74. KALEL

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Entro no meu carro e dou a partida.
Não tenho cabeça pra encarar as próximas aulas. Tá tudo muito confuso e bagunçado aqui dentro.
Ter perdido a minha menina e saber que ela já encontra consolo nos braços de outro só faz tudo ficar pior.
Pego a rodovia e dirijo sem saber pra onde vou mas minhas mãos me levam ao único lugar onde a lembrança da minha menina segue viva.
Estaciono meu carro de qualquer jeito e entro no chalé. Ele está exatamente do mesmo jeito que ficou da última vez que estivemos aqui.
Olho ao redor e o vazio só aumenta. Juro que posso ouvir e ver minha menina em todos os cantos desse lugar.
Caminho até o quarto e me surpreendo quando vejo uma blusa do Superman em cima da minha cama. A pego com cuidado e o cheiro que exala é o da minha menina mas eu nunca a vi usar essa blusa porém tenho certeza que pertence a ela.
Me sento a beira da cama e não consigo mais conter as lágrimas.
Pego meu celular e penso em mandar mensagem mas logo descarto essa opção. Abro a galeria e vejo várias fotos dela que tirei enquanto ela estava distraída.
Me deito na cama admirando cada imagem dela até cair no sono.

...

Aos poucos vou abrindo os olhos ao som desse barulho. Esse barulho, parece ser meu celular. Espera, é meu celular.
Pego o aparelho que agora está no chão e vejo o nome brilhando forte na tela.
- Alô - minha voz está sonolenta.
- Onde você está? Tá tudo bem?
- Estou no chalé - faço uma breve pausa e me sento na cama esfregando um dos olhos - por que está perguntando como estou?
- Você sumiu e não foi trabalhar.
- O quê?
- Já são 17h Kalel.
- Meu Deus - tiro o celular da orelha e confiro a hora - eu realmente apaguei.
- Percebi. Eu liguei pra Alana - ela faz uma breve pausa - ela me disse que vocês terminaram é verdade?
- Sim - dou um suspiro - eu vou ser pai Jô.
- Pai? - ela quase grita - espera, a Alana está grávida e você terminou com ela? Qual é a porra do seu problema?
- Não Josephine - grito - ela não está grávida.
- Quem então? Não entendo.
- Katarina.
- O quê? Você traiu a Alana com a Katy e ainda por cima engravidou ela? Cara você é inacreditável.
- Não Josephine caramba - passo a mão pelo cabelo - eu não traí a Alana. Katarina está grávida de praticamente um mês e só descobriu agora. Tem um mês que estou com a Alana.
- Então você contou a ela sobre a gravidez e ela preferiu sair fora?
- Eu ia contar, mas ela acabou descobrindo e ficou boladona comigo. Terminamos e agora vou me casar com a Katarina.
- Você vai o que? - ela grita - você não tá bem garoto.
- Meu filho precisa de pais presentes.
- Aí você acha que se casando com ela a criança vai ser feliz? você não ama ela Kalel não vai ser um casamento feliz.
- A decisão já foi tomada Jô, não vou voltar atrás na minha palavra com a Katy.
- Você quem sabe - ela faz uma pausa - vou ser titia - ela da uma gargalhada - será que vai vir gêmeos igual nós dois?
- Não sei - dou um suspiro.
- Você vem pra casa hoje?
- Ainda não sei.
- Tá. Fica bem viu.
- Obrigado irmã.
- Te amo.
- Também amo você.
Desligo o celular e volto a me deitar.
Olho para o teto por um tempo e logo pego o celular para conferir se existe alguma mensagem de Alana, mas ao invés de ter mensagens dela vejo uma mensagem de Katarina.
" Meu amor você sumiu não consegui te encontrar na faculdade.
Passando pra te avisar que hoje irei contar aos meus pais sobre a gravidez. Na verdade eu e sua mãe decidimos fazer um jantar para contar isso a eles lá na sua casa.
Preciso que você apareça pois essa notícia nós dois é temos que dar.
O jantar está marcado para às 19h.
Espero por você 😘"
Respiro fundo pela milésima vez só no dia de hoje. Me levanto confiro as horas e já são quase 17:30h. Pego a blusa que Alana deixou por lá meu celular e volto pro carro.
Dirijo até minha casa e em 40min já estou estacionando na garagem de casa.
Entro rápido em casa afim de evitar contato com qualquer um que seja e vou pro banheiro tomar banho.
Deixo a água fria cair sob meu corpo levando com ela todo o peso desse dia cansativo.
Volto ao meu quarto e visto um conjunto de moletom preto. Guardo a blusa de Alana no fundo da gaveta como a única lembrança que me restou dela.
Ouço algumas vozes vindas do andar debaixo e sei que Katy e seus pais chegaram.
Passo a mão pelo cabelo o jogando para trás e desço as escadas.
- Kalel - Tati mãe de Katarina grita e caminha em minha direção - lindo como sempre - ela me abraça - como você está filho?
- Bem - respondo secamente - Rafael - entendo minha mão ao pai de Katy.
- Oi filho - ele aperta calorosamente minha mão.
- Você sumiu lá de casa Kalel, o que houve?
- Ah, estudando e trabalhando muito - respondo com indiferença.
- Um menino estudioso e trabalhador. Minha filha realmente teve sorte - ela sorri pra Katarina.
- Sim mãe.
- Vamos nós ajeitar na mesa, a comida já está pronta - minha mãe anuncia.
- Ah claro.
Ambos caminhamos até a sala de jantar e logo em seguida Josephine se junta a nós.
- Josephine - Tati a chama - quanto tempo docinho. Como você está diferente - ela a analisa de cima embaixo - Não acha que falta umas cores aí querida?
- Eu gosto do preto - ela sorri e se senta ao meu lado
- Por que tá aqui? - cochicho ao pé de seu ouvido.
- Mamãe me obrigou - ela sussura.
- Bom, já que estamos todos aqui acho que nossos filhos tem uma notícia para nos dar - minha mãe se manifesta.
Respiro fundo e olho para Katy que está sentada ao meu lado esquerdo de frente para seus pais. Ela abre um belo sorriso os encarando - Temos duas coisas pra falar né meu amor? - ela me encara.
- Sim - abro um sorriso amarelo.
- Então falem logo - Tati bate palminhas.
- Mãe, pai - Katy olha pros dois com sorriso largo nos lábios - estou grávida.
- Você o que? - Rafael se manifesta com irritação.
- Calma, não acabei - ela segura minha mão - E vamos nos casar.
O silêncio paira no ambiente criando uma tensão extremamente pesada. Os pais de Katy e meu pai nos olham perplexos já minha mãe permanece com um sorriso no rosto.
- Como isso foi acontecer Katarina? - Rafael quase grita.
- Bom, você sabe como isso aconteceu - ela da de ombros.
- Você é muito nova pra se casar minha filha. Pelo amor de Deus nem se formou na faculdade ainda.
- Pai, eu vou me formar e vou ter a minha família é isso.
- Vamos olhar pelo lado bom - minha mãe se manifesta - nossos filhos vão nos dar um netinho ou uma netinha e o melhor de tudo, vão se casar.
- Filha eu ... - Tati faz uma pausa tentando encontrar as palavras.
- As felicitações já me bastam mãe - Katy revira os olhos.
- Bom - minha mãe se ajeita na cadeira - aposto que meu filho nem teve tempo de comprar um anel de noivado então eu mesma comprei - ela sorri e retira a caixinha preta de veludo e me entrega - vamos filho pegue e a peça em casamento oficialmente - ela sorri.
- Já fiz isso mãe - a encaro.
- Assim, não foi exatamente um pedido né Kalel - Katy me alfineta.
- Anda filho - ela empurra a caixinha pro meu lado.
Pego a caixinha me viro para Katy e ela faz o mesmo. Seus olhos brilham e eu me sinto horrível por estar fazendo isso. Daria tudo pra ser a minha Alana, mas não é e agora não a nada que eu possa fazer a não ser me casar com Katarina.
- Katarina, você aceita se casar comigo? - abro a caixinha e estendo em sua direção.
- Deixa eu pensar. Hmm - ela apoia as mãos no rosto - Óbvio que sim meu amor.
Retiro o anel da caixinha, coloco em seu dedo e abro um sorriso amarelo.
- Eu te amo meu amor e agora nada nem ninguém vai nos separar - ela beija meus lábios e logo me afasto.
- Agora vamos comemorar - minha mãe se levanta animada enquanto bate palmas.
- Ah, vamos - Katy pega uma taça de vinho.
- Você não pode beber querida - minha mãe a alerta.
- Ah é - ela passa a mão pela barriga - eu me esqueci.
- Como se esquece que está grávida? - Josephine sussurra.
- Disse alguma coisa cunhada querida?
- Ah não, pensando alto aqui. Esquece.
- Foi o que imaginei.
- Bom nesse caso só nos resta parabenizar vocês e abençoar essa união - Rafael se manifesta e faço que sim com a cabeça em forma de agradecimento.
- Já temos data? - a mãe de Katy pergunta.
- Hum, pensei que poderíamos nos casar daqui duas semanas no máximo - Katy a responde animada.
- Duas semanas? - quase grito.
- Sim meu amor - ela passa a mão no meu rosto - logo minha barriga vai aparecer e não quero casar com um barrigão.
- Você está certa Katy meu amor. Não tem necessidade de casar com um barrigão - minha mãe palpita - vamos te ajudar a organizar o casamento mais lindo que essa cidade já viu né Tati?
- Claro - ela sorri.
Bebo uma taça de vinho de uma só vez em seguida mais três pra tentar digerir o fato de que irei me casar daqui há duas semanas.
Minha mãe e Katy parecem viver um sonho enquanto eu sinto que estou em um pesadelo.

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