Saio do quarto, passo pelo corredor e quando chego até a sala me deparo com minha mãe sentada no sofá com as pernas cruzadas, um seus cotovelos apoiados no joelho e a mão escorando o rosto. Ela parece estar pensativa e ao mesmo tempo irritada pois bate a ponta do pé rapidamente no chão de madeira.
Me aproximo silenciosamente pensando se devo iniciar a conversa ou deixar que ela comece. Mal termino de pensar e a resposta aparece.
- Pensei que estivesse na casa do Rick - ela nem se dá ao trabalho de me olhar.
- Mudança de percurso - me aproximo - como entrou aqui?
- Eu te dei esse chalé, acha mesmo que não teria uma chave reserva?
- Claro que teria - digo mais pra mim do que pra ela - Mas por que veio exatamente aqui? Como sabia que eu estaria aqui?
- Eu ouvi você falar com aquela garota no telefone - ela se levanta e vem até mim - ouvi você dizer que queria passar uns dias aqui com ela. Sou alguma piada pra você Kalel?
- Ela é minha namorada, esse é meu chalé e trago quem eu quiser.
- Não é bem assim que as coisas funcionam garoto.
- Amor - Alana aparece secando os cabelos e para no momento em que percebe a visita inesperada.
- Aí está você - minha mãe se vira pra Alana - por um acaso agora é uma sem teto pra ficar aqui noites e mais noites com o meu filho?
- E..eu.. - ela parece perder a voz.
- Ela não é sem teto mãe eu a chamei e ela veio.
- Vocês tem quanto tempo de namoro, uma semana? Na minha época só dormíamos fora de casa após nos casar.
- Não estamos mais na sua época mãe - me aproximo de Alana - e além do mais você não pensava assim quando Katarina dormia comigo - Alana me encara e logo me arrependo das palavras ditas.
- Ela não precisa do seu dinheiro Kalel, nunca precisou. É uma garota de família conceituada, diferente dessa aí - ela encara Alana por cima dos ombros.
- Eu não preciso do seu dinheiro - Alana caminha em direção a minha mãe e eu a seguro - tenho emprego e um lugar pra morar.
- Não parece porque está aqui vivendo as custas do meu filho - ela responde de forma arrogante.
- Não fala o que você não sabe - eu a aviso - eu a trouxe pra cá, pedi que viesse ficar comigo.
- Porque você é um tolo - ela anda de um lado para o outro - quantas vezes Kalel, vamos ter que te provar que essas garotas só pensam na grana que você tem a oferecer? - ela para e nos encara - Olha pra ela, olha como se veste, esse piercing na cara.
- Chega! - me aproximo da minha mãe - você não vai falar dela assim, não na minha frente.
- Você é muito inocente Kalel - ela abre um sorriso maldoso - eu quero essa garota fora daqui agora!
- Ela vai embora quando quiser.
- Você não tem pai ou mãe? Claro que não, devem ser uns drogados - ela revira os olhos.
- Não fala dos meus pais! - Alana grita e ameaça partir pra cima da minha mãe mas eu a impeço - Você não me conhece e nem meus pais, então guarde o seu veneno e engasgue com ele.
- Vai deixar ela falar assim com a sua mãe Kalel?
- Você quem começou - eu a encaro e coloco Alana atrás de mim como forma de protegê-la - Vai embora por favor.
- Eu não vou embora, ela vai - ela aponta pra Alana.
- Quer saber - Alana se desvencilha de mim - ela está certa. Se tem alguém que precisa sair, esse alguém sou eu. Aqui não é minha casa e não preciso passar por essa humilhação.
- Alana, aqui é meu você pode ficar - eu imploro.
- Não Kalel! - uma lágrima desce em seu rosto e sinto meu coração apertar - Vou pegar minhas coisas.
- Deixa pelo menos eu levar você - me apresso em dizer.
- Acho que você precisa se resolver com a sua mãe - ela volta pro quarto e tranca a porta antes que eu pudesse impedir.
- Tá feliz? - grito enquanto volto pra sala.
- Só vou ficar feliz quando largar essa menina.
- Isso não vai acontecer.
- É o que veremos Kalel.
- Está me ameaçando mãe?
- Entenda como quiser - ela volta a se sentar no sofá.
A ignoro totalmente e volto para o quarto que continua trancado. Posso ouvir os soluços da minha garota atraves da porta.
- Alana abre por favor...
Eu imploro mas não obtenho resposta. Estou ficando angustiado, meu peito aperta a cada soluço que ouço vindos lá de dentro. Quero arrombar essa porta pra poder abraçar minha garota e dizer que vai ficar tudo bem e que minha mãe é uma idiota. Me afasto um pouco da porta e me lanço contra ela numa tentativa falha de abri-la.
- Para com isso - a voz do outro lado grita.
- Se não abrir vou tentar de novo e de novo até conseguir - me afasto novamente, mas antes que eu possa me jogar contra a porta ela a abre - você está bem? - me aproximo.
- Eu não aguento mais isso Kalel - ela cobre o rosto pra abafar o choro.
- Não deixa ela fazer isso com a gente - eu a envolvo em meus braços.
- Não quero que você duvide da minha índole. Eu não preciso do seu dinheiro - ela diz rápido de mais.
- Eu sei meu amor, eu sei.
- Já arrumei minhas coisas, vou hoje mesmo pra kitnet - ela se afasta e passa a manga do moletom pelo rosto vermelho.
- A gente pode ficar, eu peço pra ela ir embora...
- Não, eu vou - ela pega suas coisas.
- Eu levo você - a seguro pelo braço.
- Não precisa, já chamei um Uber - ela evita me olhar - espero que se resolva com sua mãe.
- O que isso quer dizer? Você está terminando comigo? - meus olhos ardem e não consigo controlar quando uma lágrima escorre.
- A gente pode conversar depois - ela desvia o olhar e vai em direção a porta.
- Não Alana - apareço antes que ela saia e bato a porta a trancando - você não pode fazer isso comigo, não agora.
- Não estou terminando, só acho que precisamos de espaço agora.
- Não quero espaço nenhum, só quero estar com você.
- Eu também, mas a sensação que tenho é que nunca vai dar certo.
- Não diz isso - me aproximo e seguro seu rosto - eu te amo de mais, até mais que minha própria vida não sei mais viver sem você.
- Não faz isso por favor... - ela ameaça chorar.
- O quê? Falar sobre o que eu sinto? Desculpa mas não dá.
- Preciso ir - ela se vira e tenta abrir a porta mas eu a impeço novamente.
- Eu vou levar você.
- Não por favor, sua mãe pode nos seguir e não quero que ela saiba onde moro pra ir me humilhar de novo.
- Eu jamais permitiria isso meu amor.
- Mesmo assim, não quero pagar pra ver.
- Tudo bem - concordo me afastando da porta - mas quando chegar me avisa por favor?
- Tudo bem - ela tenta sorrir e se aproxima de mim - eu te amo.
Ela saí do quarto e o vazio me invade, me sinto incompleto sem ela. Não deveria permitir que ela fosse sem mim mas também não poderia dar a minha mãe a oportunidade de nos seguir.
Me sento na cama tentando processar tudo o que acabou de acontecer mas a dor no meu peito não me deixa pensar com clareza.
- Filho? - minha mãe se aproxima com cuidado - você está bem?
- Como acha que estou? - grito e a encaro com raiva.
- Você ainda vai me agradecer por tudo isso.
- Não, eu não vou!
Me levanto, pego minhas coisas e passo o mais rápido que posso por ela evitando qualquer contato visual.
Eu odiava tudo aquilo, odiava amar tanto Alana e ainda sim permitir que coisas assim a machucassem. Odiava o fato da minha família ter essa tradição idiota de que só podemos nos envolver com pessoas do nosso meio. Odiava ainda mais que tudo isso esteja acontecendo logo comigo.
Entro no carro e dou a partida, não sei exatamente pra onde vou mas não vou pra casa.
Rodo por quase uma hora sem destino até que decido ligar pra Alana que atende no terceiro toque.
- Oi - sua voz parece sonolenta.
- Por que não me ligou?
- Eu liguei, várias e várias vezes, mas você não atendeu então desisti. Pensei que não quisesse falar comigo...
Tiro o celular do ouvido e mexo nos registros de chamada. Ela realmente me ligou mas estava atordoado de mais para perceber essa droga chamar.
- Desculpa eu...
- Aonde você está?
- Rodando a quase uma hora por aí...
- Como assim?
- Não sei pra onde ir. Não quero ir pra casa e nem voltar pro chalé. Talvez eu vá a algum hotel, não sei.
- Vem pra cá - sua voz parece insegura.
- Melhor não.
- Por favor vem, não quero ficar aqui sozinha.
- Tem certeza?
- Tenho - ela responde de forma firme.
- Ok, me manda sua localização.
- Tá, tchau.
Ela encerra a chama e confiro sua localização. Estou há exatos trinta minutos de sua casa.
Faço todo o trajeto totalmente concentrado em um único objetivo ver a minha garota. Ignoro todas as buzinas quando ultrapasso os outros carros da via de forma um tanto quanto imprudente mas não me importo.
Chego até a Kitnet e subo até o andar onde Alana está morando.
Bato na porta e aguardo, me sinto impaciente e bato novamente e logo ela aparece. Seu rosto está inchado e vermelho de tanto chorar, sinto uma forte dor no peito ao vê-la dessa forma. Não penso duas vezes quando a puxo para junto de mim.
Ela não resiste, parece não ter forças pra isso então a envolvo mais.
Ainda abraçado com ela a puxo para dentro, fecho a porta com os pés e estico o braço para tranca-la sem me afastar dela.
- Ei - seguro seu rosto - olha pra mim - ela me encara - não fica assim por favor.
- A gente nunca vai ser feliz juntos.
- O quê? - me afasto - é claro que vamos!
- Não vamos, não dá pra enfrentar seus pais Kalel.
- Da sim. Eu vou conversar com eles, nem que eu tenha que abrir mão de tudo só pra ficar com você.
- Como assim Kalel? - ela encara.
- Nada de mais - desvio o olhar.
- Não mente pra mim - ela diz de forma firme - o que quis dizer com abrir mão de tudo?
- Não quero falar sobre isso.
- Kalel...
- Se eu não ficar com a Katarina eles praticamente vão me expulsar da família. Provavelmente meu pai vai me mandar embora do emprego, de casa, parar de pagar minha faculdade, tirar meu carro, enfim..
- Meu Deus - ela se afasta.
- Mas não me importo, se for pra ficar com você eu abro mão de tudo - tento me aproximar.
- Não! - ela grita e se afasta - você não pode fazer isso por mim.
- Por que não? Eu amo você, estou disposto a abrir mão de tudo isso desde que ...
- Não - ela balança a cabeça freneticamente - isso é de mais pra mim. A gente precisa parar por aqui...
- Não - é a única coisa que consigo falar agora.
- Você não pode fazer isso, é a sua vida, seu futuro..
- Se não for com você não faz sentido - Me aproximo dela que se recusa a ficar perto mas consigo abraça-la. No início ela resiste mas acaba cedendo
- Eu te amo Alana não me peça pra desistir de nós porque não vou.
A prendo contra a parede e beijo seus lábios de forma calorosa. Sei que não é o jeito certo de resolver isso agora, mas preciso senti-la. Preciso saber que ela não vai desistir de nós.
Seu corpo estremesse ao meu toque enquanto ela segura meus cabelos e os puxa para trás demonstrando todo o seu prazer apenas com meu corpo colado no seu.
- Kalel - ela geme - não faz isso.
Ela implora mas eu a ignoro e beijo seu pescoço fazendo com que ela volte a gemer.
- Você não quer que eu te foda?
- Eu quero - sua voz saí como um sussurro - mas não é assim que resolvemos as coisas.
- Não precisamos resolver - aperto sua bunda - já estamos resolvidos - aperto sua cintura - eu te amo e você me ama. Isso basta - aperto seus seios.
- Por favor Kalel - ela me empurra - não quero juras de amor no auge do tesão que não poderão ser cumpridas.
- Eu já disse que largo tudo por você, mas você parece não entender - passo a mão pelos cabelos.
- Só não quero que se arrependa..
- De estar com o amor da minha vida? - me aproximo - Não vou!
- Estou cansada, minha cabeça dói. Será que podemos falar disso amanhã? Preciso processar algumas coisas é muita informação.
- Tudo bem - dou um suspiro derrotado - posso ao menos dormir com você ou prefere que eu fique no sofá?
- Pode dormir comigo.
Ela caminha em direção a cama e eu a sigo. Nos deitamos de conchinha. Demoro a cair no sono e quando vou conferir vejo que minha menina já está dormindo. Eu a amo tanto que estou realmente disposto a tudo por essa garota mesmo que ela não queira eu irei lutar por nós.
VOCÊ ESTÁ LENDO
MEU EU EM VOCÊ
Roman d'amourAlana é uma menina do interior que acaba de se formar no ensino médio e logo vai começar a faculdade, pra isso ela e seu pai precisam se mudar para uma nova cidade com novos amigos e desafios. O que ela não imaginava é que nesse novo colégio ela enc...