MEU EU EM VOCÊ

68. KALEL

Enquanto ela dorme em meus braços só consigo imaginar o que seria de mim se ela não estivesse mais aqui. Eu realmente estaria perdido e sem rumo.
Acaricio seus longos cabelos negros e confiro a hora no meu celular. Já passam das 22h. Queria poder ficar, mas não acho que seja uma boa idéia, não agora.
Abro meu whatsapp e vejo algumas mensagens mais uma em questão me chama a atenção.
"Onde você está? Preciso muito falar com você é urgente. Estou indo até sua casa"
Analiso a mensagem de Katarina que foi me mandada as nove da noite e mil coisas se passam pela minha cabeça. O que ela quer comigo de tão urgente? Não nos falamos desde aquele final de semana desastroso e queria permanecer assim.
Não respondo a mensagem, bloqueio a tela do celular e ele vibra, outra mensagem.
"Você visualizou e não me respondeu. Kalel é muito sério o que tenho pra te falar, por favor vem pra sua casa. Já estou aqui."
"Ok"
É só o que consigo responder. Confiro minha menina novamente e ela dorme feito um anjo. Me mexo lentamente para sair debaixo dela sem que ela acorde e funciona.
Saio do quarto com todo o cuidado e fecho a porta. Desço as escadas e dou de cara com Marco na sala.
- Ela dormiu? - ele me pergunta com a voz carregada.
- Sim - o analiso - bom, eu vou indo nessa.
- Você fez alguma coisa com ela Kalel?
- An? eu? O que...
- Eu conheço a minha filha e ela não tem mais brilho no olhar - ele se levanta e caminha em minha direção.
- Eu fiz coisas idiotas, mas não é nada disso que está pensando e no momento certo ela vai te contar.
- Não, você vai me falar e agora - ele ameaça.
- Não é meu segredo é dela e vou permanecer com a minha promessa de respeitar a decisão dela. Ela tem seus motivos pra isso.
- Eu sou o pai dela, não acha que mereço saber o que acontece com a minha filha?
- Claro que merece, inclusive disse isso a ela, mas acontece que ela não está preparada pra isso, não agora.
- Se você tiver feito mau a ela, juro que acabo com você - ele ameaça com um tom baixo.
- Eu sei que acaba e não estaria errado por isso - dou um suspiro - agora preciso ir, boa noite.
Caminho em direção a saída sem nem olhar pra trás. Minha vontade era de abrir o jogo e contar logo o que houve mas Alana me odiaria por isso e agora não é o melhor momento para que ela me odeie.
Entro no carro dou a partida e vou pra casa o mais rápido que consigo.
Abro o portão principal e estaciono o carro na garagem. Desço e caminho em direção a porta de entrada quando sou abordado por Katarina.
- Que bom que você chegou - ela se joga em meus braços com os olhos vermelhos e o rosto inchado.

- Tá tudo bem? - a afasto - o que houve?
- Eu nem sei como te contar - ela apoia as mãos no rosto e começa a chorar.
- Me contar o quê? - retiro suas mãos a obrigando a me olhar.
- Como está a Alana? - ela muda de assunto.
- Está bem e desde quando você se importa com ela?
- Sua mãe me contou o que houve. Apesar de não parecer eu tenho sororidade sabia Kalel?
- Ok, desculpa - a encaro - mas me conta o que houve?
- Aqui não, no seu quarto.
- Não acho que seja uma boa idéia.
- Tudo bem, vamos ao menos nos sentar a beira da piscina então.
- Tá - é só o que consigo responder.
Não sei porque mas todo esse joguinho fez com que meu coração apertasse. As coisas entre mim e Alana não estão das melhores e sinto que vão piorar depois dessa conversa com Katarina.
Ela se ajeita em uma das cadeiras e eu logo ao seu lado porém um de frente para o outro.
- Pronto, agora pode falar já estou aflito.
- Eu estou grávida - ela joga a bomba sem nem ao menos preparar o terreno.
- De quem? - pergunto já com o coração saindo pela boca.
- Sério que está me perguntando de quem?
- Sim, nós não temos relações sexuais a praticamente um mês, pois tem basicamente isso que estou com a Alana e... - minha cabeça começa a trabalhar e a aflição toma conta de mim - você está grávida de quanto tempo Katarina?
- Um mês de gestação Kalel - ela responde séria.
- Não, você deve estar ficando doida - balanço a cabeça freneticamente - impossível, você tomava remédio Katarina.
- Mas eu esqueci e só me dei conta depois e também não pensei que engravidaria assim tão fácil.
- Você fez exame?
- Fiz o de sangue pra ter logo certeza. Minha menstruação atrasou, achei estranho e...
- Mas você continuou tomando o remédio certo?
- Não. Assim que você começou a me negar eu parei.
- Por que??? - quase grito.
- Ah, não sei - ela leva as mãos a cabeça e depois a sua bolsa - aqui está o resultado do exame.
Pego o papel e leio todas as informações que estão ali e tudo ao meu redor começa a girar.
- Isso não pode estar acontecendo - digo mais pra mim do que pra ela.
- Agora a gente vai ter que se casar.
- A gente não precisa se casar por causa de um filho Katarina.
- Você é louco? Meus pais vão me matar Kalel quando descobrirem que estou grávida e ainda serei mãe solteira.
- Estamos no século 21 Katarina.
- Bom, já que estamos no século 21 posso pagar pra tirar também.
- Não - grito - você está louca?
- Você não quer assumir Kalel.
- Eu disse que não vou assumir? Disse que não tem necessidade da gente se casar - respiro fundo - quem mais sabe dessa gravidez?
- Sua mãe, ela quem foi fazer o exame comigo.
- Droga! - paro por um segundo para assimilar toda aquela informação - eu vou ser pai - digo a mim mesmo - Caralho eu vou ser pai - quase grito.
- Sim, nós vamos - ela acaricia a barriga com um sorriso nos lábios - e quando vai contar pra Alana?
- Não posso contar agora, ela passou por muita coisa, não é justo jogar isso em cima dela agora.
- Mas e a gente Kalel?
- Eu vou assumir a criança e prometo nunca deixar faltar nada, mas me casar com você não é uma opção Katarina.
- Você só pode estar brincando.- Não estou e você sabe. Não pode me obrigar a casar com você por um filho.
- Ela não mas eu posso - minha mãe aparece - eu não criei filho pra engravidar garotinhas por aí e fugir da responsabilidade.
- Eu não estou fugindo só não quero me casar com ela.
- Kalel não te criei pra ter filhos fora do casamento - ela se aproxima - nossa família tem um nome a zelar, não quero que nosso sobrenome seja motivo de fofoca nas capas de jornais por seu deslize.
- Mãe, não somos a realeza isso não importa aqui no Brasil.
- Pra mim importa Kalel - ela quase grita - você vai terminar com aquela sua namoradinha e vai assumir a Katarina. Ela não merece passar por isso sozinha.
- Não vai, eu sou estar ao lado dela.
- Alana também vai estar? - ela me desafia - quero ver quanto tempo dura depois que você tiver que passar mais tempo com a sua ex do que com a atual - seu tom vem carregado de arrogância - Venha Katarina, não vamos mais falar sobre isso hoje. É estressante pra você e para o bebê. Tenho certeza que o Kalel precisa colocar os pensamentos em ordem e cair na real - ela segura a mão de Katy - pode dormir aqui se quiser.
- Obrigada tia - ela sorri - se não for por mim Kalel, faça pelo nosso filho. Ele merece ter os dois pais por perto.
As duas saem e me deixam sozinho com a cabeça a mil.
Como vou contar a Alana que minha ex está grávida?
E se eu contar sobre toda essa chantagem emocional tenho certeza que ela vai me deixar pensando no bem estar da criança.
Não posso lidar com isso agora, não posso perder minha menina não agora.
Respiro fundo e entro pra casa, passo sem nem olhar ao redor e vou direto ao meu quarto.
Me deito na cama e o sono não vem, só consigo pensar no que fazer e nada parece ter uma saída.
Pego meu celular e mando mensagem pra Katarina.
" Eu vou contar a Alana, por favor não conte antes de mim"
" Tudo bem, mas não demore. A barriga logo vai aparecer e meus pais precisam saber."
" Ok"
Bloqueio a tela do celular e sigo olhando para o teto com um turbilhão de sentimentos dentro de mim.