe alguma luz que te traga de volta pra mim por favor venha. Eu sei que errei, que fui injusta e que talvez esse seja meu castigo, mas eu juro que estou disposta a viver tudo ao seu lado, formar uma família com você. Só não me deixa, lute por nós assim como venho lutando todo esse tempo para que você volte pra mim.
Eu não posso te perder de novo, eu não vou aguentar.
Me deito sob seu peito e ouço seu coração bater num ritmo acelerado.
- Volta pra mim Kalel..
- Eu volto se você se casar comigo.. - sua voz saí como sussurro enquanto ele aperta minha mão. Rapidamente me levanto para encara-lo.
- Eu devo estar ficando louca - seus olhos permanecem fechados - Mas eu ouvi sua voz - Digo mais pra mim mesma. Me aproximo de seu rosto e beijo seus lábios - Eu me caso com você, mas por favor volta pra mim - o encaro e posso ver o sorriso que nasce em seus lábios.
- Eu não consigo ir pra outro plano e deixar você aqui - ele abre os olhos lentamente.
- Meu Deus - quase grito - Você... Será que eu estou louca? - passo as mãos pelo rosto e me afasto - Você.. preciso chamar o médico.
- Espera, você não está louca, eu voltei por você Alana - ele me encara.
Volto a me aproximar e o abraço forte.
- Calma minha menina - ele tosse um pouco.
- Desculpa, eu ... meu Deus ... você ... você está de volta - abro um sorriso em meios lágrimas - Se isso for um sonho ou um delírio quero permanecer aqui pra sempre.
- Não é sonho meu amor, eu estou aqui.
- Vou chamar o médico - corro até a porta e abro com um pouco mais de força que esperava - Ele acordou, ele voltou!
- Do que você está falando garota? - a mãe de Kalel se aproxima de mim.
- O Kalel acordou, ele...
- O que?
O médico passa por mim e fica paralisado no meio do caminho mas logo em seguida se recupera e caminha até Kalel para examiná-lo.
- Você sabe o seu nome?
- Kalel Villela.
- Sabe a sua idade?
- Tenho vinte e dois anos, uma irmã gêmea..
- Você se lembra o que aconteceu?
- Sofri um acidente de carro na noite do meu casamento.
- Ok - o médico parece surpreso - aparentemente você está bem - o médico sorri - Isso é um milagre, mas irei pedir alguns exames para ter certeza.
Ela precisa de mim - Kalel responde com um pouco de dificuldade - Eu não posso partir e deixar a minha menina aqui, ainda não.
- É - o médico me encara - Você conseguiu, trouxe ele de volta.
Abro um sorriso misturado com lágrimas e corro novamente até Kalel - Eu te amo.
- Eu sei que ama, eu ouvi todas as vezes em que falava comigo. Inclusive, acho que estou com ciúmes desse tal de Hardin - ele faz bico mas logo abre um sorriso.
- Não precisa, você é o único em minha vida.
Me aproximo e beijo seus lábios.
Logo em seguida seus pais e sua irmã entram eufóricos e me afasto para que eles possam ver e falar com o meu Kalel.
Sim, meu porque a partir de hoje eu nunca mais vou deixar que ele se vá.

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