59. KALEL

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Josephine estaciona o carro em frente a Kitnet de Alana e sinto um frio na espinha ao descer do carro e observar a janela de seu quarto. Uma luz está acesa mas algo me diz que tem algo de errado.
Me aproximo do portão rapidamente.
- Ei espera - Jô sussurra.
- Que foi? - abro o portão e olho as escadas escuras.
- Vai entrar e vai fazer o quê? A porta está trancada e ela deve estar dormindo - Jô se aproxima.
- Não sei, mas não vou ficar aqui no portão.
Abro cuidadosamente o portão sem fazer barulho para não acordar o dono da Kitnet que mora no andar de cima. Subo as escadas com todo o cuidado e Josephine me acompanha.
Chego a porta da sala e vejo a luz está acesa, tento olhar pelo vidro mas só consigo ver um vulto passando rápido. Encaro Josephine e percebo a expressão de pavor em seus olhos então minha ficha caí de imediato. Ela não está sozinha!
Sem pensar duas vezes chuto a porta com toda a minha força e nessa hora sinto gratidão por ela ser velha o suficiente pra ceder apenas com a força do meu chute.
- Alana? - grito.
Ela não responde mas ouço um forte estrondo vindo do banheiro, corro pra lá e quando estou prestes a entrar o dono da Kitnet tenta fechar a porta mas eu o impeço com meu corpo. Olho rapidamente ao redor e Alana está caída ao lado de vários cacos de vidro. A raiva me domina quando olho em direção ao filho da puta que fez isso com a minha menina. Sem pensar duas vezes avanço em cima dele e nós dois caímos no chão, não me importo se vou me cortar só quero matar esse maldito.
- Kalel? - Josephine grita - meu Deus o que.. - ela olha por toda parte tentando entender o que estava acontecendo - Alana? - ela observa minha menina quase desmaiada e corre até ela - O que aconteceu?
- Ele - ela aponta pro homem que está debaixo do meu corpo enquanto eu soco sua cara.
- Kalel você vai matar ele - Josephine grita.
- É exatamente isso que eu vou fazer, matar esse filho da puta - dou mais um soco em seu maxilar e ouço um estralo.
- Kalel não - ela segura meus ombros tentando me tirar de cima dele mas eu a empurro.
- Tira Alana daqui - eu ordeno - que merda você estava fazendo com ela seu imbecil? - grito enquanto dou mais socos em seu rosto.
- Você não pode matar ele Kalel, vamos chamar a polícia por favor.
Fico cego e surdo de tanta raiva que domina o corpo. Não ouço nada além dos ossos da cara desse animal sendo quebrados pelas minhas mãos. Elas também sangram mas não me importo, não vou parar enquanto eu não acabar com a vida dele.
- Kalel por favor ... - Alana praticamente sussurra - me leva daqui.
Ela implora e nesse momento sinto a aflição tomar meu corpo. Me levanto rapidamente e corro até ela.
Minha menina está pálida, suas roupas estão rasgadas, em seu pescoço, pernas, braços e rosto começam a se formar ematomas.
Em seu braço esquerdo posso ver o enorme corte e percebo que provavelmente ela não conseguia falar quando entrei e então quebrou o espelho pra chamar minha atenção. Tiro minha camisa e enrolo em seu braço para estancar o sangramento. Sinto um aperto no peito e logo a raiva volta a me dominar.
- Eu preciso matar esse filho da puta - me levanto e ando de um lado para o outro puxando os cabelos. O encaro por alguns segundos, me aproximo e chuto sua cara.
- Kalel - Josephine grita com o celular no ouvido - pelo amor de Deus para.
- O que você está fazendo? - a questiono.
- Chamando a ambulância - ela se senta ao lado de Alana que apoia seu corpo sob o dela - você deveria chamar a polícia - ela me alerta.
- Ou eu poderia matar ele.
- E ir preso? Não seja idiota e chame logo a polícia caralho.
Pego meu celular e disco pra polícia. Logo eles atendem eu explico até onde sei e eles avisam que já estão mandando viaturas até o local.
- Eles não tem ambulância - Josephine me alerta.
- O quê? Como assim não tem ambulância?
- Nenhuma disponível no momento.
- Mais que ... - respiro fundo e me aproximo de Alana - você vai ficar bem meu amor - acaricio o seu rosto - Leva ela pro hospital, pro melhor que tiver na região.
- Mas e você?
- Vou ficar aqui com esse filho da puta e depois encontro com você.
- Não vou deixar você sozinho com esse cara.
- Josephine por favor, eu tô tentando manter o resto de controle que me resta e a minha garota está sangrando. Já estou puto porque não vou poder levar ela pro hospital, então por favor faz o que estou te pedindo - eu a encaro com os dentes semi cerrados.
- Tá bom - ela concorda.
- Pega uma coberta no guarda roupa por favor e os documentos dela que ficam na gaveta da escrivaninha - aponto para o móvel.
Antes de pegar a minha garota confiro se o idiota ainda está desmaiado e fico aliviado em ver que ele não se mexe. Me abaixo e pego minha menina no colo que geme de dor. Meu corpo inteiro estremesse ao ouvir Alana choramingar. Ela passa os braços em volta do meu pescoço e deita a cabeça em meu peito. Josephine volta com a coberta e a joga por cima de Alana.
- Vem - eu a chamo dando mais uma conferida no cara estirado no chão do banheiro - Você vai ficar bem meu amor, eu prometo - digo ao pé do seu ouvido.
- E se ele tentar fugir? - ela o encara.
- Pra fugir vai ter que passar por mim - a encaro.
Josephine o analisa de cima embaixo, se aproxima e da um pisão em seus órgãos genitais e depois cospe em seu corpo.
- Seu escroto filho da puta. Espero que apodreça na cadeia.
- Josephine?
- Eu precisava fazer isso - ela me encara.
Desço as escadas com todo cuidado para não machucar mais Alana e Josephine vem logo atrás. Quando chego ao portão, dou espaço para que ela passe e abra a porta de trás do carro.
A coloco delicadamente no banco traseiro e dou um beijo demorado em sua testa. Sinto um nó se formar em minha garganta e lágrimas escorrem por meu rosto - Dirigi com cuidado tá bom - me afasto do carro, enxugo as lágrimas e encaro Josephine - me liga assim que chegar e ela for atendida. Quando terminar de resolver aqui eu vou me encontrar com você.
- Tá bom. Se cuida e não faz nenhuma besteira por favor - ela implora.
Eu faço que sim com a cabeça e volto correndo para a Kitnet.
O canalha ainda se encontra debilitado mas consciente.
- Você vai pagar pelo que fez - digo com o tom baixo e calmo - eu mesmo vou me certificar disso.
Ele não diz nada e tenta ficar sentado mas com bastante dificuldade.
Olho pela janela e percebo que o sol já está nascendo. De longe ouço o som da sirene e quando dou por mim a casa está cheia de policiais.
- O que houve aqui? - um deles pergunta analisando o local.
- Minha namorada mora aqui e esse - aponto para Humberto todo insanguentado - é o dono da casa. Quando cheguei ela estava com as roupas rasgadas e machucada. Ele tentou me impedir de entrar, mas eu consegui.
- Ela estava sozinha antes do senhor chegar?
- Sim. Minha irmã a trouxe pra casa a deixou dormindo e logo foi embora, mas esse doente entrou aqui enquanto ela dormia.
- E cadê a vítima?
- Nós ligamos pro pronto atendimento mas não tinham ambulância disponível no momento então pedi que minha irmã a levasse ao hospital.
- Você sabe pra qual hospital foram?
- Ainda não, ela disse que me ligaria assim que desse entrada.
- Certo - o policial olha novamente para o agressor - foi você quem fez isso com ele?
- Sim - respondo sem medo - eu perdi a cabeça quando encontrei ela toda cheia de sangue.
- Tudo bem, mas vou precisar que me acompanhe até a delegacia pra pegar o seu depoimento - ele me observa - por que tá sem camisa?
- Na hora do desespero eu a tirei e enrolei no braço dela pra tentar parar o sangramento.
- Certo - o policial observa novamente o local - Algema esse meliante - ele da a ordem pro seu parceiro.
Humberto é colocado em um carro e eu em outro.
Meu celular toca e vejo o nome de Jô aparecer na tela e atendo imediatamente.
- Oi Jô. Onde vocês estão?
- Estamos no hospital Luxemburgo.
- Como ela está?
- Está bem, acabaram de levar ela. Vai precisar dar uns pontos no braço e na mão. Expliquei a eles o que houve, ela vai fazer alguns exames, porque houve uma pancada na cabeça, havia um pequeno corte. Deve ficar no soro e observação.
Respiro fundo e solto lentamente tentando manter a calma - Ok. Estou indo pra delegacia prestar depoimento. Acredito que vão querer falar com você também, assim que eu for liberado vou pro hospital e eles devem me acompanhar. Ainda não sei.
- Tudo bem Kalel - ela suspira - fica calmo vai ficar tudo bem.
- Espero que sim.
- Te amo.
- Eu também amo você Josephine e obrigado por tudo.
- Não precisa agradecer, sou sua irmã nunca deixaria você na mão. Até daqui a pouco.
- Até.

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